Manaus, 5 de maio de 2024
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Cenário

Por que políticos adotam perfil de super-heróis em ano eleitoral?

Especialistas afirmam que essa necessidade de se passar por homens perfeitos ou “super-heróis” se dá exatamente porque os políticos estão percebendo que a população não confia neles.

Por que políticos adotam perfil de super-heróis em ano eleitoral?

(Fotos: Arquivo pessoal/Nainy Castelo Branco/Divulgação)

Manaus (AM) – Em ano eleitoral se tornou comum ver antigos e novos políticos saindo de suas casas para estar “mais perto do povo”, com o propósito de ganhar o maior número de votos nas urnas. Mas, para especialistas em ciência política, essa é uma das estratégias que sempre foi usada por eles, e mesmo a população sabendo disso, ainda, sim, os elegem porque muitas vezes os consideram “heróis da sociedade”.

Os políticos, geralmente, adotam perfis de super-heróis quando alguma calamidade acontece e, a partir disso, vestem suas camisas eleitorais para “mostrar serviço” pela população atingida. Porém, há, também, aqueles que apenas se solidarizam pelas redes sociais e usam a plataforma para construir seus personagens.

Porém, conforme especialistas ouvidos pelo Portal AM1, o que eles [políticos] não percebem ainda é que os eleitores atuais estão super familiarizadas com a linguagem audiovisual e que eles publicam conteúdos que os mergulham no ridículo diariamente.

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João Miras, comunicólogo, especialista em comunicação de governos e possui mais de 30 anos de atuação na área (Foto: Arquivo pessoal)

Para João Miras*, especialista em comunicação de governos há mais de 30 anos, essa necessidade de se passar por homens perfeitos ou “super-heróis” se dá exatamente porque os políticos estão percebendo que a população não confia neles.

“Eles, na verdade, são mais imperfeitos que a própria média da população. Sendo assim, desesperados, exacerbam sua comunicação para píncaros do ridículo. A geração redes sociais vai varrer esse tipo de político do mapa da representação política. Quem viver, verá!”, disse o marqueteiro ao Portal AM1.

Necessidade de exposição

O comunicólogo ressalta que hoje, no Brasil, são poucos os agentes políticos que ingressam na política pelo ideal de servir e representar de fato a sociedade, o que acaba contribuindo para a existência da corrupção na política local.

“A maior parte deles entra por necessidade de reconhecimento, vaidade e ego ou desejo de escalar a cadeia social. É por conta desse último fator, inclusive, que temos tantos políticos corruptos no Brasil”.

Entretanto, Miras, que mora em Dallas, estado do Texas, nos Estados Unidos, faz uma comparação entre a política brasileira e a americana, e afirma que a corrupção representa a pobreza na educação política dos brasileiros.

“Esse quadro se deve ao fato de que, assim como a população em geral, também a própria classe dirigente teve diminuída sua capacidade educacional e intelectual nas últimas décadas. Aqui nos Estados Unidos as coisas são completamente diferentes”.

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Carlos Santiago, cientista político, sociólogo, advogado e coordenador do Comitê de Combate à Corrupção Eleitoral do Amazonas

O analista político Carlos Santiago**, também concorda sobre essa linha de pensamento, pois, segundo ele, a eleição desses representantes ano após ano irá continuar enquanto a população não pensar coletivamente no bem comum, pois esse perfil de “super-herói” é alimentado pela falta de educação política e interesse coletivo.

“Falta educação política, falta cidadania, falta consciência de interesse coletivo. E quando não se tem cidadania, consciência política, consciência de que o poder numa democracia está também em votar de forma consciente pelo bem da coletividade, o eleitorado buscará sempre um herói para exaltar, para adorar, para amar e para resolver os problemas”, afirma Santiago.

Para o sociólogo, quando os eleitores não conseguem encontrar um político com o perfil desejado, ou que partilha do mesmo pensamento, eles o tornam vilão, para culpá-los por todas as coisas ruins que acontecem na vida pública, na política e nos governos.

“Enquanto a sociedade não entender que ela é poder, que ela é quem define a cada eleição os rumos da cidade, e que tem que definir de forma responsável, buscando o bem comum, buscando os interesses de todos, a partir do mundo real, a partir das possibilidades reais e de fatos concretos, salvadores da pátria ou vilões estarão fortíssimos nas decisões políticas, principalmente na hora do voto”, explica Santiago ao Portal AM1.

Liberdade e informação

Para Miras, a criação dos “super-heróis” por parte dos políticos é considerada “deprimente”, uma vez que as personalidades políticas são egocêntricas e necessitam do fetiche da super exposição. “Os políticos só se sentem bem quando “aparecem”. No meu 2° livro tenho uma frase que define bem isso: “Antigamente os políticos não desciam do palanque. Hoje não conseguem descer do picadeiro”.

Quanto à questão da educação política, o especialista reafirma que uma boa parcela da população acredita nesses políticos por absoluta falta de formação educacional e informação.

Como a educação no Brasil fracassou de forma retumbante desde a redemocratização do país, só passamos a ver um aumento da massa crítica através da informação livre criada pelas novas tecnologias da informação, da qual as redes sociais são as mais importantes e expressivas.

“É por esse motivo que precisamos de redes sociais absolutamente livres, sem tutela do estado – assim como é aqui nos Estados Unidos -, para que a massa crítica da população continue se desenvolvendo através da comunicação direta e não mais através da educação formal que fracassou absurdamente na sua tarefa histórica, no Brasil”, compara.

“Falta mais liberdade. O Brasil precisa urgentemente de um choque de liberdade. Liberdade comunicacional gera massa crítica e evolução sociológica. Evolução sociológica gera evolução política e evolução da representação. O Hino da Proclamação da República no Brasil diz: “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. Das lutas na tempestade, dá que ouçamos tua voz”.

(*) João Miras também é Membro da AAPC (American association political consultant) e das maiores associações mundiais e no Brasil. Fonte para defesa de teses em várias universidades e citado em livros técnicos da área.

(**) Carlos Santiago é cientista político, sociólogo, advogado e coordenador do Comitê de Combate à Corrupção Eleitoral do Amazonas

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