Manaus, 2 de maio de 2024
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Manaus, 2 de maio de 2024

Economia

Desempregados com mais de 50 anos travam batalha para voltar ao mercado de trabalho no AM

De acordo com o IBGE, entre o fim de 2019 até o fim de 2020, mais de 400 mil brasileiros, a partir dos 50 anos, estavam desempregados

Desempregados com mais de 50 anos travam batalha para voltar ao mercado de trabalho no AM

Manaus – A crise provocada pela pandemia da covid-19 aumentou o número de desempregados na classe de trabalhadores com 50 anos ou mais no Brasil. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse aumento foi maior em 2020 e atingiu seu nível mais alto, desde 2012.

O percentual registrado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) ultrapassou 7%, em um ano. Entre o fim de 2019, até o fim de 2020, mais de 400 mil brasileiros nessa faixa etária entraram na fila do desemprego.

Aqui em Manaus não tem sido diferente. O agente de portaria, Mário Jorge Batista Rodrigues, de 59 anos, contou que a situação econômica já estava difícil antes da pandemia, com a crise se tornou bem pior.

Ele está desempregado há um ano e meio e atribuiu a falta de oportunidades no mercado de trabalho à idade dele.

“Eu creio que é por causa da minha idade não há muitas vagas de emprego no mercado. Eu procuro, mas as empresas não querem mais contratar pessoas acima de 50 anos”, comentou Mário Jorge.

Ao Portal AM1, Mário contou que, enquanto não consegue um emprego na área de atuação, vai se “virando” como pode. Porém, ele ressalta que o ideal para ter melhor qualidade de vida é ter uma renda fixa.

“Eu faço uns ‘bicos’ (trabalhos informais) enquanto isso. Eu sei pintar casas, instalar forros e a há duas semanas estou ajudando um amigo a instalar câmeras de segurança em lojas e supermercados. Recebo R$ 60 na diária e já ajuda bastante, mas uma renda fixa ajudaria muito mais. Estou disposto a trabalhar com qualquer coisa, seja como: vigia, porteiro, agente de portaria ou serviços gerais”, comenta Jorge.

Mário se mantém firme e confiante por um emprego com renda fixa

Mário se mantém firme e confiante por um emprego com renda fixa

Contas atrasadas

Nesse período que está desempregado, Mário Jorge ficou com as contas atrasadas e a situação só não foi pior porque recebeu o Auxílio Emergencial no ano passado. Outra dificuldade apontada pelo agente de portaria foi quanto à entrega de currículos, que devido a pandemia da covid-19 só puderam ser feitos de forma on-line.

“O que tem sido mais difícil é não poder fazer os contatos pessoalmente. Agora tudo é on-line e tem que enviar currículo por e-mail. As vezes a pessoa olha a idade e não passa a olhar as características físicas. Ela acha que a pessoa é idosa demais e não vai aguentar o trabalho”, finaliza ele na esperança de ser contratado novamente.

Quem quiser pintar a casa ou colocar um forro nesse período, além de ajudar Mário Jorge, é só entrar em contato com ele por meio do telefone (92) 99484-3228.

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Quem também vem vivendo diariamente o drama do desemprego é dona Raimunda Ferreira da Silva Mesquita, de 54 anos. Com Ensino Médio Completo, ela tem experiências na área de Cozinha, mas não consegue uma oportunidade de emprego.

Viúva há pouco mais de um ano, ela contou que seu último emprego com carteira assinada foi em 2009. Depois montou um negócio próprio com a venda de café da manhã, mas como teve que cuidar de seu esposo na doença, acabou fechando o empreendimento.

Sem carteira assinada

“A última vez que trabalhei de carteira assinada foi em 2009. Quando saí da empresa, eu coloquei uma venda na minha casa de café da manhã e depois comecei a vender e fornecer comida para fora. Fiquei fazendo isso até 2017, mas as vendas caíram muito. Fiquei contando só com a renda do meu falecido esposo, que trabalhava de pedreiro, mas logo ele ficou doente de câncer e as coisas começaram a ficar mais difíceis”, contou ela.

Raimunda Mesquita tem experiência comprovada como auxiliar de serviços gerais e auxiliar de produção, além de cozinheira e auxiliar de cozinha. Ela já trabalhou por oito anos no ramo.

Ela também atribuiu a dificuldade de conseguir uma vaga de emprego por conta da idade e devido às qualificações exigidas para suas áreas de atuação.

“Acredito que não tenho sido escolhida pela empresas por conta da minha idade, e também porque hoje exigem mais qualificação em relação a cursos na área que já tenho experiência”, comentou ela.

