Manaus, 26 de maio de 2024
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Manaus, 26 de maio de 2024

Cenário

Marcelo Ramos critica campanha antecipada, elogia CPI e pede autoavaliação aos políticos

O protagonismo de Marcelo Ramos a nível estadual o levou a ser vice-presidente da Câmara; agora, seu lema principal e repetido em todo o país é "vacina no braço e comida no prato"

Marcelo Ramos critica campanha antecipada, elogia CPI e pede autoavaliação aos políticos

Foto: Agência Brasil

MANAUS, AM – São 47 anos de idade e mais de 21 de vida pública. Marcelo Ramos iniciou sua trajetória onde muitos gostariam de ter êxito: no movimento estudantil, em entidades como a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e a União Nacional dos Estudantes (UNE). Marcelo começou sua vida militando no Partido Comunista do Brasil (PCdoB), mas foi migrando da esquerda para o centro. Hoje, em 2021, ele pertence ao Partido Liberal (PL).

Foi eleito suplente de vereador em 2004, e em 2007, assumiu mandato na Câmara Municipal de Manaus. Em 2010, foi eleito deputado estadual, e nas eleições de 2014 e 2016, concorreu ao Governo do Estado do Amazonas e à Prefeitura de Manaus. Eleito deputado federal em 2018, Marcelo Ramos assumiu o protagonismo em diversas ocasiões, e atualmente, é o primeiro amazonense a ser vice-presidente da Câmara dos Deputados, fato inédito na história política do Amazonas.

A reportagem do Amazonas1 conversou com o deputado estadual sobre sua vida, carreira, eleições e outros assuntos; confira.

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AM1: Deputado, hoje você é vice-presidente da Câmara dos Deputados. O que isso mudou seu mandato e o que implica para o Amazonas?

MR: Acho que a minha eleição à vice-presidência da Câmara dos Deputados dá mais voz às nossas pautas e amplifica o apoio aos verdadeiros interesses do Amazonas no Congresso. Tanto que, nas conversas que resultaram na indicação para compor a chapa com o presidente Arthur Lira, consegui dele o compromisso com a manutenção das vantagens comparativas da Zona Franca de Manaus, compromisso esse selado e anunciado pelo presidente da Câmara quando esteve no Amazonas. Meu objetivo é seguir trabalhando e orgulhando o povo do Amazonas.

AM1: De alguma forma, a vice-presidência lhe coloca em posição de destaque a ponto de pensar em ser candidato ao Governo do Amazonas?

MR: Neste momento de grave crise sanitária, econômica e social, seria uma insensibilidade muito grande gastar minha energia com eleições. Preciso concentrar minhas ações para garantir vacina no braço e comida no prato dos amazonenses e dos brasileiros.

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AM1: Caso sua posição seja a de não ser candidato ao governo, a quem o senhor pode apoiar? O governador Wilson Lima teria sua preferência?

MR: Pela mesma razão pela qual não quero concentrar meus esforços no meu destino político, me recuso a discutir candidaturas neste momento.

AM1: Nomes como Amazonino Mendes, Eduardo Braga, Silas Câmara, políticos tradicionais do Estado, continuam em evidência e buscando se manter em cargos públicos. O que o senhor pensa a respeito dessa geração de políticos e como vê a renovação da política no Amazonas com jovens se destacando no cenário nacional, como o seu caso?

MR: Toda renovação sempre oxigena o cenário político, desde que haja quadros com qualidade a representar a população. Sobre os quadros mais experientes, é importante, também, ter políticos que deram suas contribuições com mandato e que ainda podem seguir contribuindo. A mescla da experiência e da renovação tem a minha simpatia.

AM1: O fato da classe política estar em tanto descrédito com o povo é um sinal de que os políticos precisam reavaliar comportamentos? É possível melhorar a imagem dos políticos com a população?

