Manaus, 19 de maio de 2024
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Manaus, 19 de maio de 2024

Cenário

Sessões da CMM são marcadas por troca de farpas entre vereadores e poucas propostas

Com apenas 114 dias de trabalhos plenários, os vereadores ainda empenharam tempo para realizar discussões desnecessárias

Sessões da CMM são marcadas por troca de farpas entre vereadores e poucas propostas

FOTO: ROBERVALDO ROCHA / CMM

MANAUS, AM – Trabalhando apenas de segunda a quarta e com recessos generosos duas vezes ao ano, os vereadores da capital ainda destinam tempo para trocar farpas com colegas de parlamento ao invés de apresentar melhorias para a cidade. Essa característica marcou o primeiro ano de mandato dos vereadores da 18° legislatura, que protagonizaram diversos desentendimentos no plenário Adriano Jorge, na Câmara Municipal de Manaus (CMM).

Ao longo deste ano, segundo dados do Sistema de Apoio ao Processo Legislativo (SAPL) da Casa Legislativa, os vereadores realizaram apenas 114 sessões plenárias para votar projetos e discutir propostas. Porém, em muitas vezes o espaço foi usado pelos parlamentares para trocar acusações e difamar o mandato dos demais colegas de parlamento.

Uma das primeiras discussões do parlamento, ocorreu entre os vereadores Amom Mandel e Marcelo Serafim, durante a votação do requerimento nº 1932 de 2021 que solicitava informações da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), sobre as doses de vacina contra a covid-19 que iriam vencer até o dia 30 de abril na capital. A insistência de Amom no assunto, incomodou Marcelo Serafim, líder do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante) na CMM, que pediu que as cobranças fossem feitas diretamente a pasta da saúde.

“Sempre que tiver esse tipo de situação, eu peço que vossas excelências procurem a secretaria Shádia, que é uma pessoa de fino trato, que atende a todos. Nós precisamos ajudar, a colaborar nesse tipo de processo. É uma crítica construtiva que faço a vossa excelência”, disse o vereador Marcelo, na ocasião.

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Amom rebateu Marcelo Serafim dizendo que questionou a secretaria via ofício e não foi respondido. Além disso, Amom acusou Serafim de ser “subordinado” à Semsa após, segundo ele, ter sido servidor de carreira do órgão e acrescentou compreender o vereador pela defesa ao órgão.

“É completamente compreensível que o senhor, vereador Marcelo, como servidor de carreira da secretaria e hierarquicamente subordinado à secretária faça esse tipo de defesa, mas eu solicito que essas informações venham por vias oficiais, pela secretaria que sempre demorou a responder os requerimentos”, disparou Amom.

Marcelo Serafim, porém, rebateu, ao dizer que passou em três concursos públicos e primava pela meritocracia. “Todas as vezes que a secretaria de Saúde for atacada de forma leviana e injusta, eu sempre farei a sua defesa. Não estou defendendo porque sou subordinado. Defendo porque sou justo”, disse.

Com o passar dos meses, Marcelo Serafim e Amom voltaram a discutir, dessa vez o líder do prefeito saiu em defesa da Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), Jane Mara Moraes, após Amom revelar que a pasta teria distribuído alimentos vencidos nas cestas básicas ofertadas a vítimas da cheia do Rio Negro.

Serafim acusou Amom Mandel de “seguir com mentiras e enganações”, relembrando os questionamentos feitos por Amom na suposta distribuição de vacinas vencidas.

“Vamos parar com esse tipo de comportamento. As denúncias precisam ser feitas e as apurações serão feitas pelo prefeito David. Agora, quando a gente erra, é coisa de homem voltar e dizer ‘eu errei’. Coisa de menino é seguir com mentiras e com enganações”, afirmou o líder do governo.

“Muito fácil para as pessoas que nunca tiveram nenhum tipo de dificuldade na vida atirar pedras. A pessoa que não sabe quanto é um quilo de arroz, é fácil atirar pedras. Na pressa podem ter acontecido erros e todos os erros serão apurados”, comentou Serafim.

Briga por popularidade

O parlamento também foi palco de uma disputa por popularidade dos eleitores do bairro Compensa, o bate-boca foi entre os vereadores Capitão Carpê (Republicanos) e Rosinaldo Bual (PMN) girou em torno de quem trabalhava mais, ou menos, pelos moradores do bairro.

A discussão começou quando o vereador Raulzinho (PSDB) colocou em pauta o reajuste salarial da Polícia Militar do Amazonas (PMAM) e Bual defendeu o reajuste por entender os problemas enfrentados pela categoria. Em seguida, Carpê não concordou com o colega de parlamento e disparou: “falar todo mundo fala. Até papagaio fala”.

Em seguida, Bual subiu à tribuna para dizer que os eleitores estão com saudade do “super-herói das redes sociais”, fazendo referência à Carpê.

“O senhor que tanto prometeu mudar tanta coisa na rede social e hoje não sei o que aconteceu com esse super-herói da rede social, será que deram kriptonita que sumiu”, disse. Bual também indagou Carpê sobre a destinação de projetos para os moradores da Compensa. 

