Manaus, 26 de abril de 2024
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Cenário

Acumulando derrotas, Braga insiste na empreitada de retomar governo do AM

Embora não confirme, o senador já se articula para disputar o governo do Amazonas pela terceira vez desde que deixou o governo em 2010

Acumulando derrotas, Braga insiste na empreitada de retomar governo do AM

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

MANAUS/AM – Acumulando derrotas na disputa pelo governo do Estado nos últimos anos, o senador Eduardo Braga (MDB) deve voltar a tentar pela terceira vez seu retorno à cadeira de governador do Amazonas. Há cerca de 10 anos ele está sem conquistar um cargo no Executivo, tendo sido derrotado até com quem escolheu apoiar em disputas pela Prefeitura de Manaus. Então, porque Braga, que quase não foi reeleito senador em 2018, ainda insiste em tentar retomar o governo?

Embora não confirme, o senador já se articula para disputar o governo do Amazonas pela terceira vez desde que deixou o comando do Estado em 2010.

Nas últimas três eleições para chefe do Executivo Estadual, desde que Braga deixou o governo, ele participou de duas disputas, sendo derrotado em 2014 pelo ex-governador José Melo (Pros), e, em 2017, foi derrotado por Amazonino Mendes (Podemos).

Na eleição de 2018, acumulando uma grande rejeição, Braga e o seu partido, o MDB, ficaram distantes da disputa pelo governo. O político focou todas as forças em sua reeleição para o Senado, e por pouco, mais precisamente 29,2 mil votos de diferença, conseguiu desbancar o ex-deputado Luiz Castro, e garantir sua reeleição.

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Aquele resultado demonstrou o quanto Braga segue sendo rejeitado pelo eleitorado em Manaus, hoje sendo seu principal obstáculo nas disputas eleitorais. O ex-governador ainda vislumbra de grande prestígio no interior, que é o que lhe garantiu a vitória em 2018.

Justamente por essa rejeição em Manaus, Braga também possui derrotas com os candidatos a prefeito que escolheu apoiar. Perdeu em 2012 com Vanessa Grazziotin (PCdoB) e também em 2020 com Amazonino Mendes. A única vitória que teve nos últimos anos nem pode ser colocada muito em sua conta, pois em 2016 venceu tendo apoiado a reeleição de Arthur Neto (PSDB), mas o político esteve bem distante da campanha do ex-prefeito, não tendo muita influência junto ao eleitor.

Eduardo Braga e Arthur Virgílio Neto na convenção que homologou a candidatura do prefeito e do vice Marcos Rotta, em 2016. Foto: Chico Batata

Sem novidades para eleitor

O cientista político Helso do Carmo analisa que Eduardo Braga só continua insistindo na disputa pelo governo do Amazonas por conta da segurança que tem em se manter no cargo de senador. Ou seja, mesmo derrotado tantas vezes, ele não corre o risco de ficar de fora da vida pública, pois os oito anos de mandato lhe garantem isso.

O exemplo disso pode ser visto em 2018, quando Braga focou forças em sua reeleição e nem cogitou participar da disputa pelo governo do Amazonas.

Alessandra Campêlo e Eduardo Braga em convenção do MDB, em 2018. Foto: Márcio Silva

Ainda segundo Helso do Carmo, com Braga na disputa não há novidades no pleito, pois diferente da última eleição em que Wilson Lima (PSC) era o ‘novo’, a representação da renovação política, desta vez, em 2022, não existe essa perspectiva.

“O que vejo é que os candidatos que se apresentam não têm nenhuma novidade, né. E aí será mais do mesmo. Os políticos tradicionais e o senador Eduardo Braga. O que se observa é que aqui em Manaus ele tem, cada vez mais, encolhido a votação dele. É bom lembrar que, nas últimas eleições, há 3 anos, ele perdeu para o candidato Luiz Castro aqui em Manaus. Ele conseguiu ganhar para o Senado trazendo votos do interior”, afirmou.

“Dos candidatos que vão se apresentar, provavelmente, o atual governador Wilson Lima, os demais têm bem mais idade do que o atual senador Eduardo Braga, o que para ele, de certa forma, é uma espécie de trunfo, porque ele tem aí a favor dele o tempo, então ele pode se candidatar outras vezes e, ainda que se candidate, ele pode perder, que continuará senador. Vejo as movimentações nessa direção”, analisou.

Legítimo

Para o também cientista político, Luiz Antônio, Eduardo Braga é um político amazonense de renome e possui uma trajetória longa e importante no estado, o que pode lhe ser favorável no pleito de 2022.

“Ele é um homem público que tem uma trajetória política importante no estado. Foi governador duas vezes, foi prefeito, tem uma liderança política na capital e no interior, resultado daquela velha escola do Gilberto Mestrinho. É legítimo da parte dele disputar a eleição. No processo eleitoral, você perde ou ganha, você vence ou é derrotado. Faz parte do processo”, disse.

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Mesmo assim, o especialista não acredita que o senador, se disputar o Governo do Amazonas no ano que vem, debaterá problemáticas ou soluções inovadoras para a região, como por exemplo, o sistema público de transporte e o desenvolvimento regional das Calhas do Amazonas.

“A questão que me parece central é: Eduardo Braga, Omar Aziz, Marcelo Ramos, Arthur Virgílio, seja os nomes que vierem a disputar as eleições 2022, não farão essas discussões. Não vão fazer discussões, por exemplo, sobre o sistema de transporte rodoviário e náutico, sobre financiamento do desenvolvimento regional nas calhas dos rios. Esse é o debate”, disse.

Imagem manchada

Além das derrotas e da possível falta de novidade nos discursos para o pleito do ano que vem, o senador Eduardo Braga também carrega consigo uma imagem já desgastada, uma vez que teve o nome citado em investigações da Justiça Federal.

Em 2018, ele foi alvo de inquérito autorizado pelo então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, para apurar um suposto esquema de pagamento de R$ 40 milhões do grupo J&F a congressistas do MDB. As suspeitas foram levantadas nas delações premiadas do executivo Ricardo Saud e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, e envolvem também outros quatro senadores da legenda, além do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rego.

Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Em novo desdobramento da operação, em 2019, Eduardo Braga foi intimado pela PF, numa operação que também realizou busca e apreensão, além das medidas de sequestro de bens a outros 10 parlamentares. Na época, o senador confirmou o recebimento da intimação e descartou ter sido preso ou alvo de busca e apreensão. Mais recentemente, em 2020, a mesma investigação passou a tramitar em segredo de Justiça.

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Antes disso, em 2013, o senador também virou alvo de investigação do STF, quando o presidente era Gilmar Mendes, por suspeita de formação de quadrilha, fraude em licitação e peculato. O caso era referente à desapropriação de um terreno para construção de casas populares, em Manaus, quando Braga foi governador do Amazonas.

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No pedido de investigação da Procuradoria-Geral da República, na época, foi destacado que o terreno foi comprado pela empresa Colúmbia Engenharia, em abril de 2003, por R$ 400 mil. Dois meses depois, o governo do estado do Amazonas desapropriou o terreno e pagou R$ 13 milhões de indenização à empresa. Uma valorização de aproximadamente 3.100%. O pedido dizia ainda que “há indícios de que Eduardo Braga teria contribuído para o desvio de vultosa quantia dos cofres do estado do Amazonas”.

Movimentações

No último dia 31, Braga e o deputado federal Silas Câmara (Republicanos) estiveram juntos em uma espécie de reunião ou encontro, conforme fotos publicadas pelo próprio deputado, em suas redes sociais, possivelmente de olho nas eleições 2022.

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No mesmo dia, Silas também publicou imagens de visita feita ao senador Omar Aziz (PSD). É bom lembrar que os três parlamentares figuram como velhos caciques políticos no estado.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Em território local, o deputado estadual Dermilson Chagas (Podemos) demonstrou reverência a Braga, em uma postagem, feita em março, celebrando a conquista da derrubada da medida que previa a redução do imposto de importação de bicicletas e que prejudicaria empregos do Polo Industrial de Manaus (PIM).

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Embora a conquista não tenha sido do senador, mas da bancada federal amazonense, Dermilson Chagas o classificou como “salvador da pátria”. Ambos tiveram uma aproximação durante as eleições 2020, quando Braga apoiou Amazonino Mendes (Podemos), a quem Dermilson defendia no período eleitoral, para a Prefeitura de Manaus.

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Além disso, uma das primeiras movimentações em 2021, foi a saída do deputado estadual Delegado Péricles (PSL) do bloco partidário em que a legenda estava na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), seguido de um pedido do deputado Fausto Jr (MDB) de criação de novo bloco, sob liderança de Péricles.

O MDB é comandado pelo senador Eduardo Braga e a mudança do deputado Péricles evidencia uma aproximação entre os parlamentares.