Manaus, 4 de maio de 2024
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Cenário

Vídeo: pastor indica Dan, Silas Câmara e Joelson para fiéis e pede ‘pelo menos 50 mil votos’

A propaganda eleitoral permitida pode ser divulgada a partir do dia 5 de julho do ano eleitoral

Vídeo: pastor indica Dan, Silas Câmara e Joelson para fiéis e pede ‘pelo menos 50 mil votos’

MANAUS – Aproveitando o número de fiéis que participavam de um congresso (evento) de homens na Igreja Evangélica Assembleia de Deus (Ieadam), aproximadamente oito mil pessoas, o pastor Moisés Melo, que também é vice-presidente da Ieadam, usou o evento para pedir votos aos fiéis, em Manaus, no último sábado (23). O pedido de votos é para reeleger o deputado federal Silas Câmara (Republicanos) e para os pré-candidatos Dan Câmara, que é irmão de Silas e coronel da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM); e ainda Joelson Silva (Patriotas), ex-presidente da Câmara Municipal de Manaus (CMM).

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral , a propaganda feita fora do tempo é irregular e constitui crime eleitoral. A propaganda só é permitida a partir do dia 5 de julho do ano eleitoral. Essa data tem seu motivo, ao passo que, até esse momento, são feitos os procedimentos de escolha e registro de candidatos. Dessa forma, o legislador optou por permitir a propaganda eleitoral, exclusivamente, após não faltar mais candidato a ser registrado.

“Fazendo um raciocínio inverso, conclui-se que qualquer propaganda eleitoral, que tenha a finalidade de obter votos, será proibida do dia 5 de julho para trás, caracterizando-se como uma propaganda prematura e ilegal”, afirma a publicação no site do TSE.

Dessa forma, ao usar um espaço cujo público de homens foi induzido pelo próprio pastor, que é político, e quer ser reeleito, dizendo que aquele público tem que chegar a 80 mil votos e que esses fiéis precisam empenhar-se, pode configurar crime eleitoral.

“O nosso deputado Silas precisa, em Manaus, de pelo menos 50 mil votos. Mas nós podemos chegar a dar 80 mil se nós quisermos, ou até mais. Os homens creem assim, Amém. Em Manaus, fora o interior do Estado. Os nossos queridos Dan e Silas, só Manaus pode elegê-los. O que vier do interior será uma bênção. Quantos creem que isso é possível? Digam glória a Deus!”, proferiu o pastor diante do altar.

O pastor Moisés Melo pede aos fiéis para se manifestarem pela eleição dos políticos e, pior, isso é para provar que são homens de verdade.

“Se você levanta a mão, abre a boca e se isso não é realmente algo verdadeiro, você não é homem de verdade! [sic] Mas, aqueles que aqui estão, são homens levantados por Deus, com propósito nessa terra, para fazer a diferença!”, provocou o vice-presidente da igreja Assembleia de Deus.

DENUNCIADO

Vale lembrar que o deputado Silas Câmara foi processado pela PGR pelo crime de ‘rachadinha’ nos anos de seu primeiro mandato, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2001.

Na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o deputado federal, que é líder da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, é acusado de ter nomeado 18 servidores em cargos comissionados.

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Segundo depoimento do então secretário parlamentar do deputado, Raimundo da Silva Gomes, Silas nomeava os servidores, mas exigia que eles entregassem parte ou até o valor total do salário de volta. Gomes era o operador financeiro do esquema e responsável por receber os valores.

O líder religioso também é apontado como um dos parlamentares que mais faz uso do famoso Fundo Eleitoral, o ‘cotão eleitoral’, que tem por objetivo financiar campanhas eleitorais.

O que diz o cientista político e sociólogo:

Segundo o cientista político, sociólogo e professor da Ufam, Luiz Antônio Nascimento, “os fiéis das igrejas neopentecostais têm uma compreensão de que são literalmente ovelhas, e que devem ser governados, que devem ser dirigidos e conduzidos pelo pastor. E que o pastor tem essa tarefa que foi atribuída por Deus. Eles reconhecem no pastor, e no bispo, a divindade. É vontade de Deus, então não questionam a vontade de Deus e obedecem às cegas, pois é a vontade de Deus”.


Ainda segundo o sociólogo, por conta dessa fé, muitos pastores passaram a fazer negócios políticos, financeiros e econômicos em nome desses fiéis. Um pastor ou bispo evangélico que tem cerca de 80 mil fiéis tem uma fortuna na mão, porque ele negocia com governadores, com forças sociais e políticas, quase todas conservadoras, e que vão ser reeleitos. Isso é perverso, pois esses parlamentares vão aprovar leis e normas que vão dificultar a vida dessas pessoas.


Conforme Luiz Antônio Nascimento, foram esses mesmos líderes que, durante o governo Temer, cortaram investimentos em políticas sociais como um todo. “E quem sofre com essas consequências, sem transporte público e sem moradia, é esse mesmo povo.

“O que esse pastor está fazendo é corrompendo uma vontade que deveria ser legítima, que deveria ser pessoal e intransferível dos eleitores. É o que está previsto na legislação e nos marcos da democracia que dizem: um homem, um voto; uma pessoa, um voto. Quando esse pastor delega e dirige esse voto, ele está corrompendo o processo eleitoral. E nesse sentido, o Tribunal Superior Eleitoral sabe disso, e tem feito nada ou quase nada a cerca disso. Tem um processo claro, transparente e explícito de corrupção da democracia, e é isso que vai minando e corroendo a estrutura democrática brasileira.

O Seminário Estadual de Homens de 2022 foi transmitido pelo canal da Ieadam.

Assista ao evento: