Manaus, 28 de abril de 2024
×
Manaus, 28 de abril de 2024

Cenário

Eleição neste domingo em Coari pode quebrar dinastia da família Pinheiro

Mesmo com escândalos e investigações, o clã comandado por Adail Pinheiro vem regendo o município nos últimos 20 anos

Eleição neste domingo em Coari pode quebrar dinastia da família Pinheiro

Foto: reprodução redes sociais

COARI, AM – Neste domingo acontece a eleição suplementar na cidade de Coari, no Amazonas. Os eleitores do município terão quatro opções nas urnas para elegero novo prefeito: Keitton Pinheiro (PP), Robson Tiradentes Junior (PSC), Zé Henrique (PL) e Mil Mitouso (PSB). A grande expectativa é saber se o candidato da família Pinheiro vai manter a dinastia que já dura, pelo menos, 20 anos.

Isso porque pesquisas realizadas na cidade do gás mostraram a vitória de Tiradentes Junior sobre todos os três candidatos no município. Em uma das mais recentes, ele aparece com 39% de aprovação dos eleitores; o segundo lugar é ocupado por Keitton Pinheiro com 35%; o terceiro por Zé Henrique, 10,5%; Mil Mituoso, 0,5%.

Os que não sabem dizer representam 8% e nenhum deles, nulo ou branco, 7%. Quando somente os votos válidos são analisados, Robson é o preferido com 46%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) com o nº AM-03793/2020.

Leia mais: Pesquisa aponta que Robson Tiradentes será eleito prefeito de Coari

Dinastia Pinheiro

A trajetória da família no comando de Coari começou pelo ex-prefeito Adail Pinheiro (PP), que abriu o reinado em 2001, reeleito em 2005, com mandato exercido até 2008.

Ele também conseguiu ser eleito em 2012 para voltar ao cargo no ano seguinte. Mas em novembro de 2014, Adail Pinheiro foi condenado a 11 anos e 10 meses de prisão. Ele responde pelos crimes de ”favorecimento à prostituição, indução à satisfação de insulsos sexuais, além de ter submetido crianças ou adolescentes à prostituição e exploração sexual.”

No início de 2017, Adail teve a pena reduzida em 10 anos e dois meses pela Justiça do Amazonas. Já em setembro deste ano, ele entrou com um pedido para anular a condenação sob justificativa de que o desembargador relator do caso cometia abuso sexual contra a neta, por essa razão, não tinha como continuar no caso; recurso foi rejeitado.

Leia mais: Pedido de anulação da sentença de Adail Pinheiro por pedofilia é recusado no TJAM

Apesar disso, Adail Pinheiro conseguiu emplacar seus parentes na política. É o caso do caçula, Adail Filho, que foi eleito prefeito do município em 2016, sendo reeleito em 2020. No entanto, ele teve a candidatura barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM), em razão do seu mandato vir a ser o terceiro seguido da mesma família, já que um mandato antes, Coari era comandada por seu pai.

Adail Filho e Adail Pinheiro. Foto: Divulgação

A defesa de Adail Filho, que tinha como vice na chapa, o primo Keitton Pinheiro, ainda tentou, mas não conseguiu reverter a decisão que determinou a realização de nova eleição em Coari, marcada para este domingo. A gestão do filho de Adail Pinheiro também foi envolvida em escândalos e investigações.

Em setembro de 2019, Adail Filho foi preso por envolvimento em suposto esquema criminoso operado em forma de organização criminosa, criada para fraudar licitações, lavar dinheiro e corromper a estrutura de poder do município de Coari.

A polícia fez busca e apreensão na casa da irmã dele, a deputada estadual Mayara Pinheiro, do PP. Promotores afirmam que o prefeito comandou o desvio de mais de R$ 100 milhões, em dois anos.

A investigação foi deflagrada pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM) por meio da Operação Patrinus. Adail chegou a ser considerado foragido da Justiça, mas se apresentou ao órgão no mesmo dia. Ele ficou detido por mais de uma semana no Batalhão de Choque da Polícia Militar, em Manaus.

Leia mais: Fantástico exibe casos de corrupção em Coari e prisão de Adail Filho

Funcionários fantasmas

No mesmo ano em que estreou como prefeito de Coari, Adail Filho também emplacou a irmã como vice, a médica Mayara Pinheiro. Atualmente, ela ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), após ser eleita em 2018, como a deputada mais votada no estado. Ao todo, Mayara ganhou 50.819 eleitores nas urnas.

Foto: reprodução redes sociais

Na Aleam, ela tem sido alvo constante dos órgãos de controle por suspeita de irregularidades. Em um deles, ela responde ao Ministério Público sobre suposto esquema na contratação de funcionários fantasmas em seu gabinete.

