A herança política continua sendo um diferencial nos resultados das eleições. Para a atual legislatura de governo, Senado e casas de deputados, ser apadrinhado e carregar um sobrenome de peso representou a força da simbiose entre marketing político e poder econômico.
Ter apenas um destes itens dificultou a vida política de vários. Grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), que posavam como independentes e antissistema, naufragaram e novos nomes, mas com velhas alianças, subiram.
A dependência desses grupos e herdeiros por um nome de peso é vista por alguns setores como uma ressignificação das antigas oligarquias e do coronelismo, o que convence o eleitorado de várias faixas etárias que se deslumbram com a ideia de apoiar pessoas bem sucedidas.
Para o sociólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Marcelo Seráfico, esses grupos representam interesses que se traduzem em ideias organizadas institucionalmente dentro dos partidos políticos.
Berço
No Amazonas, um desses herdeiros políticos é o deputado federal Amom Mandel (Cidadania). Aos 19 anos, em 2020, Mandel foi um dos mais votados para um cargo na Câmara Municipal de Manaus (CMM), repetindo o feito em 2022 na Câmara federal. Foram 288.555 votos para deputado federal e 7.537 votos para vereador.
Para a professora titular da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Marilene Corrêa, o caso de Amom representa bem o poder do apadrinhamento.
“O que é chamado de apadrinhamento é a ressignifação das dinastias da direita que sempre atuaram no Amazonas. Esse é o modo desses grupos se arejarem e garantirem a sobrevivência. Se apoiando em um discurso antissistema e independente”, disse Marilene.
O ocaso do MBL
Sigla que nasceu em 2014, o MBL trouxe novos nomes ao cenário político, virando um fenômeno eleitoral e midiático. Mas a força dos primeiros anos veio se dissipando e o grupo, que se apoiava em narrativas liberais e conservadoras, praticamente se encontra no seu ocaso.
“O único sistema contra o qual o MBL militava era o democrático. De fato, trata-se de um movimento pró-sistema, profundamente enraizado nas teses do rentismo capitalista e do reacionarismo de extrema direita. Chega a ser irônico, para não dizer trágico, que pessoas cronologicamente jovens defendam teses reacionárias. Mas isso é parte da vida política: a novidade, o Novo, não é uma questão etária, mas sim histórica”, argumenta Seráfico.
Segundo Marilene Corrêa não há como ser independente na política. “Sempre vai haver algum grau de dependência. O MBL não era formado por ETs, não era um movimento livre. Sempre houve um alinhamento a grupos reacionários, mas o discurso ‘nem Lula, nem Bolsonaro’ das últimas eleições desagradou o eleitorado que esperava um posicionamento mais rígido e intransigente que preconizasse a polarização, como nos primeiros anos do grupo”, concluiu.
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