Manaus, 22 de junho de 2024
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Cenário

Silas reassume Frente Parlamentar e deve tentar aproximar evangélicos do Governo

Por ter uma postura de conciliação, alguns líderes cristãos veem Silas com desconfiança. O deputado é conhecido como um político do ‘centrão’, apesar de se intitular bolsonarista.

Silas reassume Frente Parlamentar e deve tentar aproximar evangélicos do Governo

(Foto: Senado/Silas Câmara/Instagram)

Manaus (AM) – O deputado federal Silas Câmara (Republicanos) deve assumir, neste segundo semestre de 2024, a liderança da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) na Câmara dos Deputados, o que pode ser uma ‘chance’ de o governo federal conseguir mais apoio e até se aproximar do segmento evangélico.

No início do ano passado, ficou decidido que o comando da Frente durante 2023 e 2024 passaria por um revezamento, a cada seis meses, entre o deputado Eli Borges (PL-TO) e o parlamentar do Amazonas.

A expectativa é que Silas tente fazer com que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja melhor aceito por essa parcela da sociedade, já que o presidente tem alta rejeição entre a maioria dos evangélicos.

O político se intitula bolsonarista, mas tem proximidade, boa relação e é até considerado um aliado de algumas figuras políticas da esquerda, como os senadores Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB) e outros nomes como Flávio Dino, que hoje é ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Eli Borges, ao contrário de Câmara, é bolsonarista “raiz”. Além de ser pastor, defende, na prática, os valores que hoje são a base do público que ainda mantém distância do governo petista.

A liderança nas mãos de Silas é vista como uma oportunidade de colocar em prática projetos de melhorar a aprovação do PT em relação ao público evangélico, que tem embates com o atual governo, principalmente, devido a pautas incompatíveis com os princípios defendidos pelo cristianismo.

Em agosto do ano passado, o parlamentar disse, durante uma entrevista, que não era amigo de Lula e nem da esquerda; mas não negou um diálogo com o governo para que políticas públicas de interesse da comunidade evangélica sejam atendidas.

Histórico

Silas iniciou a vida política em 1999, quando foi eleito deputado federal pela primeira vez, e exerce, atualmente, o sétimo mandato consecutivo na Câmara Federal.

Além de deputado, Câmara é pastor e empresário. Ele é ligado diretamente à Igreja Assembleia de Deus e membro de uma família que possui concessões de radiodifusão, como a Rede Boas Novas de Televisão.

Silas já concorreu ao cargo de prefeito de Manaus nas eleições de 2016, mas terminou em terceiro lugar na disputa.

Ao longo da carreira pública, o político já foi filiado a seis partidos. O parlamentar foi um dos 367 deputados federais que votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.

Em sua trajetória na vida pública, sempre afirmou defender os interesses do segmento religioso, o qual representa; mas também é conhecido como um político do “centrão”, que se adapta ao tempo e ao lugar ou “dança conforme a música”.

Por ter uma postura de conciliação, alguns líderes cristãos veem Silas com um olhar de desconfiança e até esperam um alinhamento com projetos que têm o objetivo de aumentar a influência de Lula sobre a bancada evangélica no Congresso.

Os partidos pelos quais ele passou revelam as suas alianças com os cristãos. Ele já pertenceu ao PTB, que hoje é o PRD e é um partido de direita e ligado ao bolsonarismo; outro partido no qual ele foi filiado foi o PSC, que tem como presidente o pastor Everaldo Pereira e é considerada uma sigla de direita.

A atual sigla de Silas é o Republicanos, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus e tem como seu presidente nacional o deputado federal Marcos Pereira, bispo da denominação.

Inclusive, há informações de que Silas, como presidente da FPE, deve articular apoio à candidatura de Marcos à presidência da Câmara Federal, que é um interesse do seu partido.

Benefícios para ambos

(Foto: Arquivo Pessoal)

O cientista político, antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, disse ao AM1 que o presidente Lula tem interesse em ter alguém favorável a essa articulação e que, por outro lado, Silas também ganha com essa aproximação.

“Se o Silas for o ator que estará conectado com o governo federal, será bem-vindo e o governo, naturalmente, vai fazer articulação e força para garantir o deputado à frente dessa Frente Parlamentar. E ele ganha muito mais forças, em suas diversas frentes, inclusive, diretamente aqui no Amazonas, e para beneficiar também os evangélicos”, pontuou.

Ademir frisou que o governo Lula tem interesse no voto dos evangélicos e que o deputado amazonense pode ser o “cavalo” do tabuleiro, que deverá fazer essa ponte junto ao público cristão.

Para o professor, esse processo deve beneficiar o deputado não apenas em seus interesses atuais, mas principalmente nas eleições de 2026.

O cientista político também lembrou que as igrejas não são hegemônicas (soberanas), mas que todas têm as suas contradições e conflitos internos e que um consenso depende muito do processo de negociação que se trava no interior delas.

“Existe o interesse de Lula no voto evangélico, em se manter uma frente em prol ao governo e o Silas pode ser esse elemento de negociação. O Silas também deve tirar proveito eleitoral desse cargo”, concluiu Ramos.

 

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