Manaus, 19 de maio de 2024
×
Manaus, 19 de maio de 2024

Cenário

Feministas do AM recriminam falas transfóbicas de Nikolas Ferreira: ‘inaceitável’

O analista político Carlos Santiago também afirmou que a atitude de Nikolas Ferreira retrata a má escolha dos eleitores com os represntantes

Feministas do AM recriminam falas transfóbicas de Nikolas Ferreira: ‘inaceitável’

O Portal AM1 conversou com representantes femininas que lutam pela causa LGBTQIA+ sobre o caso (Foto: Instagram)

As falas do deputado federal Nikolas Ferreira (PL) repercutiram por todas as redes sociais e movimentaram parlamentares a pedirem a cassação do deputado. Essa não é a primeira vez que o deputado bolsonarista fica sob os holofotes por comentários preconceituosos. O Portal AM1 conversou com representantes femininas que lutam pela causa LGBTQIA+ sobre o caso.

No Dia Internacional das Mulheres, celebrado na última quarta-feira (8), o deputado bolsonarista usou a tribuna da Câmara dos Deputados para fazer um discurso transfóbico. Usando uma peruca, ele se chamou de “deputada Nicole” e afirmou que as mulheres estão perdendo espaço na política por homens que se sentem mulheres, fazendo referência a transexuais, travestis e transgêneros.

Foram protocoladas três ações contra a fala transfóbica do deputado Nikolas Ferreira. Entre os pedidos de cassação, está o pedido da Aliança Nacional LGBTI+ e pela Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, que afirmou que o comentário de Nikolas configura um discurso de ódio. As ações foram protocoladas no Supremo Tribunal Federal, e o caso tem como relator o ministro André Mendonça, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O caso repercutiu nos últimos dias e tem levantado críticas a atitude do jovem deputado bolsonarista, que entrou com a polêmica preconceituosa na Câmara. Quanto a isso, o Portal AM1 conversou com representantes femininas do cenário político amazonense sobre o caso de Nikolas Ferreira, que destacaram que falas como a de Nikolas podem agravar o preconceito contra pessoas trans.

A ex-candidata a deputada estadual e ativista, Michelle Andrews, comentou com a equipe de reportagem que a fala do deputado é “extremamente preocupante e inaceitável”. A feminista ressaltou que ele, como político eleito pelo povo, tem a responsabilidade de agir com respeito e em defensa dos direitos humanos de todas as pessoas, independente da identidade de gênero.

A ativista manauara repreendeu as falas do deputado Nikolas Ferreira e relembrou a gravidade do discurso para a comunidade trans (Foto: Reprodução/Instagram)

“Esse tipo de discurso é extremamente prejudicial à comunidade trans e contribui para a criação de um ambiente hostil e perigoso para essas pessoas. A transfobia é uma forma de discriminação que viola os direitos humanos e pode ter graves consequências para a saúde mental e física das pessoas trans”, disse.

Andrews ainda destacou que uma das bandeiras que defende é a da comunidade LGBTQIA+ e conhece a realidade das pessoas que sofrem, diariamente, com o preconceito e discurso de ódio retratado na fala de Nikolas Ferreira.

“É fundamental que medidas sejam tomadas para combater a transfobia e garantir a segurança e os direitos das pessoas trans. A sociedade como um todo deve se unir na luta contra a discriminação e o preconceito, para criar um mundo mais justo e inclusivo para todos”, apontou.

Do mesmo modo, a ex-candidata a deputada estadual no Amazonas, Marklize Siqueira, afirmou para o Portal AM1 que o mandato do deputado Nikolas Ferreira está sendo usado para endossar o preconceito e a discriminação contra a comunidade trans.

“É lamentável que um mandato que deveria estar a serviço da sociedade, das pessoas, seja utilizado para endossar o preconceito e a discriminação contra pessoas transexuais e travestis”, iniciou. “A estimativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos e morrem por pura transfobia, são vidas perdidas diante de uma sociedade ainda baseada na violência e na discriminação”, explicou.