Dias depois, Bual voltou a instigar Carpê sobre a comparação com um papagaio, “Eu achei muito deselegante da sua parte e da forma que ele se direcionou a mim”.

Alterado, Carpê rebateu e sugeriu que o vereador realizasse uma enquete na Compensa para descobrir quem era o mais popular entre os moradores.

“Primeiramente quero falar ao vereador que quer saber quem é quem na Compensa é só fazer uma enquete lá. Desce lá na Cristo Rei, na rua Bom Jardim (e pergunta) quem é Capitão Carpê e quem é vereador Bual. Eu estou aqui há pouco menos de um ano e a Vossa Excelência está no seu segundo mandato e Vossa Excelência nesses dois mandatos não mostrou a que veio”, disparou o capitão.

Desentendimento

Outro desentendimento entre os vereadores ocorreu durante as discussões sobre o aumento na fatura de energia na capital, porém, o que deveria ser um espaço para discutir propostas acabou em troca de farpas entre Raulzinho e Rodrigo Guedes. O desentendimento começou quando Raulzinho usou a tribuna para expor alguns portais que o intitularam como o ‘ministro de Minas e Energia’, após o vereador votar a favor do aumento da Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública (Cosip).

“Eu não sabia que eu tinha sido empossado como ministro de Minas e Energia, fiquei muito lisonjeado. Vários portais botaram a minha foto como ministro de Minas e Energia e escreveram ‘Vereador Raulzinho aumenta a energia na cidade’. Eu fiquei muito feliz com a montagem”, ironizou o vereador.

Após algumas declarações, o vereador Rodrigo Guedes aproveitou o momento na tribuna, para cobrar Raulzinho sobre o aumento.

“Eu gostaria de dizer aqui ao vereador Raulzinho, que não é preciso ser ministro de Minas e Energia pra aumentar a conta de luz elétrica. Inclusive, Vossa Excelência demonstra profundo desconhecimento no momento que diz que o ministro de Energia aumenta conta de energia, não é. Quem aumenta é o conselho da Aneel”, apontou Guedes.

Em seguida, Guedes criticou a postura do vereador. “Aqui está uma conta de energia. A taxa de iluminação pública é cobrada aqui, nessa conta (…) Peço ao vereador que tenha postura porque esse tipo de brincadeira com a população não condiz com o Parlamento (…) Respeite a população, pois vai aumentar a conta de energia através do aumento da taxa de iluminação pública, que foi aprovada aqui na Câmara pelos vereadores.

Em seguida, o vereador Raulzinho disparou críticas a Guedes e afirmou que o parlamentar demonstra desconhecimento do assunto.

“Queria só fazer uma colocação, o próprio vereador que fala que eu desconheço, acabou de falou na tribuna que quem regulamenta a tarifa é a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Quem demonstra desconhecimento? Eu ou ele? Ele que vai nas redes sociais dizer que os vereadores aumentaram a energia”, respondeu Raulzinho.

Barraco pelo “puxadinho”

A construção do Anexo 2 da Câmara Municipal rendeu vários desentendimentos entre os vereados ao longo deste ano. Uma delas foi protagonizada entre Rodrigo Guedes e o presidente da Casa, David Reis (Avante), ambos discutiram sobre a necessidade de ampliar os gabinetes dos vereadores, mesmo que para isso a obra desembolsasse R$ 32 milhões dos cofres públicos.

Guedes defendia que o valor da construção fosse devolvido a Prefeitura de Manaus para ser investido nas áreas de Saúde, Educação e Infraestrutura. “Sou contra a construção desse prédio. Acho desnecessário. Lógico, que é legal e está dentro do orçamento da Câmara. É o duodécimo que recebemos para exercício do Parlamento, mas, nada impede que esse recurso seja devolvido para a Prefeitura. Eu tenho certeza que se nós consultarmos a população, 100% vai se opor a construção do anexo”, disse Guedes.

Porém, Reis acreditava que os vereadores precisavam de mais conforto e por isso, a construção de um novo anexo era necessário.

“Só quem não conhece as instalações da Câmara é que defende que o novo prédio não deva ser feito. Vossa Excelência foi infeliz quando chamou essa obra de ‘puxadinho’. Pode parecer com tudo, menos com um ‘puxadinho’. Eu tenho certeza que Deus irá nos dar vida para estarmos juntos inaugurando essa obra que não é minha, mas é a próxima instalação da Câmara Municipal de Manaus”, retrucou Reis.

Depois de vários embates, a obra foi proibida de ser executada por uma liminar judicial.

Sem relevância

Para o analista político, Carlos Santiago as desavenças entre os vereadores demonstram a falta de postura dos parlamentares e a falta de relevância do poder para a sociedade, Segundo o analista, os vereadores precisam rever suas prioridades no parlamento municipal.

“Os vereadores de Manaus têm dado um péssimos exemplo. Não fiscalizam o poder municipal, não produzem leis que beneficiem de fato a vida das pessoas e aprovam benefícios e privilégios para eles mesmo. Além disso, ainda tem conflitos, com ofensas, que são desnecessários. Essas discussões criam um perfil do legislativo municipal, que passa a ser visto como um poder sem grande relevância social e que gasta parte do seu tempo com discussões desnecessárias”, contou.

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