Manaus, 27 de abril de 2024
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Cenário

Esposa acusa vereador de Tabatinga de agressão e ameaça: ‘Tenho medo’

A esposa do vereador Paulo Bardales, que é presidente da Câmara Municipal de Tabatinga, pediu uma medida protetiva contra o parlamentar alegando vários episódios de agressões e ameaças.

Esposa acusa vereador de Tabatinga de agressão e ameaça: ‘Tenho medo’

(Foto: Divulgação/Facebook)

Tabatinga (AM) – O presidente da Câmara de Vereadores de Tabatinga, o vereador Paulo Bardales, está sendo acusado de agredir a própria esposa, Sayara Souza Bemerguy, que é filha do prefeito da cidade, Saul Nunes Bemerguy. A denúncia foi feita pela própria vítima à polícia.

Segundo o depoimento da vítima à polícia, que o Portal AM1 teve acesso, na noite do dia 19 de março, por volta das 20h15, ela estava em casa, fazendo exercícios, quando Paulo Bardales chegou acompanhado por vários funcionários, utilizando um veículo oficial da Câmara Municipal. A presença inesperada do marido, numa residência que já não compartilhavam devido ao processo de separação em curso, gerou imediatamente um clima de tensão.

Ao se recusar a abrir a porta, pois os filhos não estavam presentes, Sayara foi confrontada com ameaças de arrombamento. Sob a pressão e temendo pela sua segurança, acabou cedendo e permitindo a entrada de Paulo com os funcionários. O marido, então, exigiu que ela apontasse quem dos funcionários teria dito que ele teria uma amante na cidade.

Conforme o depoimento, a vítima disse aos funcionários que eles não tinham nada a ver com a situação, que o culpado era o seu marido. “Toda cidade comenta que você me trai muito”. Com isso, o vereador teria ficado nervoso e começou a gritar e ficar furioso, sobretudo, quando ela falou para todos que não era mais mulher dele, porque eles estavam se separando.

Depois disso, Paulo teria seguido Sayara até a cozinha e começado a quebrar vários objetos. A mulher contou que o homem a agrediu na região do tórax e dos braços, e passou a arremessar objetos contra ela. Ela afirma que os funcionários do marido presenciaram toda a situação e não fizeram nada, mesmo diante dos pedidos de ajuda dela.

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Conforme a vítima, os objetos foram quebrados pelo vereador durante a briga – (Foto: Divulgação)

“A vítima foi tentar tomar um copo de água e o autor a encurralou, que o autor pegou uma tábua de cortar carne e passou a bater no balcão e a quebrar as coisas da cozinha, que a vítima foi proteger seus bens e tentou fazer com que o autor cessasse os danos, momento em que entraram em luta corporal e o autor a agrediu, deixando marcas na região do tórax e membros superiores. O autor arremessou contra ela objetos da cozinha, como air fryer, tábua de cortar carne, pratos, entre outros, dos quais não se recorda”, diz um trecho do depoimento de Sayara.

Ainda segundo o relato da vítima, ele a xingou com palavras de baixo calão, ameaçou e quando ela começou a registrar tudo no celular do filho, ele pegou o telefone à força e fugiu. Após as agressões, Sayara procurou um posto de saúde para receber atendimento médico e posteriormente esteve na delegacia para denunciar Paulo.

Soraya relatou que essa não foi a primeira vez que sofreu violência por parte do marido. Segundo ela, em episódios anteriores, foi agredida fisicamente e verbalmente, inclusive na presença dos filhos do casal. Em uma ocasião, o filho de apenas 7 anos teve que intervir para protegê-la de um estrangulamento.

Durante 19 anos de relacionamento, ela afirma que o marido costumava ter crises de ciúme constantemente e praticar violência psicológica e física como cuspe no rosto e chutes.

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Além das agressões físicas, Paulo Bardales também demonstrava um comportamento controlador e manipulador, ameaçando prender o pai de Sayara, que é prefeito da cidade, utilizando sua influência política como presidente da Câmara Municipal. As ameaças não se restringiam apenas a ela, mas se estendiam à sua família, colocando-a em constante estado de medo e ansiedade.

Sayara disse que muitas dessas agressões ocorreram após o marido e o pai dela romperem relações políticas e que amigos e até funcionários de um restaurante da cidade também já presenciaram outros momentos de violência.

“A vítima alega que não é a primeira vez que isso ocorre, que ela já havia sofrido violência psicológica mais de um ano e um mês em virtude do rompimento político corrido entre o autor e o pai da vítima, incluindo agressões verbais e ameaças contra a vítima e seu pai”, diz outro trecho do depoimento.

A mulher afirmou que Paulo sempre ameaçava mandar prender o sogro, além de outras ameaças. Conforme a mulher, o casal estava em processo de separação desde dezembro de 2023, mas o vereador a persegue e não aceita o fim do casamento.

