Foto: Reprodução
MANAUS, AM – A polarização política entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido) – a nível nacional – também tomou partido no Amazonas, mas desta vez, no reduto mais improvável: no Partido dos Trabalhadores. Enquanto o deputado estadual Sinésio Campos e o deputado federal José Ricardo são fortemente lulistas, o vereador Sassá da Construção Civil, de Manaus, deu apoio a um político fortemente bolsonarista: o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante).
Tudo começou na última segunda-feira (23), quando Sassá da Construção Civil foi à tribuna da Câmara Municipal de Manaus (CMM) para defender David Almeida (Avante) no caso da distribuição de apartamentos do residencial Cidadão Manauara 2. Segundo ele, David não teria como saber das coisas que estavam acontecendo, e ainda aproveitou para dizer que o prefeito era um “ser humano de bem e uma pessoa da igreja”.
“Não vou defender o prefeito, mas elogiá-lo, porque sei que é um ser humano bom e uma pessoa da igreja. Certeza que ele jamais vai aceitar isso, porque na família, o pai e a mãe só sabem as coisas por último, e o prefeito é um pai. Tem muita gente que pega quatro ou cinco apartamentos, sendo deputado ou membro do Judiciário. Ninguém pode julgar todo mundo, mas nós temos que fiscalizar e cobrar mesmo”, disse.
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Curiosamente, a defesa de Sassá em favor do prefeito aconteceu um dia após um jogo de futebol no qual os dois estiveram juntos. No domingo (22), o petista jogou bola com David, servidores do alto escalão da prefeitura, e membros da Igreja Adventista da Avenida das Torres. Fotos da “pelada”, inclusive, foram publicadas nas redes sociais do próprio prefeito.
Não satisfeito, Sassá ainda “lançou” uma pérola, dizendo que não era “fiscal do povo”. “Tem blog ‘fuleiro’ que bota foto dos vereadores que ‘comeram abiu’. Isso é covardia, porque eu não tenho rabo preso com ninguém. Eu não sou candidato, não tenho rabo preso, e não sou fiscal do povo. Quem tem que investigar é o Ministério Público, e nós temos que punir. E se for colocar os errados, desde 2004, pode botar carretas e carretas, e não vai caber gente”, afirmou.
Racha no PT?
Houve quem visse na fala de Sassá um racha com a sua base e com o partido, adversário de carteirinha de políticos bolsonaristas. A reportagem procurou o presidente municipal do PT, Waldemir Santana, para comentar as declarações do vereador. Também foram procurados o deputado federal José Ricardo e o deputado estadual Sinésio Campos, principais lideranças políticas do partido; todos preferiram o silêncio – mais um sinal de que o assunto incomoda a todos petistas. Zé Ricardo e Sinésio andam se entranhando mais uma vez para ver quem será o candidato do partido ao governo do Amazonas, com declarada oposição de Sinésio ao deputado federal, desde os tempos de disputa pela Prefeitura de Manaus.
Já em nota, Sassá afirmou que sempre vai defender o trabalhador, e o Partido dos Trabalhadores é o único que lhe dá essa autonomia. “Não acredito que tenha racha no PT. Estamos fechados para fazer o melhor para Manaus, o Amazonas e o Brasil. A minha fala a respeito do prefeito foi no sentido de primeiro analisar as provas antes de julgar alguém. O prefeito já tomou as providências a respeito dos apartamentos, agora devemos esperar a investigação”, salientou.
O cientista político Helso Ribeiro aponta que, de fato, há um racha no ninho petista, mas entre os apoiadores de José Ricardo e Sinésio Campos. Sinésio teria apoio maior do que o de José Ricardo, segundo Helso, e Sassá, que já está no segundo mandato, seria alguém que “corre por fora”, até mesmo sem fazer oposição a Arthur Neto (PSDB), e agora, a David Almeida.
“A facção maior dentro do PT apoia o Sinésio, enquanto a minoritária, o José Ricardo. Já o Sassá corre por fora, e tem destaque porque tem mandato na CMM, então, tecnicamente, é alguém forte. E por ser alguém que tem mandato, o PT acaba tendo que engolir o Sassá, mesmo sem ele ter feito oposição ao Arthur Neto e agora ao David”, apontou o analista.
Ribeiro ainda acredita que a força política de Sassá pode levá-lo, talvez, a disputar um mandato à Prefeitura de Manaus. “Não vejo, ainda, o Sassá como uma liderança pra [sic] fazer frente ao Sinésio e ao Zé. Ele ainda não tem condições de fazer frente, mas estamos no campo do ainda. Quem sabe, num futuro, Sassá possa fazer frente contra os dois. É como cantava Belchior: ‘o novo sempre vem'”.
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