A feminista explicou que pessoas trans são mortas no Brasil diante de uma sociedade baseada na violência e discriminação (Foto: Reprodução/Instagram)

De acordo com ela, a postura de Nikolas Ferreira pode estimular a permanência da discriminação na sociedade. Para reverter esse cenário, ela disse que é aliada da luta do movimento trans e tem atuado na defesa dos direitos das pessoas trans na área da saúde.

Brasil do preconceito

Para o analista político Carlos Santiago, o discurso feito por Nikolas Ferreira representa a visão de uma parcela da sociedade brasileira, que ainda vive à base do ódio e do preconceito com os grupos sociais. Para ele, políticos que ainda forçam esse discurso tentam ganhar simpatizantes dessa parcela.

“As palavras de Nikolas Ferreira, na tribuna da Câmara dos Deputados, é a expressão de uma parcela da sociedade brasileira que age com ódio e com preconceitos na vida privada e também na vida pública, objetivando ganhar simpatizantes, porque sabe que o Brasil é um país de preconceitos contra determinados grupos sociais, mulheres, negros, indígenas”, explicou ao Portal AM1.

Ainda segundo ele, o cenário político nos últimos anos se tornou um espaço para expressar o preconceito, o ódio e a agressão contra a dignidade da pessoa. Ele afirmou que isso se deve a escolha dos eleitores, além da cultura brasileira que ainda tolera preconceitos.

O analista político afirmou que o discurso de Nikolas Ferreira representa o pensamento de uma parcela da sociedade brasileira (Foto: Arquivo Pessoal)

“A política brasileira só irá mudar quando o eleitor votar com interesse coletivo, objetivando a melhoria da qualidade da política e dos políticos que trabalham para o bem da coletividade, e não busque na política a expressão de interesses pessoais e de grupos que possuem como uma das missões excluir, maltratar, agredir brasileiros pelas suas decisões pessoais ou decisões políticas”, disparou.

De acordo com ele, o Parlamento não pode tolerar posturas como essa, e que o Brasil não precisa de políticos como Nikolas Ferreira. “O Parlamento é o Estado, e o Estado não pode ter espaço para ódio, agressões e ataques aos direitos humanos. O Brasil não precisa de políticos da qualidade do Nikolas Ferreira. Além de votar bem, os brasileiros precisam mudar a sua cultura e a sua tradição”, concluiu.

Polêmicas transfóbicas

Apesar da fala preconceituosa de Nikolas estar ganhando impacto, o deputado federal já carrega uma bagagem de preconceito contra trans. Em dezembro de 2020, o bolsonarista se referiu à deputada Duda Salabert (PDT) pelo pronome masculino.

Duda é mulher trans e se reconhece pelo pronome feminino, o que, na época, foi julgado por Nikolas até a última quarta-feira, ou seja, o pensamento continua o mesmo quanto ao assunto. Na ocasião do fato, ambos eram vereadores de Belo Horizonte.

“Ele é homem. É isso que está na certidão dele, independentemente do que ele acha que é”, disse o deputado na época. Duda protocolou uma queixa-crime contra Ferreira, que foi recebida pela Justiça de Minas Gerais. O deputado responde pelo crime de injúria racial contra a colega parlamentar no Congresso.

Essa não foi a primeira vez que o deputado fez discursos transfóbicos. Em 2020 e em 2022, ele também reforçou os comentários (Foto: Reprodução/Instagram)

Em 2022, o deputado fez novamente discursos transfóbicos, desta vez, ao expor uma adolescente de 14 anos nas redes sociais. Em vídeo publicado, ele pedia boicote a uma escola privada de Belo Horizonte por permitir que uma aluna transgênero usasse o banheiro feminino. Ele mostrou aos seguidores um vídeo feito dentro da escola, onde a própria irmã do deputado questiona a estudante trans por estar no banheiro.

“Não preciso nem falar que dentro da sala de aula, com relação à matéria de História, ocorre doutrinação. Travesti no banheiro da escola da minha irmã”, disse no vídeo. Após a publicação, o Ministério Público passou a investigar o deputado.

Leia mais: