Manaus, 6 de maio de 2024
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Manaus, 6 de maio de 2024

Cenário

Envolvida em polêmicas, imagem de Joana Darc começa a ficar desgastada

Especialistas ouvidos pelo Portal AM1 acreditam que a parlamentar vem deixando de lado os temas que a elegeram e tem ganhando uma imagem negativa entre os eleitores.

Envolvida em polêmicas, imagem de Joana Darc começa a ficar desgastada

(Foto: Rede Social/Reprodução)

Manaus (AM) – A deputada estadual Joana Darc (União Brasil), que exerce o seu segundo mandato na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), esteve envolvida em diversas polêmicas ao longo da sua atuação no Legislativo Estadual, sendo alvo de um pedido de cassação por quebra de decoro parlamentar no ano de 2020 e um recente pedido de investigação, também por quebra de decoro, desta vez, no episódio envolvendo a capivara Filó – em abril deste ano.

Joana – que é conhecida como “protetora dos animais” – sendo eleita, inclusive, por se apresentar como defensora da causa, começou a ter a sua imagem desgastada diante dos episódios que tem se envolvido, é o que constatou o Portal AM1 ao entrevistar a população e ouvir especialistas na área do direito, sociologia e política.

Uma das provas do desgaste sofrido pela deputada é a recente denúncia que chegou ao Parlamento Estadual, oriunda de uma petição eletrônica com 21 mil assinaturas que pede a investigação da protetora dos animais, por quebra de decoro parlamentar, que pode levar à perda do seu mandato.

Darc é acusada de invadir a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), em Manaus, no episódio que envolveu o universitário Agenor Tupinambá e sua capivara “Filó”, que foi levada para o Centro de Animais Silvestres (Cetas), do órgão federal, em abril deste ano.

A denúncia afirma que a parlamentar cometeu assédio e ameaça contra uma servidora do local e a acusa de produzir vídeos difamatórios. A petição também afirma que ela se comportou de forma histérica, constrangendo trabalhadores de empresa de segurança terceirizada, além de outras acusações.

O documento com as assinaturas deverá ser enviado à Comissão de Ética da Aleam somente a partir do dia 1º de agosto, quando reiniciarão as atividades parlamentares após o recesso, que iniciou no dia 17 de julho.

No primeiro caso de quebra de decoro praticado pela deputada, ela respondeu um processo no Conselho de Ética na legislatura passada, especificamente por ter acusado o deputado Roberto Cidade (União Brasil), presidente da Casa Legislativa, de ter comprado votos por R$ 200 mil, dos 16 colegas que votaram a favor da sua candidatura ao comando do Parlamento. Esses deputados pediram que Darc fosse investigada na época.

A legislatura chegou ao fim e não houve uma decisão final sobre o pedido de cassação de Joana, referente ao caso da eleição da Mesa Diretora da Aleam.

Decoro Parlamentar

Segundo o Regimento Interno da Assembleia Legislativa, em seu artigo 260, a quebra do decoro parlamentar é definida como a promoção de ofensa à dignidade, à decência, ao respeito ao Poder Legislativo ou a seus membros, dentro ou fora da Assembleia por meio de discurso, proposição ou ato.

O artigo diz que o deputado que praticá-lo ficará sujeito às seguintes medidas: censura; suspensão temporária do exercício do mandato, não excedente a trinta dias; ou perda do mandato.

Ainda segundo o documento, os seguintes acontecimentos são considerados ofensas ao decoro parlamentar: o abuso das prerrogativas constitucionais asseguradas a membro da Assembleia Legislativa; a percepção de vantagens indevidas; a prática de irregularidades graves no desempenho do mandato ou de encargos dele decorrentes; a ofensa física ou moral ou o desacato, por ato ou palavra, à Mesa ou à Comissão, a seus Presidentes, ou a qualquer membro do Poder e, também, portar armas no Plenário.

Emendas FC X Wesley Safadão X Dueto Joelma

Outros episódios polêmicos em que Joana esteve envolvida é em relação à destinação de recursos no valor de mais de R$ 3,5 milhões, por meio de emenda parlamentar, a um único time de futebol do estado, o Amazonas FC. O Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM) está apurando o repasse para verificar se houve alguma possível irregularidade.

Enquanto isso, no último dia 12, começou a circular na internet um vídeo em que a parlamentar aparece interagindo com o humorista Tirulipa, no navio do cruzeiro WS On Board, do cantor Wesley Safadão. Após o vazamento do vídeo, foi verificada a ausência de Joana no site da Assembleia Legislativa e o assunto tomou as redes sociais.

A deputada faltou sessões ordinárias dos dias 10, 11 e 12, inclusive, perdendo a votação de projetos importantes para o Estado, assim como da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024. Logo após vir a público o fato de ela estar no cruzeiro, a deputada publicou um documento, em suas redes sociais, afirmando que teria solicitado da Casa Legislativa o desconto das faltas.

Darc também protagonizou, no mês de maio, uma cena inusitada no plenário do Parlamento formando um dueto com a cantora Joelma, que estava no local para receber o Título de Cidadã Amazonense.

