Manaus, 9 de maio de 2024
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Política

Internação de Bolsonaro inicia divisão entre eleitores em ano político em Manaus

Enquanto apoiadores afirmam que o presidente é uma vítima, a oposição acredita em uma jogada política

Internação de Bolsonaro inicia divisão entre eleitores em ano político em Manaus

Foto: Arquivo / Portal AM1

MANAUS, AM – A primeira semana de 2022 não foi das melhores para o presidente Jair Messias Bolsonaro (PL). O chefe da República deu entrada ao hospital na última segunda-feira (3) com obstrução intestinal. No entanto, a nova internação do presidente dividiu opiniões entre apoiadores e oposição, que travaram uma guerra nas redes sociais.

De um lado, apoiadores tentavam defender o presidente do “mau olhado” e ficaram dois dias em oração, mandando energias positivas para Bolsonaro. Do outro, a oposição criticava a internação, alegando falta de comprometimento e até mesmo “teatro”.

Bolsonaro passou dois dias internado em São Paulo com obstrução intestinal. O presidente não precisou passar por uma nova cirurgia, pois reagiu bem ao tratamento com antibiótico. De acordo com o médico Antônio Luiz Macedo, a hospitalização do presidente ocorreu por conta de um “camarão mal mastigado” por Bolsonaro.

Após receber alta médica, na quarta-feira (5), apoiadores comemoraram mais uma batalha enfrentada por Bolsonaro. O líder do Movimento Conservador Amazonas, Sérgio Kruke, classificou o chefe da República como “um grande herói”, por ter que enfrentar a oposição sozinho.

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O líder do movimento comentou ao Portal Amazonas 1 que toda nova internação do presidente é preocupante. Durante um comício na campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro foi alvo de um ataque. Ele precisou realizar uma cirurgia de emergência e enfrenta problemas de saúde desde então.

“Toda e qualquer internação é preocupante, principalmente porque sabemos que as sequelas dessa tentativa de homicídio ficarão para o resto da vida dele, mas as orações pela sua recuperação foram atendidas e ele saiu bem, Graças a Deus”, disse.

Bolsonaro
Foto: Reprodução

Enquanto o presidente esteve internado, Kruke afirmou que o grupo não fez uma ação especial para mandar energias positivas para ele, pois as orações são feitas diariamente. Além disso, nos primeiros dias de 2022, o movimento destacou o apoio em Manaus promovendo um “adesivaço”.

Sérgio Kruke também acredita que o presidente Bolsonaro possa ser alvo de outro atentado nas eleições de 2022, uma vez que ele é apontado como o principal candidato para concorrer com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Sabemos que a esquerda é suja e violenta, e não podemos baixar a guarda em nenhum momento. Que eles tentarão algo é fato, se vão conseguir efetivamente acho bem mais difícil, pois agora não é um candidato e sim um Presidente do Brasil, e nem a Polícia Federal e nem o GSI [Gabinete de Segurança Institucional] deixarão algo acontecer facilmente”, pontuou.

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O líder do movimento ainda destacou que o conservadorismo ganhou espaço desde as eleições de 2018, o que faz com que Bolsonaro seja alvo de críticas. “A luta vem desde que ele está no parlamento federal, 2018 foi o ápice do enfrentamento, para nós uma quebra de paradigmas político, onde o conservadorismo começou a ganhar espaço e um pequeno protagonismo na política nacional”, afirmou.

Jogada política

Já para a esquerda, a internação do presidente Bolsonaro não é vista com a mesma apreciação que os apoiadores enxergam. Para o secretário estadual de Movimentos Sociais do PCdoB no Amazonas, Gabriel Mota, o chefe da República usa o episódio do ataque em 2018 para se vitimizar e sensibilizar o seu eleitorado.

Apesar disso, o também professor destacou que não subestima a facada que o presidente sofreu, pois, o mesmo carrega sequelas visíveis até hoje. No entanto, ele ressaltou que a internação é uma jogada política, uma vez que Bolsonaro manipula o eleitorado através do emocional.

“Ele mantém um relacionamento abusivo com as pessoas que acreditam nele e faz dessas situações relacionadas a sua própria saúde uma maneira de jogar o holofote para uma coisa sensível”, comentou.

Ainda segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro usou o ataque para se vitimizar e conquistar votos para se eleger. Um exemplo disso são as pesquisas de intenção de voto, que apontaram um crescimento no número de eleitores favoráveis a ele logo após o episódio da facada.

