Manaus, 2 de maio de 2024
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Política

Planos e estratégias: trabalhos da CPI da Covid começarão nesta semana

Primeiras oitivas da CPI da Covid podem convocar ministros e ex-ministros para prestarem depoimentos

Planos e estratégias: trabalhos da CPI da Covid começarão nesta semana

Foto: MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO

MANAUS, AM – Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid começarão na próxima terça-feira (27) e as primeiras oitivas podem convocar ministros e ex-ministros para prestarem depoimentos. A expectativa do núcleo político do país é grande para o começo dos trabalhos.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já se articula para atribuir a culpa de possíveis omissões e irregularidades ao Ministério da Saúde, que ao longo de toda a pandemia de covid-19 foi comandada por quatro ministros: Luiz Henrique Mandetta, Ricardo Teich, Eduardo Pazuello e agora Marcelo Queiroga.

Principais nomes que compõem a CPI, o senador do Amazonas, Omar Aziz (PSD), que será o presidente, Renan Calheiros (MDB) e Randolfe Rodrigues (Rede), relator e vice-presidente da CPI, respectivamente, já definiram os primeiros passos da apuração.

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O ponto de partida será investigar as razões para a falta de vacinas no país, uma vez que o governo de Bolsonaro atrasou a compra de milhões de doses. No Brasil, a primeira imunização foi aplicada em 17 de janeiro, em São Paulo, com a vacina do Butantan. As doses não foram adquiridas pelo governo federal, mas sim pelo governo de João Doria (PSDB).

No Amazonas, a primeira vacinação ocorreu no dia seguinte, quando também começaram a chegar os primeiros lotes da CoronaVac e AstraZeneca.

Criação

O pedido de instalação da CPI da Covid no Senado foi feito em fevereiro, mas vinha sendo protelado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM), que foi eleito com apoio de Bolsonaro. Com isso, após senadores acionarem o Supremo Tribunal Federal (STF), foi determinada a instalação imediata da CPI no Senado.

O senador do Amazonas Plínio Valério (Rede), inclusive, não gostou disso. Segundo o parlamentar, ele é a favor da CPI mas contra a interferência do STF em assuntos do Congresso Nacional.

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Após instalada, na semana passada, foi determinada a composição da comissão. O senador amazonense Eduardo Braga (MDB) recusou ser relator, embora fosse o nome mais cobiçado para o posto. O cargo ficou para Renan Calheiros, um dos principais opositores a Bolsonaro.

Além da definição do presidente, vice-presidente relator, já citados anteriormente, compõem a CPI Tasso Jereissati (PSDB-CE), Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE), Ciro Nogueira (PP-PI), Eduardo Girão (Podemos-CE), Jorginho Mello (PL-SC) e Marcos Rogério (DEM-RO).

Dos 11 membros, apenas os 4 últimos são governistas ou próximos ao Palácio do Planalto.

Expectativa

Em suma, a CPI da Covid tem o objetivo de apurar ações e omissões no combate à pandemia pelo poder público, uma vez que a maioria dos estados do país sofreram com falta de recursos, superlotações nos hospitais públicos e até falta de oxigênio para pacientes.

Até esse sábado (24), o Brasil registrou mais 2.986 mortes e 69.302 novas pessoas infectadas. Com isso, chega ao total de 389.609 vidas perdidas e 14.307.412 casos da covid-19 desde o início da pandemia, mantendo-se como o segundo país do mundo com maior número de mortes totais pela doença, atrás apenas dos Estados Unidos.

Os senadores Omar Aziz, Randolfe e Renan Calheiros se mostram bastante empenhados em investigar as ações do governo federal. Nas redes sociais, o senador Omar Aziz afirma que um dos objetivos é fazer justiça aos quase 400 mil mortos pela doença.

“A CPI da Covid é diferente das outras porque, ao contrário das anteriores, ela está verdadeiramente dentro dos lares de todos os brasileiros. Infelizmente, todos nós perdemos um parente, um amigo ou um conhecido durante esta pandemia. Nós senadores vamos trabalhar para fazer justiça aos mais de 375 mil óbitos no Brasil. É o meu compromisso com o Amazonas e é o meu compromisso com o País”, disse.

Em entrevista exclusiva ao Portal AM1, o cacique político do Amazonas falou sobre a responsabilidade de comandar uma CPI no Senado.

“Ser presidente de uma CPI como essa tem ônus e bônus, também tem muito ônus. Tem que ter um comportamento muito equilibrado”, disse. Essa comissão pode ser o holofote que Omar precisa para o seu mandato por mais 8 anos.

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O senador Randolfe Rodrigues aparenta estar comprometido em investigar a fundo as tratativas ou não de compra e aquisições do governo federal para obter vacinas. Nas redes sociais, ele evidencia possíveis irregularidades do Ministério da Saúde, em postagem de dois dias atrás.

“Ainda em agosto de 2020, o Governo recebeu a proposta de aquisição das vacinas da Pfizer. Elas estariam disponíveis em dezembro de 2020. A CPI da Pandemia tem sua necessidade comprovada, documentada e infelizmente, marcada na vida de milhares de famílias em luto no Brasil!”, escreveu.

Já Renan Calheiros, afirmou, nas redes sociais, que fará o “trabalho com a maior isenção e interesse de que tudo seja esclarecido para que dias melhores cheguem logo para todos”. Nos últimos dias, o senador fez duras críticas a atuação do ex-ministro Eduardo Pazuello.

“O Brasil inteiro acompanhou o Pazuello. Foi um desempenho horroroso. Vamos apurar cada fase da sua presença” declarou em entrevista à Globo News no último dia 22.

Embora afirme que será imparcial nas investigações, Renan pode ter mágoas de Bolsonaro, já que o presidente apoiou a eleição do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em fevereiro, contra o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP).

No Senado, ajudou Rodrigo Pacheco (DEM-MG) a derrotar a candidata emedebista, Simone Tebet (MS). O Planalto acredita que Renan tentará levar a CPI a recomendar o impeachment do presidente da República.

Além disso, Renan foi próximo dos governos petistas e, agora, tem feito acenos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Articulação de Bolsonaro

O presidente Bolsonaro, por sua vez, já se articula para atribuir as irregularidades nas ações ou omissões ao Ministério da Saúde, que, inclusive, teve gestão bastante conturbada com quatro trocas de ministro. A principal estratégia do plano elaborado pelo governo federal é blindar o presidente Jair Bolsonaro.

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De acordo com O Globo, o plano é desviar o foco para a atuação de Estados e municípios. Pazuello, ministro da Saúde que ficou mais tempo no cargo em período de pandemia, porém, é um dos alvos principais da CPI. Por isso, o governo quer prepará-lo para as perguntas dos senadores, principalmente dos da oposição.

O ex-ministro deve se basear em documentos e dados para reforçar a narrativa de que a gestão Bolsonaro não foi omissa ao lidar com a pandemia ou com a crise do oxigênio em Manaus, em janeiro.