Manaus, 6 de maio de 2024
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Manaus, 6 de maio de 2024

Cenário

Uso de símbolos por políticos não indígenas é desrespeito, diz Vanda Witoto

Na sexta-feira (19), alguns políticos do Amazonas publicaram homenagens nas redes sociais, usando cocares, por conta do Dia dos Povos Indígenas.

Uso de símbolos por políticos não indígenas é desrespeito, diz Vanda Witoto

(Foto: Instagram/Vanda/Eduardo Braga/Adail Filho)

Manaus (AM) – A enfermeira e ativista indígena Vanda Witoto afirmou neste domingo (21) que o uso de objetos indígenas por políticos não indígenas é um desrespeito aos povos originários, mesmo em homenagem pelo Dia dos Povos Indígenas.

Na sexta-feira (19), alguns políticos do Amazonas publicaram homenagens nas redes sociais usando cocares, incluindo o senador Eduardo Braga (MDB) e o deputado federal Adail Filho (Republicanos), que votou a favor do marco temporal.

Ao Portal AM1, Vanda, filiada ao partido Rede Sustentabilidade, disse que ver políticos brancos que não fazem nada pelos direitos dos povos indígenas, mas que usam essa data ou quando chegam aos territórios, fazendo promessas vazias que não cumprem, é uma violência contra a cultura ancestral indígena.

Quem também usou cocar para homenagear os indígenas foi o deputado estadual Roberto Cidade, presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), que divulgou ações do mandato parlamentar em prol dos povos indígenas. Na publicação no site da Aleam, Roberto Cidade disse que, no primeiro mandato, destinou mais de R$ 5,5 milhões em emendas para contemplar questões fundamentais aos povos originários.

(Foto: Aleam/Divulgação)

O vice-prefeito de Manaus, Marcos Rotta (sem partido), publicou fotos usando cocar ao lado de indígenas com a legenda: “A história do Brasil não pode ser contada se não falarmos dos povos originários e de sua grande contribuição para a cultura, principalmente, a cultura do nosso estado. Do povo que sempre habitou em nosso Brasil”.

(Foto: Instagram/Reprodução)

Conforme Vanda, foi um desrespeito, pois o cocar é considerado um elemento sagrado da cultura dos povos. “Para o meu povo, para você receber um cocar, você precisa compreender várias cosmovisões de mundo. Não é todo mundo que usa o cocar no meu povo, por exemplo”, disse.

A enfermeira também destacou a ausência do poder público em fornecer direitos básicos, como educação, saúde e água tratada. Por isso, Vanda também expressou sua decepção ao ver os cocares sagrados dos povos indígenas sendo colocados na cabeça de políticos que não respeitam suas comunidades.

“Me entristece ver parentes indígenas colocando seus cocares sagrados na cabeça dessas pessoas que não nos respeitam, que não constroem políticas públicas para garantir a vida dessas pessoas nos territórios indígenas”, afirmou.

 

Cobrança de direitos

Para a ativista, os políticos e empresas deveriam investir seu tempo não em publicações, mas em ações efetivas em prol da população, que não interfiram nos direitos adquiridos e aumentem a defesa dos povos, em vez de priorizar homenagens.

“Essas organizações e esses políticos representantes do poder público deveriam atuar para garantir os direitos indígenas, se posicionarem politicamente em defesa da não mineração nos territórios indígenas e da não exploração de petróleo na Amazônia, que impactam os territórios indígenas”, disse.

Moradora do Parque das Tribos, comunidade que completou 10 anos neste ano de 2024, Vanda relata que, só após 8 anos de existência, a comunidade teve acesso à água, energia, escola e posto de saúde, “depois de muita luta dos nossos povos”.

“Se entrar no Parque das Tribos, hoje, nossas ruas são extremamente esburacadas, onde o carro do lixo não passa, a ambulância não entra, porque as ruas não têm condições, estão intrafegáveis, e essas pessoas não fazem nada por essas comunidades. Então, para além de posarem com fotos usando nossos cocares ou nos homenagearem, queremos que eles ajam, cumpram o papel pelo qual foram eleitos, que é garantir políticas públicas para povos indígenas e para toda a sociedade de forma geral”, afirmou Vanda Witoto.

Vanda disse que está no Japão em busca de conhecer novas tecnologias voltadas para a educação e conexões que possam potencializar os direitos indígenas.

 

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