Embora desempregada, Raimunda mantém às esperanças e o sorriso no rosto

Embora desempregada, Raimunda mantém às esperanças e o sorriso no rosto

Ela contou ainda que, embora more junto com sua irmã em uma casa deixada pelos pais, ela se sente “abrigada”. Ela só fica triste em não poder ajudar nas despesas por causa da falta de renda.

“Abrigada”

“Atualmente, eu estou morando na casa da minha irmã e somente ela está trabalhando. As vezes meus três filhos, dois que já são casados e têm suas famílias e o terceiro que mora com a avó paterna, me ajudam como podem. O mais ruim é não poder contribuir com as despesas em casa”, desabafou.

A cozinheira disse que não está recebendo nenhum tipo de benefício, o que poderia lhe ajudar nesse momento.

“Se ao menos tivesse conseguido receber um dos auxílios do governo estadual ou municipal, isso ajudaria e muito, mas não consegui. Atualmente, eu não estou recebendo nenhuma ajuda ou auxílio”, ressaltou Raimunda que mantém a fé em Deus. Ela acredita em dias melhores e que em breve conseguirá um emprego novamente.

Se alguém se interessar em ajudá-la pode entrar em contato pelo telefone (92) 98524-3916 e pelo e-mail [email protected]

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Análise

A especialista em carreiras, Ellen Castro, fez uma análise do panorama sobre o desemprego nessa faixa etária. Ela diz que o problema tem muito a ver com questões culturais do Brasil, que perpassam os tipos de gerações, questões de aposentadoria e muitos outros fatores.

“Essa temática, especialmente nessa faixa etária, envolve uma série de questões culturais; aposentadoria e tipos de gerações. A aposentadoria foi planejada para os que se organizaram profissionalmente desde cedo, porém foram surpreendidos com as mudanças legais, que de certa forma os afeta”, afirma a especialista.

Há ainda outros fatores que atinge essa camada da população. A questão de permanecerem muito tempo em empresas e vão galgando confiança e salários maiores e, quando vem uma demissão, eles são atingidos diretamente.

“As gerações conhecidas como baby boomers, também passam um período de tempo maior nas empresas e quando são desligados gera um grande impacto. Isso porque, normalmente, eles não são contratados pelos mesmos valores de salários e, mistura-se ainda, nesse grande caldeirão, a cultura do país, de limitar a contratação até a faixa de 30 anos, no máximo. Então, como sobreviver nesse cenário??”, indaga a especialista.

Para Ellen Castro, a qualificação profissional é a melhor forma de combater o desemprego, principalmente após os 50 anos. Ela destaca ainda que o domínio das novas tecnologias é a chave para “abrir portas” de emprego.

“A palavra competência sempre prevalecerá nessa jornada! Estar preparado, bem qualificado para sua área, faz toda diferença. Domínios das novas tecnologias é demandante, além de buscar o equilíbrio salarial na hora que for solicitada uma proposta. É necessário ainda manter um bom network (rede de contatos)”, destaca Castro.

 

 

Ellen Castro fez uma análise do cenário atual para os desempregados a partir dos 50 anos

Ellen Castro fez uma análise do cenário atual para os desempregados a partir dos 50 anos

Outro ponto que a especialista destaca é sobre o cuidado com a saúde física e mental para ter uma boa desenvoltura no mercado profissional, independentemente da idade.

“Cuidar do emocional e da saúde física são aspectos visíveis e grandes aliados na hora de uma empresa decidir, juntamente com os itens citados anteriormente”, comenta.

Outra análise é quanto o número de empresas que fazem as contratações de pessoas nessa faixa etária em Manaus. A especialista considera que ainda é muito baixa em relação a outras cidades brasileiras. Muitas pessoas precisam se reinventar e partem para o Empreendedorismo.

“Na atualidade, essa faixa etária tem sido muito atingida com as demissões e pouco relacionadas nas estatísticas de admissão nas empresas. Juntamente com os jovens inexperientes, essas pessoas compõem o grande número de novos empreendedores do país”, ressalta Ellen.

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Empreendedorismo

Segundo um estudo do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o Brasil atingiu em 2019, cerca de 23,3% de taxa de empreendedorismo inicial, e o segundo melhor patamar total de empreendedores (38,7% da população adulta, entre 18 e 64 anos) desde 2002. Este foi o primeiro ano da série histórica desta variável, mostrando que mais de 53 milhões de brasileiros estão à frente de alguma atividade empreendedora ou se fortalecendo no mercado com seus empreendimentos já criados.

Perfil

Ellen Castro é profissional da área de Gestão de Pessoas, especialista em Gestão de Negócios e Educação Profissional. Atualmente atua na área de consultoria de gestão. É diretora de Educação Profissional do Senac Amazonas e graduanda em Pedagogia.