Manaus, 9 de maio de 2024
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Cenário

Após 2 anos, parada de R$ 207 mil na Ponta Negra tem goteira, ferrugem e poeira: ‘dinheiro jogado fora’

Construída na gestão de Arthur Neto, a estação de ônibus que custou caríssimo ao bolso do contribuinte segue abandonada pelo atual prefeito, David Almeida; gestor pretende construir novas paradas com ar-condicionado

Após 2 anos, parada de R$ 207 mil na Ponta Negra tem goteira, ferrugem e poeira: ‘dinheiro jogado fora’

Fotos: Portal AM1

Um pouco mais de dois anos depois que a parada de ônibus de R$ 207 mil foi construída na região da Praia Ponta Negra, em 2019, na gestão do ex-prefeito Arthur Neto (PSDB), não houve qualquer serviço de manutenção no local. Embora tenha custado um valor exorbitante aos cofres públicos e causado muita polêmica, a estrutura não atende às necessidades da população usuária do transporte coletivo. Além disso, na gestão do atual prefeito David Almeida (Avante), essa e outras paradas de ônibus seguem abandonadas.

A reportagem do Portal AM1 foi ao local na manhã de sexta-feira (14), para verificar a situação do ponto de ônibus. O céu estava nublado e logo a chuva caiu, situação que causa bastante preocupação a quem depende do transporte público.

No local, foi possível ver que, embora seja ampla, a parada não possui uma espécie de calha, o que faz com que a água da chuva escorra próximo das pessoas que aguardam os ônibus. “Foi mal feita. Olha aí, molha tudo. Isso aqui era para ter uma calha ou então que fosse mais para lá, para conter os pingos”, disse um trabalhador que pediu para não ser identificado.

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Apesar do gasto muito acima da média, não foi feito nada de diferente na estrutura. Quando chove forte, com ventania, é ainda pior, conforme informaram passageiros que aguardavam os coletivos.

“Naquela hora que choveu mais forte, porque estava ventando, aí molhou tudo aqui, estou com a perna toda molhada. E aí fica caindo água dali de cima, quando está mais forte também vai molhando para cá. Mas tem onde sentar, né […]”, disse uma senhora, que também preferiu não se identificar.  

SÓ PROMESSAS

Na época da construção, o então prefeito Arthur Neto, hoje pré-candidato ao Senado, disse que o local contaria com Wi-Fi, caixa de som com música-ambiente para as pessoas ouvirem, e conforto. Hoje, isso tudo ficou na lembrança, visto que, enquanto a reportagem esteve lá, nenhuma música tocou e não houve sinal de internet via Wi-Fi. As pessoas que estavam por lá nem sabiam mais que a parada foi construída com serviço de internet.

Foto: Facebook

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“Nem sabia que tinha Wi-Fi aqui, agora música também não tem né. […] Com certeza não [vale R$ 200 mil], não tem nem como ter dado R$ 200 mil aqui, porque só o ‘murinho’ ali e as colunas já estão descascando tudo aqui”, continuou a senhora.

“Nós vivemos em um país que só tem ladrão. Na verdade, não melhorou muito. Mas só dá para passar uma chuva mesmo, porque se for com vento, molha tudinho aqui. Como é que teria ar-condicionado num negócio desse aqui? Tudo aberto”, disse um outro idoso que estava no local.

Não atende à necessidade

“Geralmente, eu não fico aqui, só estou de passagem. Mas pelo jeito, molha tudo aqui, fica tudo molhado. Como poderia ter ar-condicionado num lugar todo aberto? Só enganação né, para jogar nosso dinheiro fora. Se a chuva vier para cá, molha tudo né, porque o vento faz ‘assim’. Aí isso aqui fica tudo molhado, não tem como. Quem está aqui na parada tem que estar protegido pela sombrinha ou correr e procurar algum outro canto, porque o negócio não é fácil”, disse outra usuária.

