Manaus, 3 de maio de 2024
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Cenário

Silas Câmara repudia filme de Gentili e cientista político analisa: ‘teatro’

O deputado seguiu o embalo dos políticos conservadores e repudiou o filme 'Como se Tornar o Pior Aluno da Escola', mas conseguiu fugir de um caso de rachadinhas

Silas Câmara repudia filme de Gentili e cientista político analisa: ‘teatro’

Manaus, AM – Pegando o embalo dos políticos que se posicionaram contra a produção da Netflix “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, o deputado federal Silas Câmara (Republicanos) usou as redes sociais para repudiar o filme. No entanto, enquanto o parlamentar tenta seguir os passos da bancada evangélica, ele tira o foco do julgamento adiado por suspeitas, na prática, de rachadinhas no Supremo Tribunal Federal (STF).

Nesta semana, diversos políticos, principalmente apoiadores do governo federal, fizeram declarações contra a comédia lançada em 2017. O Ministério da Justiça chegou a censurar o filme com a justificativa de que a produção fazia apologia à pedofilia.

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Silas Câmara foi apenas um entre vários políticos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que se manifestou contra o filme. Em uma publicação nas redes sociais, o parlamentar comenta que o filme “fere os princípios da família brasileira”, e ainda usou a religião para repudiar a produção.

“A tão sonhada liberdade de expressão se torna uma ferramenta do inferno, do Satanás, usada principalmente por aqueles que idealizam filmes, ‘filmetes’, palestras, frases de efeito, que ferem princípios fundamentais da família brasileira. Esse filme é o pior exemplo de iniciativa que fere princípios, estimula a pedofilia, o pecado, a contenda, tudo o que não presta!”, disparou.

“Eu, como pastor, representante do povo na Câmara e defensor dos valores familiares brasileiros, sou contra qualquer ato que denigra a família, nossas crianças, adolescentes e toda a sociedade brasileira, cuja nação é do Senhor Jesus”, escreveu na legenda da publicação.

Teatro político

Ao Portal AM1, o cientista político Carlos Santiago afirmou que o posicionamento dos políticos contra o filme não passa de um “teatro”. De acordo com ele, o discurso dos parlamentares pode até atrair votos, no entanto, não beneficia em nada a sociedade.

“Esse teatro é velho, é promovido por políticos que não cumprem as suas obrigações nas casas legislativas, de fiscalizar, denunciar, questionar o Poder Executivo e propor leis que beneficiem a sociedade”, disse.

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Santiago destacou que essas declarações deram certo nas eleições de 2018, para conquistar o eleitorado conservador e, também, ter o apoio popular. Além disso, o cientista político afirmou que esse tipo de ação vem de políticos que são cúmplices de gestores que “não gostam de licitação e até promovem atos de corrupção”.

“Esse teatro deu muito certo na eleição de 2018 com um discurso do moralismo, da pátria, do amor à família e foram eleitos. Mas, sempre fica a pergunta: além de censurar um filme com discurso moralizante, o que restou e o que resta do mandato desses políticos? O filme ensina como ser o pior aluno, e os atos dos políticos contra o filme indicam para a sociedade como ser um péssimo político. Há muito discurso moralista, mas há muito pouco de produção legislativa, há muito pouco de benefício para a sociedade”, declarou.

Além disso, o cientista político apontou uma hipocrisia por parte dos parlamentares, uma vez que não é repudiando ou censurando um filme que vão acabar com os problemas reais do Brasil.

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“Políticos que aumentaram a despesa, o cotão legislativo, sem nenhuma vergonha, agora se mostram os defensores da sociedade, que hipocrisia! O Brasil precisa de bons representantes, de bons governantes, políticos que vivem de teatro não servem para representar um povo que anda tão sofrido por conta da economia, da pandemia e com alto índice de desemprego”, afirmou.

Salvo por aliados

No entanto, enquanto Silas encontra tempo para se pronunciar contra a produção, nos bastidores, ele escapa de julgamentos no Supremo, como o caso das rachadinhas. Silas contou com a “sorte” e teve o julgamento adiado no STF, mas com ajuda de alguns aliados.

Em 2020, o caso começou a ser julgado, tendo como relator o ministro Luís Roberto Barroso. A votação para condenar Câmara, contudo, foi interrompida após o ministro Nunes Marques, indicado pelo presidente Bolsonaro, ao cargo, pedir vistas do processo.

Foto: Reprodução

A nova data para o julgamento e, de fato, saber o futuro de Silas Câmara, foi marcada para o dia 17 de fevereiro, todavia, o julgamento foi novamente adiado. Os bastidores do cenário político, apontam que o novo adiamento teve como principal personagem o ministro André Mendonça.

Acredita-se que, se Silas for condenado pelas rachadinhas, ocorrerá precedentes para casos similares que podem prejudicar parlamentares, incluindo o filho do presidente e senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), acusado pelo mesmo crime.