Manaus, 29 de março de 2024
×
Manaus, 29 de março de 2024

Cenário

Direita no AM caminha em lados opostos enquanto briga por Bolsonaro

A falta de união da direita do Amazonas junto à 'vaidade' de movimentos é um dos principais fatores de fragilidade da direita amazonense, apontam especialistas

Direita no AM caminha em lados opostos enquanto briga por Bolsonaro

Foto: Reprodução

MANAUS, AM – Apesar de defenderem as mesmas bandeiras, políticos e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ainda caminham em lados opostos. Um exemplo disso foram as eleições para prefeito de Manaus em 2020, em que quatro candidatos de direita disputaram o cargo entre eles.

Nessa semana, os ex-candidatos a prefeito de Manaus em 2020, Coronel Menezes e Romero Reis, protagonizaram uma “briga” nas redes sociais pela paternidade da motociata a favor do presidente Bolsonaro no dia 7 de setembro. O evento deve ocorrer em todo o Brasil, mas, em Manaus, foi confirmado em dois locais, cada qual com o seu “dono”.

Leia mais: Menezes e Romero brigam por local da motociata no dia 7 de setembro

Foto: Reprodução

A motociata promovida por Coronel Menezes será realizada na Praça do Congresso, no Centro, e está marcada para iniciar às 15h. Vale ressaltar que evento recebe o apoio dos principais movimentos de direta da capital amazonense, uma vez que Menezes é o braço direito de Bolsonaro no Amazonas.

Sendo um dos principais nomes de apoio do presidente Bolsonaro, Coronel Menezes foi surpreendido com outra motociata marcada para o mesmo dia. O político e empresário Romero Reis convocou os seguidores para participar do evento, porém, na Ponta Negra, zona Oeste.

Leia mais: Bolsonaro: ‘atos de 7 de setembro serão sobre democracia e liberdade’

Foto: Reprodução

A coincidência é que os dois eventos estão marcados para acontecer no mesmo horário, às 15h, o que acabou deixando alguns apoiadores confusos sobre o ato, que segundo Bolsonaro, será a favor da democracia e da liberdade.

Nas redes sociais, os internautas questionaram os políticos sobre o motivo de fazer dois eventos, e ressaltaram que as manifestações abordariam o mesmo assunto: o apoio ao presidente Bolsonaro.

Foto: Reprodução

Para o líder do movimento Conservador Amazonas, Sérgio Kruke, que apoia o evento de Menezes, a realização do ato de Romero Reis tem como objetivo dividir o eleitorado amazonense; ele ainda apontou um “gabinete do ódio”.

“Eles estão fazendo esse ato na Ponta Negra para dividir o povo, é a coalizão de políticos que querem derrubar o Coronel Menezes, formada por Alberto Neto, Péricles Nascimento, Carpe, Chico Preto, Romero Reis entre outros. E nós não compactuamos com isso. Esse evento é pelo Brasil e não para ser usado como palanque eleitoral”, destacou Kruke.

Apesar de ter dois eventos com as mesmas propostas, Menezes afirmou que o Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb) não autorizou a realização do ato na Ponta Negra. Porém, a informação foi desmentida por Romero nas redes sociais, com um vídeo do diretor-presidente do Implurb, Carlos Valente, afirmando que o evento no local deve ser realizado, desde que os participantes cumpram com as medidas de segurança para evitar a propagação da covid-19.

Leia mais: Sinésio e Tony ‘tomam as dores’ de Lula e Bolsonaro na Aleam

Não satisfeito, Menezes defendeu que o evento no Centro de Manaus é mais viável, por ser uma área central e de fácil acesso. “No Centro, muitos populares poderão ir. Na Ponta Negra, não. O acesso é mais difícil”, pontuou.

Sem querer criar confusão, Romero ainda destacou que a manifestação será “uma festa linda” e familiar. “Vamos mostrar força à liberdade, aos caminhos que levaram o Brasil a estar sempre como uma das melhores nações para se viver e trabalhar”, disse.

Neste sábado (28), Coronel Menezes realiza uma motociata no município de Manacapuru, distante 100 quilômetros de Manaus, a favor do presidente Bolsonaro. O evento vai ocorrer a partir das 15h e pretende tomar as ruas do município.

Foto: Reprodução

Disputa por visibilidade

Nas eleições de 2020, o questionamento que ficou para o eleitor era: quem o presidente Jair Bolsonaro iria apoiar na campanha? Isso porque os candidatos Coronel Menezes e Capitão Alberto Neto destacavam que eram bolsonaristas, sendo assim, representariam pautas ligadas ao pensamento desse grupo.

No entanto, o presidente se adiantou e confirmou apoio ao Coronel Menezes, que passou a ressaltar que era o único candidato a ter apoio do governo federal. Outros candidatos como Chico Preto e Romero Reis ficaram de fora dessa bolha, mas não escondiam o apoio ao presidente.

