Manaus, 25 de abril de 2024
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Cenário

David gasta R$ 8,2 milhões em covas e joga dinheiro fora por apostar em mortes

Apesar de ter gasto mais de R$ 8 milhões, as covas já construídas estão inativas devido a queda no número de mortes pelo vírus

David gasta R$ 8,2 milhões em covas e joga dinheiro fora por apostar em mortes

Foto: Márcio Silva

MANAUS (AM) – Mesmo desembolsando R$ R$ 8,2 milhões dos cofres públicos para a construção de covas verticais no cemitério Nossa Senhora Aparecida, no bairro Tarumã, zona oeste de Manaus, o prefeito David Almeida não conseguiu entregar as 22 mil gavetas funerárias que tinham como objetivo sepultar as vítimas da covid-19. O gasto se torna ainda mais desnecessário tendo em vista que os lóculos, já construídos, estão inativos devido à queda no número de mortes pelo vírus.

Em janeiro, a capital amazonense vivenciou a segunda onda da pandemia e o aumento acelerado no número de casos e mortes pela doença, além da falta de oxigênio nos hospitais. A segunda onda já era alertada pelos especialistas desde 2020, antes mesmo de David assumir o Executivo municipal. Nesse momento, em vez de investir em prevenção, o prefeito de Manaus resolveu liberar dinheiro para abrir covas para enterrar os manauaras.

Leia mais: David Almeida compra R$ 10 milhões em covas verticais sem licitação

Contrato milionário

Durante a campanha eleitoral, David sustentou o discurso de que o combate à pandemia era sua prioridade. No entanto, decidiu, em março, dois meses após o caos na cidade, firmar o contrato milionário de R$ 10 milhões com a D OLIVEIRA DE SOUZA – EPP, que previa construir 22 mil gavetas funerárias. O prefeito chegou a visitar o local ao lado do secretário Sabá Reis. Nesta semana, nossa equipe esteve no cemitério e registrou as covas abandonadas – resultado do desperdício de dinheiro público.

Foto: Marcio Silva

O contrato foi firmado pela Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), com dispensa de licitação, ou seja, sem o procedimento licitatório que regulariza as compras públicas.

Mesmo a pasta sendo comandada pelo ex-deputado, Sabá Reis, o documento foi assinado pela diretora do setor de Divisão de Administração e Finanças, Simone Miranda Moreira, e por Altervi de Souza Moreira, que é subsecretário de gestão da Semulsp.

De acordo com o Portal da Transparência da Prefeitura de Manaus, a primeira parcela foi quitada em abril, na quantia de R$ 4,7 milhões. A parcela seguinte, R$ 3,5 milhões, paga em maio, e a última parcela, paga neste mês, foi de R$ 2,1 milhões.

Sem utilidade

Três meses após assinatura do contrato, aproximadamente R$ 8.297.070,64 já foram pagos à empresa; diferença é de R$ 2.697.231,45, quantia que deve ser repassada no próximo mês, antes do contrato encerrar, no dia 30 de julho, se não for prorrogado.

No entanto, apesar de todo o recurso desembolsado por David, apenas 336 já foram construídas, porém, nenhuma está sendo utilizada conforme informou a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp).

Para o advogado e especialista em direito administrativo, João Tayah, o gasto não possui utilidade pública, uma vez que não possui finalidade para a população.

Foto: Marcio Silva

“Se não há utilidade pública e interesse público não há necessidade que se gaste recursos públicos para aquisição de qualquer serviço. Principalmente, em casos que não é seguido o procedimento licitatório com dispensa de licitação, baseado em uma suposta emergência.  Neste caso, não há prova maior de que é uma compra desnecessária do que o fato de o serviço sequer está sendo utilizado pela sociedade”, explicou.

Às vésperas do contrato encerrar, Manaus registra uma média de 3 a 5 óbitos pela doença por dia. Na última sexta-feira (9), de 33 sepultamentos ocorridos nos 10 cemitérios da capital, apenas dois foram por covid-19. No último boletim epidemiológico divulgado pela FVS, Manaus registrou apenas dois óbitos pela doença. Os dados evidenciam ainda mais a falta de utilidade dos gastos de David.

Questionada sobre o que será feito com as covas vazias e o motivo pelo qual o valor da construção foi acima da média, a Semulsp justificou que:

“A Prefeitura de Manaus informa que, desde o primeiro dia da gestão do prefeito David Almeida, o Executivo municipal vem adotando todas as medidas necessárias para que não se repitam as cenas onde corpos foram enterrados em valas coletivas, ou de trincheiras. O prefeito David Almeida preza, sobretudo, pela dignidade e o respeito às famílias, em especial nesse momento de pandemia. Em pouco mais de seis meses da nova gestão, as secretarias municipais de Infraestrutura (Seminf) e de Limpeza Urbana (Semulsp) realizam trabalhos de reparo, asfaltamento, pintura e limpeza nos cemitérios de Manaus, além de substituição da troca de toda iluminação pública dos principais campos santos da cidade. 

Sabá Reis
Foto: Valdo Leão/Semcom

Há de se ressaltar que em todo município de Manaus, existem 10 cemitérios (oito públicos e dois privados), sendo o cemitério Nossa Senhora Aparecida, no Tarumã, zona Oeste, o maior deles. Além de possuir ainda uma área para construção de novas covas, o Tarumã, como é popularmente conhecido, tem capacidade para a construção de 22 mil lóculos (gavetas), sendo 336 já disponíveis, porém nenhum ainda foi usado. Mas, devido a demanda, em breve serão usados. Há de se destacar ainda que está sendo formalizado o processo para a instalação de novos lóculos.

Ressaltamos ainda que os lóculos não foram imantados exclusivamente para atendimento às vítimas de COVID, e sim, para todo tipo de sepultamento”.

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