Manaus, 11 de maio de 2024
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Cenário

Manaus terá volta de ‘corujinhas’ para fiscalização do trânsito

Instituto Municipal de Mobilidade Urbana deu o start na contratação das câmeras de fiscalização, que já foram alvo de polêmicas

Manaus terá volta de ‘corujinhas’ para fiscalização do trânsito

Câmeras serão instaladas em vários pontos da capital (Fotos: Altemar Alcantara/ CCC)

Após o prefeito David Almeida anunciar, na leitura da mensagem na Câmara Municipal de Manaus (CMM), o retorno da fiscalização eletrônica por câmeras, chamado popularmente de “corujinhas”, o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) deu o start na contratação.

A licitação na modalidade pregão presencial será realizada no dia 03 de março na sede da Comissão Municipal de Licitação (CML), em Manaus.

Tratando-se de uma licitação de grande porte, para um serviço que já gerou polêmicas em Manaus, e sem valor pré-definido tendo em vista que será consagrada vencedora a empresa que apresentar o menor preço, o pregão presencial limita a competição ao restringir a participação apenas dos interessados presencialmente.

“Vamos ter que implementar a fiscalização eletrônica na nossa cidade. Todas as grandes cidades têm. Nós vamos voltar”, disse o prefeito, durante coletiva de imprensa na abertura do ano legislativo, na CMM, em 8 de fevereiro.

Na ocasião, os dirigentes do IMMU informaram que estavam trabalhando no edital da nova contratação, mas não informaram quando seria realizada. Coincidentemente, dias depois no dia 13 de fevereiro, a CML publicou o aviso de licitação no Diário Oficial do Município (DOM).

Segundo o documento, a Prefeitura pretende contratar “uma empresa especializada para prestação de serviços de processamento de autos de infração, monitoramento eletrônico, através de equipamentos de controle de velocidade, restrição veicular, video captura e licença de software para uso na mobilidade urbana de Manaus”.

O novo contrato

De acordo com o Termo de Referência que subsidia a licitação e o futuro contrato, a empresa vencedora terá de fornecer 166 equipamentos de controles de velocidade, além de 25 licenças se software para gestão da aplicação de multas e um sistema de análises e inteligência denominado de “Cinturão de Segurança” com a locação de uma central de monitoramento, locação de uma estação de pesquisa e locação de 20 pontos de coleta de imagens.

No documento não há indicação das ruas e avenidas que os equipamentos serão colocados, mas há indicação de que devem funcionar 24h em vias de 2, 3 e 4 faixas. Há vias nas quais as câmeras funcionarão apenas 16h por dia a critério do IMMU.

“Todos os equipamentos acima descritos deverão ser acompanhados de mão de obra especializada, ferramentas e veículos, conforme o caso”, aponta o termo de referência indicando, inclusive, que deve haver disponibilização de pessoal pela empresa contratada.

Justificativa é de redução de acidentes

A Prefeitura justificou a retomada da fiscalização eletrônica com o “aumento consideravelmente da quantidade de acidentes, com e sem vítimas, em virtude dos excessos de velocidade e o desrespeito às Leis de Trânsito pelos condutores dos veículos que trafegam nas ruas e avenidas do Município de Manaus.”

“Portanto, a implantação dos equipamentos e soluções almejadas decorre da necessidade de aprimoramento e continuidade na adoção de medidas preventivas que visam fundamentalmente à obtenção de um trânsito em condições seguras, com a ampliação da sinalização e fiscalização rígida das vias públicas do município”, justificou a Prefeitura.

No entanto, em 2015, o Manaustrans, ao divulgar balanço sobre a redução no número de mortos em acidentes de trânsito em Manaus no primeiro semestre daquele ano, praticamente reconheceu que a presença de radares eletrônicos fixos nas ruas não tem relação direta com os acidentes.

Isso porque, sem os radares houve uma redução de 19,23% no número de acidentes em relação ao mesmo período de 2014, com uso de radares, como informou o então Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização do Trânsito (Manaustrans).

Conforme o Manaustrans, de 1º de janeiro a 29 de junho de 2015 foram registradas 105 mortes no trânsito. Em 2014, no mesmo período e com uso dos radares, foram 130 vítimas fatais.

Indústria da Multa

Na primeira gestão do ex-prefeito Arthur Neto (2013 a 2016), mesmo após as investigações do Ministério Público do Estado (MPE) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a empresa Consladel teve seu contrato renovado.

Em 2015, a empresa recebeu do Instituto Municipal de Engenharia e Fiscalização de Trânsito (Manaustrans) comandado por Paulo Henrique Martins um valor de R$ 28,4 milhões. A licitação chegou a ser suspensa pelo TCE por indícios de fraude, foi retomada, a empresa foi contratada e o contrato durou até março daquele ano.

Um novo processo de licitação para a contratação de radares para a capital foi aberto e, com ele, mais um escândalo. Um dos sócios da Consladel, Labib Faour Auad, estaria por trás do consórcio Manaus Seguro, vencedor do certame.

A denúncia, feita por uma rede de televisão, fez com que Arthur Neto pressionasse Paulo Henrique Martins a explicar a participação da empresa no processo.

Na época, o presidente do então Manaustrans não conseguiu esclarecer como uma das empresas do consórcio que venceu a licitação pertencia ao mesmo dono da Consladel. Paulo Henrique pediu exoneração do cargo e Arthur Neto cancelou a homologação da licitação e da instalação dos radares em Manaus.

Coincidência ou não, o mesmo Paulo Henrique Martins é o titular do Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU), órgão responsável pela fiscalização de trânsito e transporte na gestão do atual prefeito David Almeida, e responsável pela contratação da nova empresa de radares eletrônicos em Manaus.

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