Manaus, 5 de maio de 2024
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Manaus, 5 de maio de 2024

Cenário

Omar: ‘ciência não se questiona, só se cumpre’

Senador falou ao Amazonas1 sobre balanço das atividades no Senado, CPI da Pandemia e a oposição ao presidente Jair Bolsonaro

Omar: ‘ciência não se questiona, só se cumpre’

Foto: Pedro França/Agência Senado

MANAUS, AM – Ex-deputado estadual, ex-vice-prefeito de Manaus, ex-governador e vice-governador do Amazonas, e atualmente, senador da República e presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mais importante da História da Nova República, Omar José Abdel Aziz (PSD) tem um currículo político extenso, mas há quem diga que a vida política de Omar chegou ao ápice em 2021, em meio a um ano também turbulento na sua vida pessoal.

Omar presidiu a CPI da Pandemia no Senado, que investigou a participação e o possível cometimento de crimes do governo federal na condução da crise da pandemia de covid-19. A figura do senador, que por muitas vezes foi considerada controversa, à frente da CPI refletiu o anseio de uma população indignada, que perdeu parentes para a pandemia. O senador, inclusive, também perdeu um irmão para a covid-19, Walid Aziz, faleceu no dia 10 de janeiro de 2021, vítima da doença.

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Mas além da condução firme da CPI, Omar deixou uma marca de enfrentamento de peito aberto ao presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), se consolidando como um dos principais nomes da oposição ao chefe do Executivo. O Portal Amazonas1 conversou com o senador sobre balanço do mandato em 2021, condução da CPI, entre outros assuntos. Confira a entrevista abaixo.

Amazonas1: Qual o balanço que o senhor faz da sua atuação no Senado em 2021?

Omar Aziz: Esse ano foi atípico, porque no Congresso, tratamos praticamente só sobre pandemia. Mas conseguimos aprovar o Auxílio Emergencial, PEC dos Precatórios e a CPI da Covid, que teve influência muito grande, pela qual criamos condições para que o Brasil vacinasse todo mundo. Nós fizemos o trabalho que o governo se negava a discutir, como as vacinas. Então foi um ano produtivo, apesar dos grandes problemas que o Brasil passa, como desemprego, falta de expectativa, mortes. Eu perdi meu irmão. Foi um ano difícil, mas em termos de trabalho no Congresso, fizemos o que podia ser feito.

AM1: A CPI da Pandemia colocou o governo federal nos eixos…

OA: Eu acho que não colocou nos eixos. O governo federal, na verdade, nunca entrou nos eixos. O que a CPI fez foi abrir o debate nacional, porque no primeiro momento antes da CPI, o presidente falava o que queria e todo mundo repercutia a favor dele. Mostramos para o Brasil na CPI é que existia muita falha, principalmente pelo o que aconteceu no Amazonas. Nós perdemos vidas por falta de oxigênio, e faltou iniciativa do governo federal em ajudar o estado do Amazonas.

Não bastava dizer que mandou dinheiro. Você não educa o filho bem só porque manda muito dinheiro pra ele, certo?! O presidente acha que, porque mandou dinheiro, está resolvido. É o caso que está acontecendo agora na Bahia. Enquanto pessoas estão doentes e perdendo tudo por causa de uma enchente, o presidente está se divertindo em Santa Catarina. O que falta é solidariedade. Se eu sou solidário a você, por exemplo, você fica muito mais confortado do que eu mandar dinheiro pra sua casa. Dinheiro é importante, mas não é tudo num momento de crise e mortes.

Postura incisiva de Omar Aziz na CPI da Pandemia agradou opositores do governo Jair Bolsonaro (PL). Foto: Edilson Rodrigues/ Agência Senado

AM1: Mas a CPI fez com que o governo federal acelerasse a compra de vacinas contra a covid-19, certo?

OA: Ah, isso com certeza! Todo mundo sabe disso. O Brasil nunca teve interesse em comprar vacina. Está provado, porque os depoimentos feitos à CPI mostraram isso com clareza!

AM1: Mas qual o senhor considera que foi um dos maiores ganhos da CPI?

Omar Aziz: Eu acho que o debate. Boa parte da imprensa tentava debater esse assunto e era cancelada pelo presidente. Jornalistas eram intimidados, tanto homens quanto mulheres, e qualquer coisa que um meio de comunicação noticiasse, eram agredidos. Você lembra que, no início da pandemia, faziam-se memes de programas de televisão no sentido de desacreditar as informações. Proibiu-se, inclusive, que o governo desse o número de óbitos no Brasil. Acho que o maior ganho da CPI, além da vacina, foi o debate aberto, e as pessoas passaram a não ter medo de falar a verdade.

AM1: Alguns setores da direita tentaram classificar o seu comportamento na condução da CPI como “autoritário”. Como o senhor responde a esse tipo de acusação? O senhor fez um trabalho difícil, mas como o senhor considera essas críticas?

OA: Não creio que tenha sido autoritário. Estávamos investigando mentirosos, investigando pessoas que permitiram que pessoas morressem aqui no Amazonas. O que me espanta é ter gente, inclusive parlamentares, que apoiam essas pessoas, que querem surfar na onda da direita, sendo que até outro dia eram de esquerda e que já foram de tudo quanto é partido do espectro político, e agora querem surfar na onda Bolsonaro. O que aconteceu foi isso. Aquele oportunismo político do momento, de que o Bolsonaro é forte no Amazonas, e que se precisa ficar do lado dele para ser forte politicamente, quando amigos, irmãos, parentes amazonenses estavam morrendo por falta de oxigênio aqui.

Se eu fui autoritário? Não creio ter sido autoritário, mas sim que eu fui muito duro, com profissionais do Ministério da Saúde e da área de Saúde que vieram para o Amazonas propagar um kit covid que matou os amazonenses. Se eu não tiver que defender os amazonenses, eu vou defender quem?

AM1: Qual a avaliação que o senhor faz do governo Jair Bolsonaro?

OA: A minha avaliação é a mesma de qualquer pessoa que pare para raciocinar um pouco. É um governo que não tem programa em área nenhuma. Na Segurança Pública, não há um programa. Na Saúde, se está acompanhando o fato de que o governo não quer vacinar crianças. O que é isso? Não dá para entender qual é a lógica disso. Por que não vacinar?

Omar Aziz critica Calheiros por vazar relatório da CPI: 'faltou respeito'
Omar Aziz e Renan Calheiros na condução da CPI da Covid – Foto: Agência Senado

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AM1: Qual é a sua posição a respeito da vacinação infantil contra a covid-19?

OA: Não é a minha posição… é a posição sua, de qualquer leigo, de qualquer pessoa sã, é ficar ao lado da ciência. Nenhum médico ou profissional ou cientista vai lhe ensinar a escrever uma matéria, assim como você não vai ensinar um médico, cientista ou profissional a dizer o que é bom ou não. Eu não entro nesse debate, porque não é um debate político. É a ciência que tem que debater. Não sou eu que tenho que achar, e sim me curvar à vontade de quem estuda e diz “isso aqui é bom, e isso aqui não é”.

Quando você sente uma dor, ou quando tem um mal-estar, você vai ao médico. Ele te passa os exames, e quando você volta, ele te dá o diagnóstico, e que você tem que tomar o remédio para melhorar. Você não toma? Ou você vai debater com o médico? Você não vai ligar pra mim e dizer “senador, fui no médico e ele me passou antibiótico e xarope. O que o senhor acha?” Eu não acho nada! O médico é que tem que achar! Nós temos que nos curvar à ciência. Quando você entra numa lancha para navegar, alguém estudou para fazer aquilo para te dar segurança quando entrar. A ciência é isso.

O que está acontecendo agora? Vai aumentar o número de casos de covid-19, mas não vai aumentar o número de óbitos, porque a vacina está protegendo. Eu não discuto aquilo que eu não entendo. Não vivo contra a realidade. Sempre fui uma pessoa que me curvei à capacidade das pessoas que estudaram para nos ajudar. Agora, eu não vou é pras redes sociais prescrever medicamento para ninguém. Vacina não é opinião política. Isso não nos cabe, como político ou jornalista, dizer que é contra ou a favor. A gente precisa se curvar e obedecer a quem está estudando e sabe o que é o melhor.

AM1: Falando de eleições 2022, o senhor é pré-candidato à reeleição no Senado, ou deve vir para algum outro cargo?

OA: Sou pré-candidato à reeleição ao Senado. Digo e repito: sou pré-candidato à reeleição.

AM1: Recentemente, o senhor publicou uma foto com o ex-presidente Lula nas redes sociais. A legenda, inclusive, dizia que foi um encontro em defesa da democracia. Alguns viram como o prenúncio de uma aliança para 2022. Isso já existe?

OA: O presidente Lula tem uma relação muito antiga comigo. Quando ele deixou a Presidência e eu era governador, sempre que ele vinha a Manaus, eu o recebia em todas as vezes. Estive com ele nesse dia, e no domingo seguinte, à noite, estive com ele no jantar em São Paulo. Com ele, sempre é uma boa conversa.

Omar Aziz tem encontro com o ex-presidente Lula em SP
Foto: Divulgação / Assessoria

AM1: Alguns políticos, como o Coronel Menezes, aliado do presidente Jair Bolsonaro, fazem alguns ataques bem pesados contra o senhor de vez em quando. Como que o senhor avalia isso?

OA: Não vou perder o meu tempo com isso. Quando me sinto ofendido, procuro a Justiça. Nunca fui de atacar ninguém, e não é agora, com a minha idade [63 anos], que eu vou atacar alguém. As pessoas falam o que querem, e a minha política sempre foi construir o bem. Não é atacando pessoas que eu vou construir alguma coisa boa para o meu estado ou para a minha gente. Se atacar pessoas resolvesse alguma coisa, esses programas apelativos que existem já teriam resolvido o problema do Brasil.

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pc