Manaus, 3 de maio de 2024
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Cenário

Pai e filho e ex-vice-governador são os vereadores com mais votos na história de Manaus

As votações expressivas na capital foram registradas em 2004, 2008 e 2012, sendo 58.703 o maior número de votos individual. Em 2016 e 2020 o número sofreu uma queda de 76%.

Pai e filho e ex-vice-governador são os vereadores com mais votos na história de Manaus

(Fotos: Reprodução/Redes sociais/Divulgação)

Manaus (AM) – Os eleitores de Manaus já elegeram três vereadores com exatos 58.703, 35.518 e 18.109 votos para ocuparem uma cadeira na Câmara Municipal de Manaus (CMM). Os números são recordes de votação para o cargo na história da capital amazonense nos últimos 20 anos.

As votações expressivas foram dadas ao ex-deputado federal Sabino Castelo Branco; ao ex-vice-governador Henrique Oliveira e ao ex-vereador Reizo Castelo Branco, que é filho do campeão de votos em pleitos na cidade.

Os dados estão disponíveis no sistema de Divulgação de Candidaturas e Contas, o ‘DivulgaCand’ do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e em sistemas públicos de apuração de eleições. A reportagem do AM1 consultou os dados nos dias 21 e 22 de fevereiro.

As três figuras políticas não exercem atualmente cargos eletivos no estado ou capital. Sabino se encontra em recuperação desde o ano de 2017, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Já Henrique Oliveira foi vice-governador, de 2015 a 2017, deixando o cargo depois de ter sido cassado pela Justiça Eleitoral junto ao o ex-governador José Melo. Depois disso, o político se candidatou ao cargo de deputado federal, em 2018, mas não foi eleito; em 2020 disputou uma vaga para o cargo de vereador e também não obteve êxito; em 2022 tentou o cargo de governador, quando novamente não se elegeu.

Reizo Castelo Branco tentou uma vaga na Câmara federal em 2018, quando ainda exercia o mandato de vereador na CMM, mas não foi eleito. Nas eleições de 2020, também não conseguiu se reeleger.

Sabino Castelo Branco

O ex-deputado Sabino Castelo Branco foi eleito a vereador em 2004 com o maior número de votos de Manaus, quase 60 mil, um percentual de 7,73% naquele pleito.

Em segundo lugar, como o mais votado naquela disputa, ficou o ex-deputado Praciano (PT), que obteve 12.502 votos – o que significa que Sabino teve quase cinco vezes a quantidade de votos recebida pelo petista.

Na terceira posição, estava Mirtes Sales, com 10.303 votos em 2004. Sabino foi eleito, na época, pelo Partido Progressista (PP) e Mirtes foi eleita pelo antigo Partido Popular Socialista (PPS).

O número expressivo de votos fez com que Sabino disputasse uma vaga na Câmara federal depois de dois anos, sendo eleito deputado federal com um total de 138.932 votos, ficando como o segundo mais votado para o cargo, perdendo apenas para Carlos Souza que obteve 147.212 votos. Castelo Branco foi reeleito em 2010 com 93.112 votos, garantindo a penúltima vaga entre as oito destinadas ao Amazonas.

No pleito de 2012, ele se candidatou ao cargo de prefeito de Manaus, ficando na quinta posição com 69.499 votos (7,30%).

Na eleição de 2014, ele concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados e não foi eleito, mas em 2016, assumiu a cadeira de Marcos Rotta (sem partido) na Casa, que renunciou ao cargo para ser  vice-prefeito de Arthur Neto (sem partido). Sabino não concluiu o mandato, uma vez que sofreu o AVC no dia 13 de agosto de 2017.

As votações demonstram um declínio em relação aos números registrados em suas primeiras disputas. Na última disputa, ocorrida em 2014, Sabino ficou na nona posição, com 69.708, o que significa que ficou a uma colocação da última vaga destinada aos deputados amazonenses em Brasília.

Henrique

O ex-vice-governador Henrique Oliveira, também conhecido como ‘Cabeção’, foi outro nome do Parlamento Municipal com recorde de votos do eleitorado manauara.

No pleito de 2008 foi o vereador mais votado com 35.518 votos, após ele estava Alberto Carijó com 13.865 votos e em terceiro Reizo Castelo Branco que recebeu 12.327 votos naquele pleito.

Em 2012, Oliveira disputou o cargo de prefeito ficando na terceira colocação com 156.648 votos ou 16,46% dos votos válidos. O eleito foi Arthur Neto, que venceu a candidata do PCdoB, Vanessa Grazziotin, no segundo turno.

Na eleição de 2014, Henrique saiu vitorioso como vice-governador, na chapa encabeçada por José Melo. No ano seguinte de eleição, 2016, ele se desincompatibilizou da função e disputou novamente a prefeitura da cidade, ficando em oitavo lugar na disputa com 16.825 votos válidos.

Henrique também se candidatou nas eleições seguintes. Em 2018, ficou na 45ª posição para um cargo na Câmara dos Deputados, recebendo 13.481 votos; em 2020 ficou na 370ª posição com apenas 715 votos para o cargo de vereador.

Já nas eleições de 2022, o político obteve 0,50% dos votos (9.596), ficando em penúltimo lugar na disputa para governador, que contava com oito candidatos. Oliveira ficou na frente somente da candidata do AGIR, Nair Blair.

Reizo

Reizo – que foi o terceiro vereador mais votado da história de Manaus –, com 18.109 votos em 2012, chegou a se candidatar a deputado estadual em 2014, ficando na 33ª colocação, com 13.993 votos.

Na mesma disputa, a mãe do político, Vera Castelo Branco, recebeu 19.415 votos, mas não garantiu uma vaga na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), por questão de coligação, ficando apenas como suplente pelo antigo PTB, que agora é o PRD, a partir da sua fusão com o Patriota, ocorrida em novembro do ano passado.

Já na eleição municipal de 2016, Reizo foi reeleito ao cargo de vereador como o terceiro mais votado, totalizando 10.403 votos. No pleito de 2018, ele concorreu ao cargo de deputado federal, mas não foi eleito, conquistando apenas a 12ª posição com 2,54% dos votos ou 44.789.

Nas eleições de 2020, o político obteve apenas 1.779 votos, não conseguindo manter sua cadeira na Câmara municipal. Na colocação geral, ele ficou da 149ª posição na disputa. Em 2022, Reizo não se candidatou a nenhum cargo eletivo.

Recentes

Em relação às eleições municipais mais recentes, ocorridas em 2016 e 2020, os campeões de votos foram João Luiz e João Carlos, com 13.978 e 13.880, respectivamente. Ambos são ligados à Igreja Universal do Reino de Deus.

Na disputa de 2016, João Luiz, que atualmente é deputado estadual, obteve 13.978 votos para vereador, depois dele estava Hiram Nicolau, que se elegeu pelo PSD com 12.874 votos e, em seguida, Reizo.

Já em 2020, João Carlos obteve 13.880 votos; depois dele, está Joelson Silva (Sem partido), que foi votado por 12.493 pessoas e também é ligado ao segmento evangélico, especificamente, à Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amazonas (IEADAM).

Se comparada a quantidade de votos do campeão de votos, em 2004, com o mais votado em 2016, ou seja, a maior votação individual mais antiga com as mais recentes, é possível verificar uma queda de 76,19%. Já em relação ao pleito de 2020, essa queda chega a 76,36%.

Menos votados

Na eleição de 2004, o menos votado foi Williams Coelho da Silva, o ‘Tatá’, eleito pelo antigo PSDC, com 2.245 votos. Em 2008, o que teve o menor número de votos foi Ademar Bandeira (PT), que obteve 2.221 votos, Hissa Abrahão, na época, foi o segundo menos votado pelo PPS com 2.338 votos.

Em 2012, Everaldo Farias (PV) conseguiu a última vaga na Casa Legislativa Municipal, com 3.465 votos. Já em 2016, a atual deputada estadual Joana Darc foi quem conseguiu a última cadeira disponível pelo antigo PR ao obter 3.261 votos.

No pleito municipal de 2020 e último até o momento, o vereador Antônio Peixoto (AGIR) foi quem menos recebeu votos, somente 2.450 votos.

Mudanças e inovações na legislação

O Portal AM1 ouviu alguns especialistas e questionou se era possível fazer uma análise do motivo de não haver mais votações expressivas de vereadores como as ocorridas nas eleições de 2004, 2008 e 2012, levando em consideração fatores como mudanças na legislação eleitoral, predominância de programas de televisão com viés de assistencialismo, entre outros.

