Manaus, 18 de maio de 2024
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Cenário

PL que muda nome de quem nasce em Figueiredo para ‘Feliz’ revolta moradores

A proposta já foi aprovada na Câmara Municipal e agora espera a sanção da prefeita Patrícia Lopes (União Brasil).

PL que muda nome de quem nasce em Figueiredo para ‘Feliz’ revolta moradores

Município de Presidente Figueiredo (Foto: Divulgação)

Presidente Figueiredo (AM) – Um projeto de lei (PL) que muda de ‘Figueiredense’ para ‘Feliz’ os nascidos no município de Presidente Figueiredo (a 119 quilômetros de Manaus) tem gerado polêmica entre os moradores da cidade do interior. A proposta já foi aprovada na Câmara Municipal e agora espera a sanção da prefeita Patrícia Lopes (União Brasil).

O autor da proposta de nº 023/2023 – que torna oficial o gentílico ‘FELIZ’ para designar todas as pessoas nascidas no município – é o vereador Marcos Nascimento (PSB). A matéria é só mais um exemplo de proposituras com baixa ou nenhuma relevância existentes no Amazonas.

No texto do PL diz que o município vive um “novo momento da história” e que, ao levar em consideração as belezas naturais, a exuberância de inúmeras cachoeiras existentes no local procuradas por turistas de todas as partes do estado, do país e do mundo, é possível ver que há “uma busca de harmonia com a natureza e a felicidade”.

Com base na afirmação, o criador do projeto afirma que a população pode dizer a todos que os munícipes nascidos na terra das cachoeiras são denominados de “Felizes”.

Na contramão do que afirma o parlamentar em seu projeto, os nascidos e moradores da cidade cobram a efetiva criação de políticas públicas que resolvam os problemas enfrentados por eles.

Em diversas publicações sobre o assunto nas redes sociais, os cidadãos demonstram revolta com a proposta. “Tanta coisa muito mais importante para o vereador se preocupar. As preocupações do vereador com o município, com todo respeito, estão passando longe do quilômetro 107 da rodovia BR-174”, disse uma das pessoas.

Outra pessoa comentou de forma irônica: “Tá feliz? Sim, acabei de ficar atolado no buracão ali, mas continuo feliz”. Outro completou: “É uma vergonha, falta do que fazer” e mais um desabafou: “A culpa são dos eleitores que votaram nele, cada povo tem os representantes que merece. E o pior que irão se reeleger ano que vem”.

A reportagem do AM1 teve acesso à fala de um dos vereadores no momento da votação. Em seu discurso, Odimar Cipriano (PDT) disse que o certo seria ouvir a população, mas a matéria foi aprovada por maioria da Casa Legislativa do interior, que possui 13 vereadores.

Nossa equipe também ouviu Jhon Sthevan, autônomo de 28 anos que nasceu e reside em Presidente Figueiredo, que assim como a maioria dos cidadãos discorda da proposta.

“Eu sou de Presidente Figueiredo e não concordo com essa mudança. Quem nasce aqui é figueiredense e ponto. Essa é a minha opinião e o que eu quero. Mesmo se mudarem se for aprovada mesmo, quando perguntarem para mim, a resposta vai sempre que sou figueiredense. Sou totalmente contra isso”, disse.

Péssima qualidade

Para o cientista político, antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, a qualidade dos representantes do povo amazonense em todas as esferas do Parlamento é péssima.

“O que acontece lá em Figueiredo não é diferente daqui de Manaus, do que acontece na Câmara Municipal da capital. Recentemente, os vereadores aprovaram um projeto criando o ‘Dia do Hip-Hop’, outro dia criaram o ‘Dia do Conservadorismo’. Um deputado estadual também apresentou e foi aprovado o ‘Dia do Cristão’, ou seja, projetos irrelevantes e é isso que eles estão fazendo e discutindo”, criticou.

Ademir pontuou que seria interessante os parlamentares da terra das cachoeiras discutirem e viabilizarem projetos políticos, voltados para a questão do turismo, da regulação da questão ambiental, questão das cavernas do local, uma vez que existem especificidades em relação ao assunto, sobretudo, por ser um município de turismo do estado.

O cientista político defendeu, ainda, que os vereadores façam o que foram eleitos para fazer, que é fiscalizar, atentar para a aplicabilidade do orçamento da administração pública, discutir temas como educação, meio ambiente e saúde para a melhoria da vida das pessoas que moram na cidade do interior.

“É uma visão inusitada, não é? O que também não é muito diferente na Câmara Federal. A gente pode ver o nível dos nossos deputados também com certas exceções, ver a qualidade deles. Nós estamos muito mal representados. A sociedade não tem participação nenhuma, eles decidem o que fazer e isso é muito ruim. A nossa representação é de péssima qualidade, tanto lá, quanto aqui”, frisou Ramos.

Outro lado

A reportagem tentou contato com o autor do projeto, por meio das redes sociais, mas não obteve êxito.

O Portal AM1 também pediu da assessoria de comunicação da Prefeitura de Figueiredo um posicionamento sobre o assunto e questionamos quando a proposta será sancionada pelo Executivo, mas não tivemos retorno. O espaço está aberto para esclarecimentos.

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