Manaus, 20 de maio de 2024
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Manaus, 20 de maio de 2024

Cidades

Queimadas: Manaus registrou mais de 7 mil internações por doenças respiratórias de janeiro a julho

Diante do período da estiagem, seca dos rios e queimadas têm crescido progressivamente o número de internações por doenças respiratórias na capital amazonense.

Queimadas: Manaus registrou mais de 7 mil internações por doenças respiratórias de janeiro a julho

(Foto: Vinícius Mendonça/Ibama)

Manaus (AM) – Neste domingo (23), os termômetros da capital amazonense devem registrar 35ºC, de acordo com previsões do Clima Tempo. Além das altas temperaturas, algumas regiões do Estado sofrem com a estiagem e também com as queimadas.

Com todas essas mudanças climáticas, a população enfrenta impactos na saúde com a poluição do ar causada justamente pelas queimadas.

Números do DataSus revelam que nos meses de maio, junho e julho a quantidade de internações causadas por doenças respiratórias na capital amazonense foram as maiores nos últimos doze meses.

O destaque fica com o mês de julho, com 1.5 mil internações; seguido de junho, com 1.316; e maio, com 1.271. Juntos, esses dados mostram que nos últimos três meses Manaus registrou 4.087 internações por doenças respiratórias.

Se comparado ao primeiro semestre, o número de internações chegam a 5.890. Na somatória dos sete primeiros meses, o número salta para 7.390 internações.

As internações superam os índices de 2022. Veja o gráfico abaixo:

Internações em Manaus por doenças respiratórias

(Gráfico: Divulgação/Instituto Action Pesquisas de Mercado)

Levantamento feito pelo Instituto Action Pesquisas de Mercado, em 2022, apontou que 83,2% da população votante na Amazônia afirmou que as queimadas na floresta impactam negativamente a saúde.

No estudo junto à população dos 9 estados da Amazônia Legal Brasileira, foram 83,2% os que “concordaram totalmente” e 9,6% os que “concordaram” com a frase: “As queimadas na floresta impactam negativamente na minha saúde e na saúde da minha família”.

queimadas

Cenário extremo

Em entrevista ao Portal AM1, Carlos Durigan – geógrafo, ambientalista e diretor da WCS Brasil; ONG ambientalista que atua no Amazonas – explica que o Estado está passando por um período de muita seca, e o cenário é considerado bastante extremo.

Segundo Durigan, a ausência de chuvas contribui para o aumento da estiagem, mas, ainda sim, a maioria dos incêndios são causados por pessoas.

Na última quarta-feira (20), uma cortina de fumaça encobriu a capital amazonense. Apesar do cenário visual parecer uma névoa, especialistas consultados pelo Portal AM1 explicam a real causa do fenômeno.

Fumaça em Manaus (Foto ReproduçãoTwitter)

Imagem área de Manaus na quarta-feira (20/9) (Foto: Reprodução/Twitter)

Carlos Durigan explica que a fumaça que encobriu Manaus não pode ser considerada névoa [neblina].

“A neblina é formada, geralmente, por uma queda na temperatura que leva a umidade do ar a se condensar em forma de neblina. É umidade do ar ou água em estado gasoso que se condensa em forma de nuvem. O que ocorre em Manaus, nesse período, é na verdade uma cortina de fumaça por conta das queimadas. E tudo isso fica mais acentuado porque nós estamos passando por um período de seca.

A socioambientalista Muriel Saragoussi também diz que o episódio não se classifica como uma névoa.

“Névoa, na verdade, é feita normalmente de partículas finas de água. Nesse caso da fumaça de queimada em Manaus há fumaça, poeira, fuligem e sujeira de atividades criminosas.

Queimadas criminosas

Muriel Saragoussi revela que a nuvem de fumaça está relacionada às queimadas e ao desmatamento da floresta amazônica.