MR: Acho que qualquer político sempre deve ter como norte o interesse da coletividade. Isso implica, também, em uma autoavaliação constante e o foco em ouvir muito, sobretudo, seus representados. A piora na imagem dos políticos se deve, nos últimos anos, à grande polarização e radicalização entre duas forças, sendo que um dos lados deu grande contribuição para a criminalização da política. No entanto, não acredito que há outra saída para a manutenção da democracia fora da política. Evidente que muitos políticos podem ter contribuído para a imagem negativa da classe. Mas temos de entender que há muitos quadros bons na política e que, no fim, a própria população acaba separando o joio do trigo e reprovando os que não honraram seu voto.

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AM1: Na condição de um parlamentar que trabalha com questões nacionais por conta da vice-presidência da Câmara, qual é a sua avaliação sobre a polarização entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula? Essa centralização de forças em dois nomes é boa para o Brasil?

MR: O ideal para o Brasil seria que a população tivesse a opção de escolha entre nomes de diferentes espectros partidários, com candidatos de centro, direita e esquerda. Até aqui, a polarização só trouxe mais radicalização e a precarização do debate e da nossa democracia.

AM1: Deputado, o senhor tem reiterado o lema “vacina no braço, comida no prato” para que o Brasil saia da pandemia. Isso não resume, apenas, a ser vacinado e ter comida na mesa, certo? Que soluções, então, seriam as ideais para que o Brasil saia da crise?

MR: Sim. Vacina no braço e comida no prato é um bordão meu que ganhou o Brasil e ecoou um apelo nosso para que todos os unamos para mitigar a pandemia e seus efeitos nefastos. Vacina e comida, hoje, são as nossas duas emergências, inadiáveis. Mas há, ainda, outras pautas, que passam pelo Congresso e pelas quais estamos lutando: uma reforma tributária que mantenha a competitividade da Zona Franca de Manaus e que torne nosso sistema tributário mais justo, penalizando menos os mais pobre, e mais simplificado.

Temos, ainda, outro desafio que é gerar riquezas e empregos no Amazonas com a floresta em pé. Para isso, tenho dois projetos de lei importantes: o PL que Regula o Mercado de Carbono do Brasil e o projeto que incentiva a diversificação do mix de negócios na ZFM, com a atração de empresas voltadas à bioindústria, que não devastam a floresta e geram novas oportunidades, que sejam mais identificadas com a nossa região.

AM1: A CPI da Covid presidida pelo senador Omar Aziz tem feito o papel dela de forma adequada?

MR: Acredito que o senador Omar Aziz tem cumprido o que havia prometido. Uma condução técnica, pautada pela moderação, mas atenta às questões relacionadas à atuação das autoridades no combate à pandemia no Amazonas.

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AM1: Deputado, o senhor acredita que o governo federal esteja tomando as medidas necessárias para a saída da pandemia?

MR: Todas as nossas mazelas no que se refere às ações para a mitigação da pandemia começaram com o negacionismo. À medida que se nega a existência do problema, fica-se desobrigado a agir, ou a agir sem o sentido de urgência que o momento exige. Evidente que houve muitos erros na condução da crise que poderiam ter sido evitados poupando muitas vidas. Mas, com o avançar da CPI da Pandemia, creio que muitas questões serão esclarecidas e responsabilidades apuradas.

AM1: Depois que o Amazonas sair da pandemia ou, pelo menos depois que boa parte da população for vacinada, o que vai ficar de tudo isso em termos econômicos e políticos?

R: Algumas das mais importantes lições que devemos tirar dessa tragédia sanitária, penso, será a de que a ciência e somente os especialistas devem ter a primazia e ser ouvidos pelos políticos nas tomadas de decisão, por exemplo, em emergências sanitárias como a que vivemos agora. E que estamos todos no mesmo planeta. De nada adianta presidentes e governadores entrarem em rota de colisão. De nada adianta se um país ou estado se vacina enquanto outros sofrem com falta de imunizantes. Afinal, o vírus não vê fronteiras e avança, podendo contaminar até mesmo os que se julgam seguros.

A solidariedade entre países e entre a classe política deve prevalecer, porque somente um esforço de união nacional e mundial pode garantir a sobrevivência da humanidade na terra. Quanto à economia, penso que esta começa a reagir a partir do momento em que consigamos, juntos, superar essa tragédia. Não existe um remédio pra pandemia e outro pra economia. O único remédio, agora, é vacinar, vacinar e vacinar.