Manaus, 3 de maio de 2024
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Manaus, 3 de maio de 2024

Cenário

Com Manaus cheia de problemas, David Reis quer construir anexo de R$ 40 mi na CMM

O anúncio de um novo anexo à CMM não soou muito bem em Manaus, até mesmo pela estimativa do gasto, que é de aproximadamente R$ 40 milhões

Com Manaus cheia de problemas, David Reis quer construir anexo de R$ 40 mi na CMM

Foto: Robervaldo Rocha / CMM

MANAUS, AM – Com obras recém-feitas, em que foram acrescidos um anexo de gabinetes ao lado do Plenário Adriano Jorge, no prédio da Câmara Municipal de Manaus (CMM), mais um estacionamento e reformas internas no plenário e na galeria da Casa Legislativa, a atual legislatura, presidida pelo vereador David Reis (Avante) pretende gastar cerca de R$ 40 milhões em uma nova estrutura, nominada como anexo II.

A proposta foi anunciada nessa semana por meio do Diário Oficial da Casa e causou muita polêmica, uma vez que a cidade ainda enfrenta a pandemia da covid-19 e a população de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social, muitas vezes, nem tem o que comer. Ainda assim, os parlamentares aprovam um gasto exorbitante com o dinheiro dos contribuintes que pagam mensalmente seus impostos.

Na construção do primeiro anexo, os vereadores que compõem a Mesa Diretora da Casa foram contemplados com 10 gabinetes mais espaçosos que os tradicionais no prédio principal da CMM. À época, a obra foi orçada em torno de R$ 4,4 milhões e foi entregue em 2018, durante a gestão do atual deputado estadual Wilker Barreto; obra custou quase 10 vezes menos o valor da futura.

O anexo I da CMM foi nomeado como Luizinho Souza, ex-vereador Luizinho Costa

Dos 41 parlamentares da CMM, apena três deles se posicionaram em suas redes sociais contra a medida, entre eles: Amom Mandel, Capitão Carpê e Rodrigo Guedes.

Já no documento de liberação para o processo de contratação de empresa especializada em construção, os vereadores David Reis; Wallace Oliveira; Diego Afonso; Caio André; Glória Carratte; Elissandro Bessa; Eduardo Alfaia e João Carlos assinaram o Ato da Mesa. Neste mesmo documento, é possível ver que onde estão os nomes de Amom, ouvidor da CMM e Jaildo dos Rodoviários, corregedor da Casa, as assinaturas estão em branco.

Guedes foi o primeiro a manifestar contra esse gasto exorbitante comentando o valor, que, até então, não foi confirmado pelo presidente da CMM ou pela Diretoria de Comunicação, que afirmam que as tratativas ainda estão no início.

“Saiu no Diário Oficial do Legislativo que estão planejando construir um novo prédio na Câmara Municipal de Manaus. O custo seria cerca R$ 40 milhões! Deixo claro que sou contra, isso não pode acontecer, é totalmente descabido. Esse recurso deveria ser enviado ao Poder Executivo!”, escreveu o parlamentar sobre a possível contratação.

Logo em seguida, o vereador Carpê Andrade também se posicionou afirmando que não há justificativa para uma nova construção, uma vez que há um prédio recém-reformado.

“Não há justificativa para a construção de um “anexo” que com certeza gastarão milhões de reais. Temos um prédio recém-reformado em perfeito estado! Não vejo necessidade nessa obra, como consta no documento divulgado pelo Diário Oficial do Legislativo, para construção, até porque não existe nenhum “inelutável aumento” na quantidade de vereadores em uma cidade que já tem 41. Penso eu, que temos outras prioridades para investimento em Manaus”, escreveu o parlamentar.

Já Amom disse que só o fato de não ter assinado o Ato da Mesa, já mostra que seu posicionamento foi contrário a uma nova construção milionária na Casa Legislativa.

“Eu me recusei a assinar os atos nesse caso. Acho que isso já passa o meu recado. Só pra deixar claro, sou contra a construção de mais um prédio para a Câmara. Penso que podemos investir em processos que reduzam a morosidade excessiva na Casa Legislativa. Ou qualquer outra coisa que traga um benefício mais claro à população em geral”, tuitou.

A reportagem do Portal Amazonas1 procurou diretamente o presidente David Reis para esclarecer melhor sobre a proposta da construção de um novo anexo, porém, o parlamentar visualizou a mensagem encaminhada no WhatsApp, mas não respondeu até o término deste conteúdo.