Porém, caso Coronel Menezes e Alberto Neto tivessem formado uma aliança para concorrer às eleições, o número de votos que ambos receberam conseguiria ultrapassar o terceiro colocado, o candidato José Ricardo.

Menezes terminou as eleições na 5ª posição com 110.805 votos válidos, e Alberto Neto ficou na 6ª posição e recebeu 76.576 votos. Se estivessem juntos, ambos somariam 187.381 votos válidos, contra 139.846 votos do candidato José Ricardo.

Leia mais: Rodrigo Guedes desafia David Almeida: ‘Seja homem!’

Foto: Reprodução

Além disso, a campanha de ambos ainda poderia conquistar mais eleitores, podendo chegar ao segundo turno e mudando o cenário político de Manaus. Vale lembrar que, ao todo, foram 125.953 votos brancos e nulos e 242.787 abstenções.

Chico Preto e Romero Reis também poderiam ter se unido na campanha eleitoral. Romero ficou na 8ª posição, com 29.102 votos, e Chico Preto apareceu na 9ª posição, somando 16.141 votos. Caso tivessem formado uma aliança, ambos somariam 45.243 votos válido, e alcançariam os cinco primeiros lugares.

Mesmo se as alianças fossem invertidas, os políticos ainda conseguiriam alcançar posições maiores. Porém, a divisão acabou elegendo um candidato que se mostrava do centro, e deixou de lado a direita no cenário político manauara.

Briga de vaidades

Segundo o cientista político Helso do Carmo, os políticos do Amazonas são individualistas, tanto da direita, quanto da esquerda. Ele explica que, mesmo que defendam as mesmas causas, ainda estão longe de propor uma união com outros parlamentares, pois estão interessados na própria campanha eleitoral.

“Isso que dificulta quando se tem candidatos majoritários, eles se uniram. Porque cada um, em si, mas gostariam de apoio. Porém, mesmo assim querem ficar na cabeça da chapa”, explicou o cientista político.

Desde as eleições de 2018, por exemplo, o cientista apontou que o Amazonas foi atingido por um “tsunami bolsonarista”, em que uma gama de políticos usa as ideologias do presidente Bolsonaro para tentar se eleger. Ele afirmou, ainda, que esse movimento por parte dos parlamentares acaba dividindo o eleitor.

Leia mais: Reforma eleitoral prevê cinco anos de quarentena a policiais, juízes e promotores

Para ele, a representação política do Amazonas é de direita, mas isso não significa que seja bolsonarista. Essa divisão entre pessoas com os mesmos ideais acaba elegendo políticos da velha política e que já carregam muitos mandatos na carreira.

“Muitas vezes, essas pessoas querem o apoio dos demais, mas não querem apoiar. E criam essa briga de ‘irmãos’ e, acima de tudo, uma briga de vaidades”, comentou. O cientista ainda afirmou que atualmente os candidatos não são unidos, mas que em eleições futuras possam formar alianças, dependendo do cenário político.

Herança do coronelismo

De acordo com o cientista político Fancinézio Amaral, a divisão entre partidos que defendem as mesmas bandeiras é comum na política brasileira, especialmente entre partidos de extrema direita. Ele destacou que essa característica é herança do coronelismo “que necessita ter uma figura que centralize o poder e determine as ações”.

O cientista explicou que o Amazonas ainda possui fortes políticos que acumulam mandatos, esses identificados como “coronéis de barranco”, os quais fazem um revezamento na ocupação dos cargos políticos, com isso, os candidatos de extrema direita são deixados de lado nas eleições.

“Essa mesma direita não conseguiu formar quadros com peso político suficiente para substituir tais ‘coronéis’ e nem com capacidades para apresentar um projeto político concreto capaz de resolver os problemas estruturais do estado e da capital”, disse.

Leia mais: Aleam gasta de uma só vez mais de R$ 2 milhões em contratos prorrogados

Amaral ainda afirmou que a divisão entre a extrema direita do Amazonas mostra uma fragilidade interna para ver “quem é o dono da ‘coisa’”, o que, para os políticos, seria mais importante do que elaborar projetos para a sociedade.

“Esse impacto é mais evidente do que uma certa confusão do eleitorado e sim, evidencia as fraquezas organizativas da direita amazonense, especialmente porque fica claro que não existe um projeto político para resolver as demandas da sociedade e sim projetos de poder de determinados grupos que buscam manter e aumentar seus privilégios”, destacou.

Para ele, o Amazonas não possui uma figura do “chefe” da extrema direita e o cargo ainda está sendo disputado por políticos amazonenses, como Coronel Menezes, Romeiro Reis, Chico Preto e Capitão Alberto Neto.

Acompanhe em tempo real por meio das nossas redes sociais: Facebook, Instagram e Twitter.