Manaus, 17 de maio de 2024
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Manaus, 17 de maio de 2024

Cidades

Moradores de comunidade aprendem a valorizar produtos regionais para geração de renda

A ação inédita se tornou realidade, após a dedicação da própria comunidade

Moradores de comunidade aprendem a valorizar produtos regionais para geração de renda

Foto: Divulgação

Moradores da Comunidade Céu e Mar, localizada no quilômetro 3, do ramal da Morena, na vila de Balbina, município de Presidente Figueiredo, a 133 quilômetros de Manaus, estão aprendendo a valorizar o que têm em abundância para gerar renda para suas famílias, além de contribuir com a preservação ambiental do local, que é uma Área de Preservação Permanente (APP).

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Com essa finalidade, trinta moradores da Comunidade, atualmente, são alunos do curso de Condutor Ambiental Local, ofertado pelo Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam) de Presidente Figueiredo. É a primeira vez que o curso sai da sede do município e é deslocado para dentro de uma comunidade tradicional, segundo a professora e engenharia ambiental, Michele Gomes.

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A ação inédita se tornou realidade, após a dedicação da própria comunidade que junto ao presidente comunitário Marivaldo da Silva, elaborou um ofício enviado à direção do Centro Tecnológico no município solicitando a oferta de um curso para melhorias dos moradores.

Com carga horária de 160 horas, quatro horas diárias de aula, o curso conta com uma grade curricular composta das seguintes disciplinas: Legislação Ambiental, Técnica de Vendas, Geografia Local, Política e Formas de Comunicação.

O curso é voltado especificamente para pessoas que residem em áreas de preservação ambiental, com o objetivo de fazer com que os moradores que mantinham práticas de destruição do meio ambiente, como realização de queimadas de lixos (resíduos sólidos), desmatamento e poluição, passem a ter consciência ambiental, preservando o local que vivem.

É como explica a professora do curso, que é formada em Engenharia Ambiental, Engenharia da Segurança do Trabalho e Engenharia Elétrica, Michele da Rocha.

“Nosso objetivo é fazer com que essa comunidade adquira conhecimento para que conservem o que já tem, usufruam da abundância que possuem sem destruir o meio ambiente. Entendendo, acima de tudo, que viver com qualidade de vida é preservar o que eles têm de melhor. Aqui nessa comunidade, por exemplo, eles têm muito coco , cupuaçu, açaí. E, antes do curso eles não viam isso como uma fonte de renda, eles viam apenas como uma planta, um produto comum e, muitas vezes, nem consomem porque já enjoaram. E hoje essa realidade é outra. Eles já estão vendendo coco gelado, polpas e outros produtos regionais”, frisou.

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O aprendizado e a nova visão dos comunitários já tem dado resultado para muitas famílias, é o caso do produtor de polpa de cupuaçu e aluno do curso, Breno Miranda, que contou ao Portal AM1, que já perdeu oportunidade de emprego por falta de qualificação, e, por isso, vê no curso uma oportunidade de melhoria de vida.

“Eu moro aqui há cinco anos. Vim para cá porque tive uma oportunidade de emprego, mas perdi a vaga por falta de qualificação. Quando soube desse curso me inscrevi rapidamente, fui um dos primeiros a me interessar junto com a minha esposa. Lembro que no início das aulas as pessoas tinham dificuldade até de se apresentarem, falar seu nome e, hoje, todos já conversam, conseguem se expressar, se dispõem para ajudar. Por isso, tenho certeza que esse curso veio para melhorar a nossa vida e a nossa comunidade”, disse o morador Breno Miranda.

O subtenente do Corpo de Bombeiros, presidente do Conselho Fiscal da Comunidade e aluno do curso, Evaldo Oliveira, conta que muitos moradores não sabiam nem como vender seus produtos antes do curso.

“Essa é uma oportunidade única, nos alerta para a importância da preservação da natureza e ao mesmo tempo nos ensina técnicas de divulgação e de venda. Porque muitos nem sabiam como vender seus produtos, como anunciar e esse é só o primeiro de muitos cursos que virão, se depender da Comissão da nossa comunidade”, garantiu Evaldo.

Melhorias

O presidente da comunidade, Marivaldo da Silva, explicou à reportagem, que o curso era para ter sido realizado antes da pandemia e da abertura das portas da Hidrelétrica de Balbina, o que foi inviável devido aos acontecimentos.

“Nos reunimos com a comunidade e após essa reunião, com a participação de amigos professores de outra comunidade recebemos a proposta da ministração de um curso para os moradores. Inicialmente seria realizado na sede (Presidente Figueiredo), mas tivemos uma grande demanda, o que fez o Cetam autorizar a realização dentro da própria comunidade. É muito gratificante para mim, que moro aqui há mais de vinte anos, ver pela primeira vez um curso sendo ministrado aqui na comunidade”, explicou o presidente comunitário.

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Marivaldo também falou sobre o projeto de construir uma sede da Comunidade Céu e Mar, que hoje conta apenas com uma pequena casa de madeira. O presidente contou ao Portal AM1 que eles têm planejado a realização de eventos para arrecadar recursos para a construção, além da contribuição de alguns moradores, mas também aproveitou a oportunidade para pedir ajuda às autoridades do Estado, como o Governo do Amazonas, Prefeitura da cidade e vereadores.

“Nosso sonho é ter uma sede organizada, com salas de secretarias, conselho, salas de aulas, salão de eventos e muito mais, para darmos aos comunitários condições de, por exemplo, estudar em um local apropriado e mais confortável”, frisou.

O vice-presidente, Mariberto Freire, também enfatizou a importância da união e trabalho de todos os moradores para fazer com que a Comunidade Céu e Mar seja um local importante e reconhecido dentro do município.

Evento de exposição

No dia 13 de agosto os alunos irão realizar a 1ª Feira Ambiental da comunidade, momento em que todos os novos condutores ambientais irão expor seus produtos, sejam eles artesanais, suas polpas, frutas, peixes e outros produtos. Além de um almoço que contará com venda de peixe frito, galinha caipira e outras comidas regionais.

Na ocasião, eles mostrarão na prática o que aprenderam durante o curso, levando a educação ambiental a todas as pessoas que estarão no evento, principalmente turistas, que já estão sendo convidados, por meio de ações de panfletagem realizadas pelos alunos e professora nos finais de semana que antecedem a realização da Feira.

A professora disse à reportagem que se sente muito feliz em ver a evolução dos comunitários e que apenas lapidou o que eles já possuíam, uma vez que os maiores conhecedores do local são os próprios moradores.

“Condutor Ambiental é isso, a pessoa que poluia não polui mais. Hoje essa pessoa cuida do local que mora. Eles estão transmitindo conhecimento aos seus familiares e tenho vários exemplos disso. Quando cheguei aqui eles faziam muita queimada de lixo doméstico, uns jogavam garrafas de plástico no rio e hoje sabem que é errado e contam para mim que não fazem mais”, disse a instrutora do Cetam.

Outro potencial que os comunitários estão investindo a partir do que estão aprendendo nas aulas é o investimento no turismo, por meio dos locais turísticos que possuem, como por exemplo, o Porto do Miranda, conhecido como ‘Mirandinha’, local muito visitado por pessoas que frequentam a localidade.

“Como eu disse, apenas lapidei, eles são as pessoas que conhecem muito a região, eles são a comunidade tradicional, eles acolhem, sabem receber e estão tendo a oportunidade de fazer um curso completo. Tenho certeza que deixarei trinta condutores qualificados e o Cetam não assina se não tem qualidade, se assina é porque garante”, finalizou a professora.