Manaus, 26 de abril de 2024
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Cenário

Empresa criada há apenas dois meses ganha preferência de contrato milionário em Maués

Donos da empresa são parentes de João Bosco Bendahan Sarraff de Resende, ex-policial civil apontado como integrante da suposta organização criminosa liderada pelo ex-deputado estadual, já falecido, Wallace Souza

Empresa criada há apenas dois meses ganha preferência de contrato milionário em Maués

Prefeito de Maués, Júnior Leite (PSD). Foto: Reprodução

Maués, AM – O prefeito de Maués, Júnior Leite, pretende fechar um contrato milionário com a empresa M R Conservação e Limpeza Ltda, cujo donos são Moisés Bendahan Sarraff Resende e Ana Maria Paiva Chaves Bendahan Sarraff de Resende. Moisés é filho de João Bosco Bendahan Sarraff de Resende, ex-policial civil apontado como integrante da suposta organização criminosa possivelmente liderada pelo ex-deputado estadual, o já falecido Wallace Souza.

Além disso, chama atenção também que a firma a ser contratada foi criada há menos de dois meses, em junho de 2021.

O eventual contrato com a empresa terá custo de R$ 2,9 milhões e visa à aquisição de materiais de informática. Além dela, o prefeito Júnior Leite pretende contratar, ainda, outras duas empresas: a P E G – COMERCIO E SERVICOS DE INFORMATICA LTDA, por R$ 1,9 milhão, e a M E DOS S GOMES – ME, pelo valor de R$ 897 mil.

O documento publicado no Diário Oficial dos Municípios na última quarta-feira (25) trata-se de um despacho de homologação, portanto, ainda não é o contrato oficial. Mas deixa engatilhada a aquisição que soma R$ 5.822.430,00.

A empresa que receberá o maior valor é justamente a M R Conservação e Limpeza Ltda, que pertence à família Resende, no Amazonas. João Bosco Bendahan Sarraff de Resende é pai de Moisés e atuou como facilitador para a família Souza se tornando alvo das investigações em torno do ‘Caso Wallace’.

‘Caso Wallace’

Em 2009, os irmãos Carlos e Fausto Souza foram denunciados pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM), a partir de denúncias do ex-policial militar Moacir Jorge Pessoa da Costa, o ‘Moa’. Na ocasião, Moa trabalhava como segurança do ex-deputado estadual Wallace Souza, falecido em 2010.

Foto: Divulgação

De acordo com as investigações, Carlos, Fausto e Wallace usavam a influência de parlamentares para facilitar o tráfico de drogas e eliminar desafetos, com o apoio do coronel Felipe Arce Rio Branco, então chefe da Divisão de Inteligência da Polícia Militar do Amazonas (PMAM). Já João Bosco Resende foi apontado como informante e facilitador de Wallace, passando informações privilegiadas de dentro do sistema policial.

Em 2010, Felipe Arce Rio Branco e João Bosco Resende foram condenados a detenção no regime aberto.

Já em 2019, a Justiça do Amazonas condenou Carlos e Fausto a 15 anos de prisão pelo crime de associação para o tráfico. Na ocasião, João Bosco Sarraf, e outros três envolvidos que faziam parte da equipe do Canal Livre ou trabalhavam para a família, foram absolvidos.

Leia mais: TJAM absolve Carlos e Fausto Souza do crime de associação para o tráfico

Empresa recém-criada

Além do histórico polêmico da família, chamou atenção, também, que a empresa foi criada em junho deste ano, ou seja, possui menos de dois meses de funcionamento e já ganhou uma licitação milionária na administração pública.

A firma está inscrita no CNPJ nº 42.403.306/0001-39 e, após consulta no site da Receita Federal, a reportagem do Portal Amazonas1 constatou que o estabelecimento sequer possui especialidade no comércio de materiais de informática, mas sim em serviços de “limpeza em prédios e em domicílios”.

A atividade que será contratada pelo prefeito de Maués só vem a aparecer entre os 39 trabalhos secundários que a empresa realiza. Atendendo pelo nome fantasia MBS EMPREENDIMENTO, a firma fica localizada no bairro Novo Aleixo, em Manaus, e possui capital social de R$ 500 mil.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Maués afirmou que ainda não adquiriu nenhum equipamento de informática, uma vez que o documento trata-se de um registro de preços dos materiais. Os eletrônicos, segundo a prefeitura, devem atender aos departamentos administrativos das 10 secretarias municipais.

Sobre a empresa vencedora da licitação, a prefeitura se limitou a dizer que a firma “apresentou todos os documentos solicitados pela comissão de licitação”.

Leia a resposta na íntegra

Em resposta aos questionamentos:

1. Não houve aquisição de nenhum equipamento, foi feito um registro de preços dos equipamentos para na necessidade fazer a aquisição.

2. O município de Maués é o sexto do Estado, possui 10 secretarias e 3 autarquias que por sua vez possuem departamentos administrativos.

3. A modalidade de registro de preços não obriga o município a fazer aquisição total.

4. e 5. A contratação de empresas para o fornecimento de materiais/equipamentos ou serviços para Prefeitura passam por um processo de habilitação  e a referida empresa apresentou todos os documentos solicitados pela comissão de licitação.

Sem mais, estamos à inteira disposição.

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