Manaus, 20 de maio de 2024
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Política

Ex-chefe da PF no Amazonas denuncia manipulação para afastar agentes da Amazônia

De acordo com o delegado Alexandre Saraiva, prática do "convite" foi institucionalizada, e pode desguarnecer Amazônia e fronteiras

Ex-chefe da PF no Amazonas denuncia manipulação para afastar agentes da Amazônia

Foto: Reprodução

BRASÍLIA, DF – O delegado Alexandre Saraiva, ex-chefe da Polícia Federal (PF) no Amazonas, voltou aos holofotes nesta segunda-feira (13). Desta vez, Saraiva denunciou uma manipulação na alocação de novos agentes da corporação. A denúncia, encaminhada ao Ministério Público Federal (MPF), foi revelada pelo site UOL.

Segundo o delegado, uma portaria do Ministério da Justiça datada de fins de novembro de 2021 escancara o processo de manipulação. O ex-superintendente alega que a mudança nos critérios permitirá que policiais recém-formados evitem postos em locais distantes e inóspitos, como as áreas de fronteira em meio aos grandes biomas, e sejam encaminhados por convite para cargos lotados em Brasília.

Saraiva, que está lotado atualmente na PF em Volta Redonda (RJ), diz que, além de ferir o direito de agentes que se destacaram na prova e dos mais antigos, a portaria vai dificultar o preenchimento de vagas em locais como a Amazônia. A região, inclusive, tem um dos maiores déficits de pessoal, o que leva à diminuição da repressão a crimes como desmatamento e garimpo ilegal. O problema, segundo o delegado, ainda vai permitir o aparelhamento de grupos de policiais que serão “apadrinhados”.

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Escolha

Conforme o delegado, a escolha das vagas se dava com base na classificação geral do concurso ou na classificação específica do candidato no curso de formação da Polícia Federal. Ainda assim, “apadrinhamento” irregular teria acontecido até 2007, quando a prática foi abandonada. De acordo com Saraiva, a manobra seria um “abominável favoritismo em prol dos candidatos que possuíam ‘costas quentes’, por meio de um instituto não regulamentado, denominado ‘convite’, que burlava dos editais do concurso”.

O delegado denuncia que a partir de agora tal prática foi institucionalizada com a nova portaria. Para piorar, o texto que fundamenta a mudança foi colocado sob sigilo. “A prática do apadrinhamento fez com que muitos policiais deixassem de atuar nas lotações de difícil provimento”, relata ele. “Desta forma, os afortunados nunca escolheram unidades com ‘claros de lotação’ localizadas nos rincões mais distantes do país”.

Saraiva ainda chama a prática de “brasiliocentrismo”, ao permitir que muitos policiais sejam chamados para Brasília e desguarneçam regiões como Pantanal e Amazônia. “É de espantar que a Portaria não limita o número de futuros policiais que poderão ser agraciados pelo ‘convite’. Deste modo, a Direção Geral estará livre para lotar em Brasília quantos quiser. Esta circunstância denota a intenção de desviar muitos futuros policiais da região amazônica, do pantanal e das fronteiras para Brasilia. Assim, o texto da portaria nº 15.755-DG/PF traduz um verdadeiro ‘brasilionocentrismo'”

Alexandre Saraiva foi exonerado da Superintendência da Polícia Federal (PF) no Amazonas após acusar o então ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, de fazer parte de uma organização criminosa com empresas madeireiras. A portaria de exoneração foi assinada pelo diretor-geral da corporação, Paulo Maiurino.

(*) Com informações do UOL.

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