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Bolsonaro
Foto: Reprodução

“Ele não só usou a facada para se beneficiar eleitoralmente, mas também para atingir a militância de esquerda”, disse. Para o secretário estadual do PCdoB, é importante que a oposição possa desconstruir a imagem criada para afastar essa “jogada política teatral”.

Durante a internação, os filhos do presidente pediram aos apoiadores que orassem pela sua saúde. No entanto, o secretário comentou que essa sensibilidade dos bolsonaristas para o presidente não é a mesma quando se trata de famílias de vítimas da covid-19, por exemplo.

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“Família hipócrita. Para eles só existe oração e energia positiva quando se tratam deles mesmos. Quando chegamos a meio milhões de mortos pela covid e tantas outras coisas que aconteceram no governo, desconheço momentos em que essa família veio a público pedindo energia positiva ou oração à Deus para q essas famílias tivessem algum conforto”, afirmou.

Falta de solidariedade

Na visão do cientista político Helso Ribeiro, não existe solidariedade entre os dois lados, entre apoiadores e oposição. Isso porque as declarações do presidente Bolsonaro não agradam os opositores, que rebatem as falas em situações parecidas, como no caso da internação.

Segundo ele, o ser humano tem tendência a se solidarizar com pessoas enfermas, mas em toda a pandemia, Bolsonaro não teve essa atitude. Logo, os opositores devolvem na mesma moeda as falas insensíveis do presidente.

“O presidente pode ter virtudes, como qualquer ser humano, mas em momento algum ele foi solidário às pessoas que adquiriram covid e, principalmente, àquelas que morreram. Ao invés de solidariedade ele, de certa forma, desdenhou chamando de maricas, dizendo ‘vamos parar de mimimi’, ‘eu não sou coveiro’”, explicou.

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Bolsonaro
Foto: Reprodução/Instagram

Antes de ser hospitalizado, o presidente esteve de férias em Santa Catarina, mas ao fim dos dias de folga, Bolsonaro deu entrada ao hospital e foi criticado pela oposição, que alegou que ele estaria mentindo sobre a saúde. Mas, para o cientista político, a doença do presidente não tem como finalidade a autopromoção.

“Eu custo a crer que a internação dele tem esse propósito, de se promover. Acho que aí é muita teoria conspiratória, mas as pessoas acabam se solidarizando. Então isso, de certa forma, é uma tendência”, disse.

Ainda de acordo com Helso, ele acredita que seja compreensível que as pessoas se revoltem por conta da internação e com os pedidos de “energias positivas” para o presidente, pedidos os quais que não foram os mesmos direcionados por ele para as vítimas da covid-19.

“Imagina que ao invés de oração as pessoas falassem: ‘Ah, presidente. Todo mundo morre um dia, não peça oração, não’. Enfim, tem um ditado romano que diz que o defeito dos outros está na nossa cara, o nosso defeito acabamos não vendo”, declarou.

Conflito desnecessário

Para o cientista política Carlos Santiago, a disputa de direita e esquerda no Brasil são consideradas “desnecessárias”. De acordo com ele, os conflitos são movidos por agressões e notícias falsas. Além disso, o cientista político pontuou que as atitudes tomadas por esses grupos não são levadas em consideração a dignidade da pessoa.

Durante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro fez declarações insensíveis sobre as vítimas da covid-19, sobre a vacinação e sobre a doença. Do mesmo modo, a oposição faz sátiras com a imagem do presidente e ironias sobre a sua saúde.

“Dentro desse cenário, as propostas e as ideias para melhorar o sistema político, para melhoras os governos, o serviço público no país tem se colocado sempre em segundo plano”, destacou o cientista.

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Foto: Arquivo / Portal AM1

O cientista político também afirmou que por conta do ano eleitoral, o cenário pode ganhar muito mais espaço. No entanto, cabe ao eleitor definir os representantes que queiram fazer a diferença na sociedade e deixar esses conflitos de lado.

“O mais importante nesse momento para o povo brasileiro é a busca de um projeto nacional que diminua o desemprego, que melhore a saúde pública e os indicadores educacionais, e também que combata a corrupção”, pontuou.

Ainda segundo ele, a discussão sobre a facada do presidente é “triste”, uma vez que duvidam da versão de Bolsonaro, sendo ele o líder da nação. Por outro lado, os apoiadores também compartilham notícias falsas sobre os adversários, que foram importantes para Bolsonaro se eleger.

 “O Brasil precisa de lideranças políticas e de brasileiros focados na resolução dos problemas do país e não em notícias falsas ou conflitos desnecessários”, finalizou.

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