Manaus, 19 de maio de 2024
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Manaus, 19 de maio de 2024

Cidades

Moradores de Manacapuru relatam dias de agonia

Rompimento de cabo subaquático no rio Negro na sexta, 19, mudou a rotina de Iranduba e Manacapuru e afetou 143 mil habitantes das duas cidades.

Moradores de Manacapuru relatam dias de agonia

Aldenir Gomes, morador de Manacapuru, afirma que essa é a segunda vez que o município sofre com um apagão este ano (Foto: Amazonas1)

Os mais de 96 mil habitantes de Manacapuru, município da região metropolitana distante a 68 quilômetros de Manaus, levarão muito tempo para esquecer a péssima experiência a que foram impostos com o total desabastecimento de água e energia elétrica, num período crônico de mais de 150 horas e exatos uma semana sem esses serviços essenciais.

A equipe de reportagem do Amazonas 1 esteve na cidade na noite de quarta-feira, 24, e constatou o sofrimento da população que, desesperada, lançava mão de qualquer meio de protesto para cobrar da concessionária Amazonas Energia e da prefeitura uma resposta rápida e uma solução imediata para o problema.

Ao chegar em Manacapuru à noite tem-se impressão que a cidade segue o seu curso normal, mas basta sair das áreas principais do município que as 150 horas sem energia elétrica ficam evidentes. Na mesma linha, o hospital regional Lázaro Reis está aparentemente iluminado e funcionado plenamente, mas a dona de casa Tamires Moreira, 29, contou o que sofreu com a falta de energia elétrica no hospital.

Na quarta-feira, 24, a parte de baixo do hospital, onde ficam os internos, ficou apagada por cerca de duas horas e os pacientes, nesse período, não receberam atendimento, conforme relato de Tamires.

O marido da dona de casa, Esaú Silva, 25, disse que a mulher foi parar no hospital justamente devido a falta de energia na região. Eles moram na estrada que leva ao município vizinho, Novo Airão. Sem água na torneira, ela precisou ir à beira de um igarapé para dar banho nos três filhos e acabou sendo mordida por uma cobra.

“Aqui na área da emergência não falta energia, mas os interno lá de baixo ficaram mais de meia hora sem energia. Tivemos que intervir para pedir para ligarem o gerador lá para baixo”, disse Esaú Silva.

Nesta sexta, completa seis dias que Tamires Moreira está internada no hospital Lázaro Reis e ela disse que não houve mais falta de energia, porém, os internados sofrem com o intenso calor, já que os geradores não estão sendo utilizados para ligar os condicionadores de ar.

Calor intenso

Fora do hospital, para fugir do calor,  famílias estão reunindo-se nas calçadas, à beira da rua, sempre com algum objeto para conseguir se abanar, como nos tempos antigos. A diferença é que não se trata de uma tradição social, mas da única alternativa que eles têm com a cidade às escuras. Nesses grupos o assunto é apenas um: quando será que a luz vai voltar?

Comerciante Maria Raimunda se queixa do grande prejuízo que teve com perdas de mercadorias (Foto: Amazonas1)

“Só vejo falarem que está vindo gerador, mas para o nosso bairro não está chegando nada. As crianças sofrendo com carapanã, sem ventilador, numa quentura que só Deus mesmo sabe o que a gente está passando”, disse a comerciante Maria Raimunda, que mora no bairro Correnteza, um dos mais afastados do Centro da cidade. Ela reclamou que a conta da luz sempre chega e em valores mensais são por volta de R$ 600.

Não é a primeira vez

A conta também chega cara na casa de Aldenir Gomes, outro morador do bairro Correnteza. “A gente pensa que vai vim um papel mais baixo da luz no outro mês, mas aí vem mais alta do que o mês que a gente consegue usar a luz”, revolta-se. Ele também relembra que não é a primeira vez que o município fica sem energia.

Em fevereiro os moradores de Manacapuru passaram três dias sem o fornecimento de energia também devido ao rompimento do cabo subaquático, além disso, no começo desse ano houve frequentes quedas de energia na cidade.

“A primeira vez que aconteceu foi uma surpresa porque rompeu o cabo e ninguém estava preparado. Mas agora, já devia está tudo preparado e agora veio a segunda vez e parece que ficou do mesmo jeito”, criticou Gomes.

Comércio

A comerciante Maria Raimunda também falou do prejuízo nas vendas. “Um estrago medonho de picolé”, já que não foi possível mantê-los refrigerados. “Deixei seis baldes de sorvete no meu irmão, mas nem sei como está para lá porque ele tem motor (gerador de energia elétrica), mas não sei se ainda está funcionando”, lamentou.

Se comerciantes como a Maria Raimunda estão perdendo dinheiro, os vendedores de água e gelo só têm saldo positivo nessa falta de energia elétrica prolongada.

“O saco de gelo que custa R$ 10 em dias normais chegou a custar até R$ 70. Depois, chegou um pessoal com muito gelo vendendo mais barato e agora o preço está entre R$ 20 e R$ 30”, disse Katiane Oliveira, autônoma, que mora no bairro Biri-biri.

De acordo com nota oficial da empresa Amazonas Energia, o fornecimento de energia vai ser restabelecido neste fim de semana.