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Em dias sem movimento na Praia da Ponta Negra, que ocorrem principalmente em dias de chuva, como foi nessa sexta, a área fica deserta, sem circulação de pessoas, sendo um local perfeito para a criminalidade, causando medo e desconfiança nas pessoas, mesmo com custo de mais de R$ 200 mil. “Eu acho assim que foi mais um dinheiro gasto né. Duzentos e pouco esse Terminal aqui, acho que foi muito dinheiro jogado fora”, finalizou.

Entre os outros problemas encontrados pela reportagem na estrutura da parada estão o teto com pequenas goteiras, além de pequenas ferrugens, grades das lâmpadas cheias de poeiras, evidenciando a falta de limpeza e manutenção, as colunas de sustentação da estrutura estão todas descascando.

Paradas com ar-condicionado

Embora a parada tenha sido construída na gestão de Arthur Neto, na atual, com David Almeida (Avante) à frente da Prefeitura de Manaus, tais serviços de manutenção foram deixados de lado. E enquanto as antigas paradas estão abandonadas, Almeida chegou a anunciar que pretende construir de 20 a 50 paradas de ônibus com ar-condicionado, por meio de uma parceria com empresas privadas.

O prefeito fez as declarações em três momento diferentes, sendo uma durante visita à Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), em novembro de 2021; outra na abertura dos trabalhos deste ano na Câmara Municipal de Manaus (CMM), no início de fevereiro; e outra, no mesmo mês, em um evento da prefeitura.

“Vamos construir entre 20 ou 30 novas paradas de ônibus em locais onde têm as paradas mais movimentadas de Manaus […] A limpeza, a conservação, a manutenção, o ar-condicionado, tudo isso vai ser por conta do parceiro”, disse. Em contrapartida, as empresas usarão o espaço para fazer publicidade.

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“Pra quê?”

A ideia do prefeito não agradou alguns estudantes e trabalhadores que usam o transporte público diariamente e dependem das paradas de ônibus para pegar o transporte coletivo. Para a professora de reforço, Elen Silveira, em vez de construir mais pontos, o gestor poderia reformar as que já existem.

“O prefeito David Almeida deveria aplicar melhor esses recursos públicos – principalmente se tratando de melhorias para a cidade. Há muitas paradas que estão caindo aos pedaços, a da Ponta Negra, por exemplo, está precisando de manutenção. Não apenas na Ponta Negra, que é uma área considerada nobre; mas em outros locais, há necessidade de reformas, melhorias e etc. Há paradas que são apenas uma placa, indicando que é uma ”parada” de ônibus. As pessoas correm muitos riscos nessas ”paradas””, disse a professora.

Enquanto a parada de ônibus na Ponta Negra, bairro nobre com casas luxuosas, custou R$ 200 mil, locais como as zonas Norte e Leste, consideradas periféricas, os pontos de ônibus, às vezes, não têm nem placas, conforme pontuou o estudante Raufe Souza.

“A população da zona Leste e zona Norte fica pegando chuva e sol, esperando em paradas que mal têm a placa, esperando um ônibus que nem sabe se vai aparecer no horário certo. A população sofre e o prefeito corre nas calçadas da Ponta Negra com os bajuladores de plantão”, criticou.

Já a jornalista Isabela Pereira questionou se o número de ônibus coletivos vai aumentar, já que o número de pontos de paradas também deve aumentar com as construções anunciadas pelo prefeito. “O transporte público é um dos maiores problemas do manauara. As paradas de ônibus estão acabadas, não tem segurança, às vezes não tem iluminação, nem cobertura. O prefeito vai colocar mais ônibus nas ruas, já que vai fazer mais paradas? Parece mais uma medida para evidenciar o nome dele”, disse.

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IMMU

A pasta responsável pelo serviço é o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana. A reportagem procurou a assessoria de comunicação da pasta questionando sobre a manutenção na parada de ônibus da Ponta Negra e eventuais reparos nos demais pontos. Porém, não houve retorno até a publicação da matéria.