Para o cientista político e professor Breno Rodrigo Leite, as votações expressivas se deram devido a uma combinação de fatores, entre os quais ele destaca: o poder midiático importante na época, um contínuo processo de fragmentação partidária e parlamentar, além de uma maior fiscalização de órgãos de controle.

“O poder midiático era muito importante na época. As inserções televisivas diárias, em horários estratégicos, atingiam um público de eleitores nas classes de renda C, D e E. O crescimento das redes sociais provocou um declínio relativo na audiência de tais programas de TV e um aumento significativo da concorrência pelas curtidas nas redes sociais”, destacou.

Leite frisou, ainda, que as mudanças de regras, como cotas para candidaturas femininas, entre outras inovações na legislação eleitoral, foram determinantes nessa mudança, assim como a judicialização nesse processo também interferiu na redução de votos a um específico candidato.

“Houve um contínuo processo de fragmentação partidária e parlamentar, cartelização (combinação) dos rótulos partidários e redistribuição assimétrica das verbas eleitorais (e partidárias) para outras candidaturas (cotas para mulheres, entre outras inovações adicionadas à legislação eleitoral). Em terceiro, o Ministério Público e outros órgãos de controle passaram a fiscalizar a atuação do programas na captação clientelística de cidadãos carentes para fins eleitorais, oferecendo denúncia e cassando judicialmente os candidatos por abuso de poder econômico. A judicialização da política e dos processos eleitorais tornou-se também fator impeditivo e limitador”, explicou Breno.

Heróis da Pátria X Ungidos por Deus

Na visão de Raimundo Nonato Silva, cientista político e professor do Departamento de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), cada eleição é um contexto e uma situação, e configura uma cultura política especifica.

“As eleições para vereador e prefeito em 2016 refletiu a situação vivenciada do Brasil nas eleições de 2014 e pós-eleição, com inflação a 10,67% em 2016, bem acima da meta, a reprovação do Governo Dilma atingindo 70%, índice de violência em patamares elevados, fazendo com que os ventos políticos dos bons tempos do Governo Lula, não fossem capazes de minar a estrutura centrada no personalismo. Os candidatos eram apresentados e se apresentavam como os ‘heróis da pátria’, àqueles que iriam tirar o cidadão do caos”, pontuou o especialista.

Raimundo enfatizou que essas situações favoreciam a ascensão dos ‘paladinos laicos e os ungidos por Deus, além dos mais votados contarem com um ‘item a mais’ na disputa, que era a garantia de exposição pública.

“Um número significativo de candidatos eleitos se valeram de sua exposição pública através de programas de TVs e rádio que os credenciavam a cargos eletivos estaduais, federais e municipais e dos caminhos da fé. Muitos deles, transvertidos de paladinos e de emissários divinos direcionavam seus discursos para a população das periferias e acontecia uma captação expressiva de votos. No decorrer dos tempos, essa estratégia de exposição foi perdendo a densidade, porém, ainda perdura como instrumento de exposição com fins eleitorais”, disse.

Movimentos distintos

O cientista político fez uma comparação entre as estratégias eleitorais adotadas pelos campeões de votos das duas últimas eleições municipais para as anteriores. Para ele, há dois movimentos distintos, sendo o primeiro a exposição pública expansiva detectada antes do pleito de 2016, com o foco na população da periferia, independente do seu credo religioso e sua ideologia política e, o segundo, uma captação de votos pulverizados pelos evangélicos pentecostais.

“Em perspectiva à referida situação, nota-se ‘que nem todo irmão vota em irmão’, por isso, a disparidade de votos entre os campeões de votos, em pleitos anteriores às eleições de 2016 e as eleições posteriores. Ressalta-se, no entanto, que a estratégia política adotada pelos segmentos religiosos citados, os votos de rebanhos pastorais, é adotada por candidatos laicos, há tempo eles arrebanham clubes esportivos, grupos folclóricos, associações de moradores, líderes comunitários, conselheiros tutelares e associações de classe. Isso, de certa forma, gera menos espaço para o surgimento dos campões de votos, há muitos campos e segmentos em disputa, aquecendo e mantendo vivo o mercado eleitoral”, finalizou o professor.

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