“Em 3 de março de 2023, o autor ficou muito agressivo por ciúmes e em uma briga segurou a vítima com os dois braços sacudindo e a jogando no chão. E quando a vítima caiu no chão, ele chutou a sua perna, ocasionando diversas lesões conforme as imagens anexadas.  Anteriormente, a esse episódio, quando confrontado sobre a traição, o autor ficou muito agressivo e quebrou objetos da casa, além do celular da vítima, que veio para cima da vítima e tentou enforca-la, sendo impedido pelo filho de 7 anos, que subiu em cima do autor e gritou para que ele parasse”, relata outro trecho do depoimento da vítima à polícia.

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Sayara relata que presenciou o autor falando com um advogado, dizendo coisas como, “tem que apertar o sal”, como forma de intimidar a vítima. Ela afirma teme por sua integridade física e de sua família e por isso solicitou medida protetiva contra Paulo Bardales.

 Medida protetiva

O juiz Rômulo Garcia Barros Silva, da Comarca de Tabatinga, proibiu Paulo César Bardales de se aproximar de Sayara e dos familiares dela.

De acordo com a decisão judicial, Bardales deve ficar, no mínimo, a 500 metros de distância, senão poderá ser preso preventivamente. Ele também está proibido de frequentar locais com a intenção de encontrar a vítima.

Na decisão, o juiz afirma que o caso se amolda ao conceito de violência doméstica, sendo correto socorrer-se das regras contidas na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) para fazer cessar a suposta violência, conforme prevê claramente o artigo 7º da referida norma”.

Vítima não se sente segura

Mesmo com a medida protetiva, Sayara afirmou ao Portal AM 1 que não se sente segura. “Como eu descobri que ele é um verdadeiro homem sem escrúpulo, tenho medo”, frisou a vítima.

Paulo Bardales se defende

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Bardales afirmou que está separado de Sayara desde o fim do ano passado e que ela o perseguia por ciúmes do relacionamento dele com outra mulher.

“Algumas pessoas me viram [com a outra mulher] e contaram para ela e ela não absolveu isso da melhor forma possível. Ela começou a me seguir no QG, começou a me seguir com o carro da Câmara e eu fiquei meio preocupado por ela, pois vivi 19 anos com a Sayara. Eu tenho dois filhos com ela. Eu amo muito meus filhos. Infelizmente, teve esse ocorrido, digo, por ciúmes”, diz Bardales.

 

O vereador alega que ele que foi agredido pela mulher. “Na realidade ela me agrediu”, fala o vereador e, em seguida, mostra imagens dele com escoriações pelo rosto, pescoço e ombro.

No pronunciamento, ele divulgou áudios com trechos de discussões entre ele e Sayara. Em um dos áudios, uma voz feminina, atribuída à Sayara, afirma que ele “nunca vai ser feliz”.

Nos áudios ele também fala “a única coisa que fiz foi me defender, botar meu braço, e você se machucou. Essa é última vez que a gente conversa”, diz o vereador.

No vídeo, Bardales pontua que abomina agressões contra mulher e diz que tudo será esclarecido. Ele também pede na gravação para Sayara deixá-lo em paz, pois pretende ficar com a pessoa do novo relacionamento. Entretanto, o vereador não fala na gravação sobre o episódio denunciado pela vítima dele ir até a casa dela no último dia 19 deste mês.

Por sua vez, Sayara diz que o vereador está inventando história. Ele está inventando tudo, que eu que o agredi. Que estávamos separados. Eu vivi uma mentira nesses 19 anos”, frisa Sayara.

O caso também está sendo investigado pela Polícia Civil do Amazonas, após Soraya registrar o Boletim de Ocorrência na delegacia do município.

Vereador pode ser cassado por quebra de decoro?

No Brasil, a possibilidade de afastamento de um vereador por quebra de decoro parlamentar pode variar de acordo com as leis municipais e estaduais, bem como o regimento interno da Câmara Municipal em questão. No entanto, ao nível geral, a legislação brasileira prevê algumas medidas para casos de quebra de decoro parlamentar.

A Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 55, estabelece que os membros do Congresso Nacional (Senado e Câmara dos Deputados) podem ser cassados por “quebra de decoro parlamentar”, mas esse dispositivo não se aplica diretamente aos vereadores. No entanto, os estados e municípios podem criar suas próprias normas e procedimentos para lidar com essas questões.

Muitas vezes, os regimentos internos das câmaras municipais estabelecem regras específicas sobre o processo de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar. Esses regimentos podem prever a instauração de uma comissão de ética ou similar para investigar as acusações e recomendar ações, como o afastamento temporário ou a cassação do mandato.

 

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