O ex-presidente da Casa, vereador Joelson Silva também foi procurado para saber se concordava com uma nova construção, sendo que em 2019, ele recebeu o primeiro anexo da CMM novo no início de sua gestão, porém, o parlamentar pediu desculpas à reportagem e disse que estava acompanhando uma de suas filhas que passaria por uma cirurgia de transplante de medula óssea na ocasião.

O corregedor da CMM, Jaíldo dos Rodoviários, também foi procurado, já que não assinou o Ato da Mesa Diretora. Questionado sobre o porquê de não ter assinado e se ele concordaria com a nova construção e qual a opinião do parlamentar a respeito, já que em 2018 já houve uma construção de um anexo na CMM, com um valor quase dez vezes menor do que o atual, a Assessoria de Comunicação de Jaíldo informou ao AM1 que ele só vai se pronunciar sobre o assunto após retorno do feriado, no caso, dia 13 de setembro, após 11 dias sem trabalhos no plenário da Casa.

Polêmica

Para a dona de casa Iracema Pereira, 45 anos, essa obra é desnecessária. Ela acredita que o valor para construir um novo anexo no Parlamento Municipal poderia ser repassado à população em forma de benefícios para educação, saúde e no transporte público.

“Já que o prédio já foi reformado há dois anos, então não há necessidade de ser reformado novamente. Porque geralmente, o que acontece é um desvio de verba e todo a população sabe. Não é um gasto necessário, seria melhor que usasse na educação, na saúde, no transporte público, em melhorias para a população porque foi para isso que eles foram eleitos, eu penso assim”, disse Iracema.

“Eu não acharia bom não, porque está todo mundo desempregado e o negócio não está fácil não”, disse o senhor Ismael Oliveira, 63 anos, que disse que está desempregado neste momento e não concorda com essa obra milionária na CMM.

Contraditório

Enquanto os parlamentares se reúnem e decidem por uma nova construção, alegando a relevância dos serviços prestados à sociedade manauara e o possível crescimento das vagas de vereadores na CMM, motivada pelo aumento de habitantes da cidade no futuro, feirantes e moradores do bairro reclamam da falta de estrutura em dois espaços que ficam em frente e aos fundos do prédio da CMM, no caso, a Feira de Santo Antônio e a Mini Vila Olímpica.

A equipe de reportagem esteve recentemente nos dois ambientes e constatou a precariedade da feira e o abandono da área que servia para o lazer dos moradores do bairro.

Leia mais: Feirantes reclamam da estrutura e falta de segurança na Feira do Santo Antônio

Já a Mini Vila Olímpica do Santo Antônio Jair Sampaio, estava completamente desativada para a comunidade, que utilizava o espaço como forma de ter uma atividade física para praticar, coisa que já não é feita há mais de um ano. No local, muita sujeira, água acumulada na piscina e materiais de construções abandonados pela gestão, em duas vezes que a equipe de reportagem visitou o espaço, no mês de agosto.

Leia mais: População cobra reformas em Mini Vila Olímpica: ‘está tudo abandonado’

Mais deliberação

A Mesa Diretora não deliberou apenas a construção de um novo anexo, que segundo vereador Rodrigo Guedes, vai custar cerca de R$ 40 milhões, as Comissões Permanentes da CMM também vão, receber cada uma delas, um veículo alugado pela Casa. Ao todo, são 23 comissões.

Embora a Diretoria de Comunicação da Casa não confirme quais são os veículos e valores, por se tratar de um ato inicial para a aquisição, circula nos bastidores da política que cada vereador presidente de comissão receberá um veículo modelo picape.

Gestão das Cifras

Em levantamento feito pelo Portal AM1 no primeiro semestre de 2021, a gestão de David Reis já havia gastado R$ R$ 18.736.264,47 entre novos contratos e aditivados, vindos de gestões anteriores. Dos novos, o valor era de R$ 13.002.612,05 (treze milhões e dois mil, seiscentos e doze reais e cinco centavos), até o dia 8 de junho, de acordo com o site da Transparência. Já nos contratos aditivados o valor gasto era de R$ 5.733.652,42 (cinco milhões, setecentos e trinta e três mil, seiscentos e cinquenta e dois reais e quarenta e dois centavos).

Café de ouro

Outro ponto polêmico da atual legislatura foi a contratação de uma empresa para fornecer café e açúcar por mais de R$ 80 mil. O fato foi levado ao Ministério Público do Amazonas (MP-AM) pelo Comitê Amazonas de Combate à Corrupção, que acredita que pode ter havido superfaturamento nos valores orçados na Tomada de Preços.

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