Na lista dos suspeitos, estão a sogra da parlamentar, a advogada Maria do Rosário Lima das Chagas; as ex-madrastas da deputada, Neide Maria Freire da Silva e Vivian Silva da Costa, além da atual madrasta da parlamentar, Sascha Thaís Cavalcante de Almeida e até a babá da filha dela, Déborah Feitosa Martins.

Leia mais: Mayara Pinheiro será investigada por suspeita de contratar funcionários fantasmas

Outros parentes de Mayara também suspostamente estão na lista de pagamento: a tia da deputada, Thiaury Joaquina Amaral Pinheiro; o tio da madrasta dela, Manuel Jamil Cavalcante; o primo Guillermo Alfonso Galindo Cardenas Nieto, e Sabrina Martins Mamed.

Até o marido de Mayara, o médico Luiz Reis Barbosa Júnior foi alvo de denúncia no Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM), por suspeita de acúmulo de cargos na Prefeitura de Coari. Segundo a peça, o médico ocupava cargos em dois postos da cidade, mesmo morando há dois anos em Manaus com a parlamentar.

Leia mais: Na folha de Coari sem trabalhar, marido de Mayara Pinheiro tem pagamento suspenso

Tudo em família

Outros membros do clã Pinheiro também ocupam cargos políticos no município: Jeany Pinheiro (PP), Dulce Menezes (MDB) e Neto Pinheiro (PP). Eles são tias e primo de Adail Filho, respectivamente. Cabe destacar que com a ida de Mayara para a Assembleia Legislativa, Keitton Pinheiro, que era vereador e presidente da Câmara Municipal, assumiu como vice na chapa de Adail Filho, em 2016.

Com isso, quem ficou no comando da Casa Legislativa, até o fim de 2020, foi a vereadora Jeany Pinheiro. Ela também administrou os cofres de Coari nesse período, após Adail e Keitton vencerem o pleito com quase 60% dos votos válidos, mas renunciarem aos cargos. Na ocasião, Adail alegou problemas de saúde.

Já em 2021, com o Parlamento renovado e após as posses, quem assumiu como presidente da Casa Legislativa foi Dulce Menezes, que também assumiu a Prefeitura de Coari, de forma interina, conforme estabelecido na lei orgânica do município.

Dulce Menezes vai pagar mais de R$ 1 milhão em rapadura, doce de leite, chocolate e pirulito
Foto: reprodução redes sociais

Mesmo com pouco tempo à frente de Coari, Dulce Menezes foi uma das campeãs em irregularidades noticiadas pelo Portal Amazonas1 ao longo de 2021. Uma delas, segundo o Ministério Público, foi o crime de nepotismo: a prefeita interina nomeou sete parentes na administração municipal, incluindo irmãos, filho e nora.

Leia mais: Curubão e Dulce Menezes acumulam processos nos órgãos de controle

Em outra denúncia feita no TCE-AM, ela foi denunciada pela contratação de uma empresa para a locação de 30 motos, pelo valor de R$ 4 mil cada uma. Multiplicando, os gastos mensais chegam a R$ 120 mil, anualmente, R$ 1,4 milhão.

Também foram questionados na Corte de Contas a compra e locação de oito carros de luxo por R$ 3 milhões bem como outro gasto de R$ 4,8 milhões para combustíveis.

Cabo eleitoral

Durante a campanha eleitoral no município, Dulce Menezes atuou como cabo eleitoral do candidato da família. Em um deles, ela participou de reunião com pastores evangélicos; o evento foi postado nas suas redes sociais.

Dulce
Keitton Pinheiro e Dulce Menezes

Para para evitar o uso da máquina pública na eleição suplementar de Coari, a conselheira do TCE-AM, Yara Lins, determinou que a Prefeitura de Coari está proibida de realizar qualquer pagamento considerado não essencial até a posse do novo prefeito da cidade. Apenas as despesas com saúde e educação continuarão sendo quitadas.

Leia mais: Cabo eleitoral dos Pinheiros, Dulce é proibida de realizar pagamentos não essenciais em Coari

Na verdade, a candidatura de Keitton recebeu apoio pesado de toda a família Pinheiro, incluindo o ex-prefeito Adail Pinheiro, que reapareceu nas ruas de Coari pedindo votos para o sobrinho. Ele contou, ainda, com ajuda dos primos, Adail Filho e Mayara Pinheiro. Agora, resta aguardar para ver se isso será suficiente para manter o clã no poder pelos próximos três anos.

Adail Filho, Adail Pinheiro, Mayara Pinheiro e Keitton Pinheiro. Foto: reprodução redes sociais

Acompanhe em tempo real por meio das nossas redes sociais: Facebook, Instagram e Twitter