“Isso é consequência direta das queimadas que estão sendo feitas e o vento está trazendo direto as fumaças para Manaus. Isso é um dos vetores da mudança climática que é o desmatamento e as queimada”, informou a ambientalista ao Portal AM1.

“Hoje, desmatar e queimar é criminoso com a seca que a gente tem na região. Isso foge do controle e pouquíssimas atividades de queimadas na região e de desmatamento são autorizadas. Se o vento mudar, ela vai descer e fazer igual há uns dois anos quando foi até São Paulo”, explicou Saragoussi.

Ela explica que os riscos podem ser ainda mais altos por conta do período de seca.

“Se você tem uma queimada hoje em uma região, o fogo acaba entrando em um sub-bosque na floresta em volta, que fica ainda mais seca, e qualquer coisa ela pega fogo mais rapidamente. Então, nós estamos quase em um ponto de não-retorno, onde a floresta não vai mais se regenerar. Se a gente continuar nessa caminhada, isso não vai ser agora, vai ser sempre, ano que vem e nos próximos”, antecipa a socioambientalista.

Especialistas falam sobre a fumaça de queimadas em Manaus Carlos Durigan (Foto: Arquivo/WCS Ecuador); Muriel Saragoussi (Foto: Divulgação/Julio Pedrosa/Assessoria); Dr. Erivaldo Cavalcanti (Foto: Arquivo Pessoal)

Na foto, da esquerda para a direita: Carlos Durigan (Foto: Arquivo/WCS Ecuador); Muriel Saragoussi (Foto: Divulgação/Julio Pedrosa/Assessoria); Dr. Erivaldo Cavalcanti (Foto: Arquivo Pessoal)

Em meio ao cenário de queimadas, a especialista orienta para que as pessoas que têm problemas respiratórios, o ideal é que usem máscara e se hidratem. Ela aproveita para fazer um apelo:  “O ideal é conseguir parar as queimadas. É preciso pressionar o governo, os amigos, o pessoal da agropecuária, para que parem com as queimadas imediatamente. Se não, a tendência é de que esse problema escale”.

Fumaça tóxica

O professor e doutor Erivaldo Cavalcanti, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); alerta que a fumaça que atinge a capital e boa parte do Estado é tóxica e os riscos para quem a inalar são diversos.

“Há diminuição da qualidade do ar, o que gera doenças respiratórias, e também diminuição da visibilidade, podendo gerar acidentes e infeccionar as vias respiratórias”, frisa o professor.

Questionado se o cenário pode ser considerado ao ocorrido há 70 anos, em Londres, o professor diz que não. Segundo ele, a fumaça que atingiu a capital da Inglaterra naquela época era proveniente das atividades industriais, bem diferente da que atinge a região amazônica, provocada excepcionalmente por queimadas na floresta.

Erivaldo Cavalcanti explica que o vento é responsável por trazer a fumaça até a capital. “O principal vetor é o vento por ser um elemento de dispersão do ar; o seu alcance vai depender da intensidade, podendo, por tanto, se deslocar para outras bases territoriais”.

Situação de Emergência Ambiental

De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Eduardo Taveira, 70% dos focos de queimadas são em terrenos e quintais, os outros 30% são em áreas de floresta.

As imagens de satélites apontam que a fumaça que encobriu Manaus, na última quarta, teve origem nos municípios de Autazes, Careiro e Iranduba, somado à influência dos ventos trazidos pelo Atlântico Sul, o que é um evento anormal para a Amazônia.

No dia 12 de setembro, o governador do Amazonas, Wilson Lima, assinou decreto de Situação de Emergência Ambiental em municípios das regiões Sul do Amazonas e Metropolitana de Manaus e apresentou o plano de ação estadual para a “Operação Estiagem 2023“.

Dados do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) apontam que houve um aumento expressivo de atendimento de ocorrências de incêndio, que impactam no acúmulo de fumaça nos centros urbanos.

Entre 12 de julho e 17 de setembro, foram atendidas 1.193 ocorrências de incêndio, sendo 473 destes casos na capital.

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