A cena viralizou na internet com internautas criticando a atitude de Joana e outras elogiando o desempenho junto da cantora nacional.

‘Mudança de imagem’

O Portal AM1 conversou com o sociólogo, cientista político e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Gilson Gil – que também é especialista em eleições – sobre o mandato da deputada amazonense.

Segundo o sociólogo, Joana possuía uma imagem muito vinculada aos animais, e ganhou projeção local por ser uma causa simpática e haver uma lacuna sobre o tema na política, mas – no exercício do mandato – se tornou uma das mais fiéis representantes do atual governador Wilson Lima (União Brasil) na Aleam, deixando um pouco de lado os temas que a elegeram.

“Ela mudou sua imagem, passou a ser uma política de máquina, de governo, com muita estrutura e recursos. Sua atuação recente vem sofrendo desgastes, pois se envolve em sucessivas polêmicas. Não a vemos atuar de forma tão decidida nas questões mais objetivas e duras”, destacou  o especialista.

Para Gilson, a ida da deputada ao cruzeiro durante o período de trabalho “foi muito ruim para a imagem dela e da Assembleia, pois mostrou que a Mesa Diretora é omissa e cúmplice – caso não a puna”.

Na visão do cientista político, as atitudes de Joana contribuem para que seja consolidada na população uma visão negativa sobre os políticos.

“A população enfrenta problemas como desemprego, inflação e violência e alguns parlamentares agem como se estivessem em outro mundo, em uma verdadeira casta, isolados do mundo dos ‘mortais’. Ela, com tais atitudes, só consolida essa visão negativa que grande parte da população possui sobre os políticos. Não a veem como trabalhadora e resiliente, agindo assim. A Aleam acaba levando respingos, pois essas atitudes passam em rede nacional e o Brasil todo vê que há uma cumplicidade nisso”, destacou o professor.

Gilson disse, ainda, que os políticos deveriam lutar para mudar a visão que o povo possui deles, e essa mudança só deverá ocorrer por meio do trabalho e evitando escândalos.

“O povo espera que seu representante venha agir como ele, trabalhando, chegando cedo e saindo tarde, frequentando os parlamentos, evitando viagens durante a semana de trabalho e criando leis que efetivamente mudem a vida das pessoas. Aderir à oposição ou situação não libera o político de trabalhar. Defender ou atacar o governador em qualquer situação também não é demonstração de trabalho”, frisou o especialista.

A reportagem também ouviu o advogado e membro do Comitê Amazonas de Combate à Corrupção, Manoel Júnior, que afirmou que “o melhor julgador” da deputada será as próximas eleições, em 2026.

“Tem gente que acredita nela e, por esse motivo, ela está lá (Aleam), mas as pessoas cometem erros. Porém, quem poderá melhor julgá-la é justamente quem votou nela – e isso acontecerá nas próximas eleições. O povo põe, mas o povo também tira por meio do voto”, pontuou.

Falta de comprometimento

Para a população, a falta de responsabilidade em exercer o trabalho que a parlamentar foi eleita para fazer é algo sério e, infelizmente, é o retrato da maioria dos representantes dos cidadãos em âmbito municipal, estadual e nacional.

É o que pensa o corretor de imóveis Leonan Ribeiro, de 28 anos. “Uma pessoa que faz parte do Legislativo precisa assumir a responsabilidade dela dentro desse processo. Fugir da sua responsabilidade indo a outro lugar, estar em um evento quando ela tinha algo a cumprir, é faltar com a obrigação, até porque ela foi eleita para isso”, frisou.

Na opinião do motoboy Luiz Gustavo, de  24 anos, a atitude de Joana em faltar três sessões legislativas para ir ao Cruzeiro é completamente errada, nas palavras do trabalhador.

“Se qualquer funcionário, de qualquer empresa, faltar sem uma justificativa ele pega uma advertência e, dependendo do tempo, vai pegar uma justa causa por abandono de trabalho. Agora, imagina uma pessoa num cargo público que recebe seu salário pago com dinheiro público para fazer uma coisa dessas? Está totalmente errado. Ela recebe para estar trabalhando e quem está pagando é o povo”, desabafou.

A aposentada Cecília Guimarães também emitiu sua opinião sobre as atitudes polêmicas da parlamentar. Para ela, Joana “devia estar na Assembleia e não passeando à custa do povo”.

A aposentada Irene Silva, de 58 anos, falou que não acha certo o que a deputada fez, se referindo à ausência dela em dia de votações importantes no Legislativo Estadual.

O empresário Davi Santiago, de 58 anos, e o segurança João Portela, de 49 anos, têm o mesmo entendimento sobre os fatos envolvendo a deputada estadual. Os dois afirmam que os políticos amazonenses e brasileiros, em geral, não dão exemplo de como serem verdadeiros representantes do povo.

“Olha, não só com relação a ela, mas com relação a todos, deputados, vereadores, senadores; eles trabalham muito ‘soltos’, não é? Não prestam contas a ninguém – e aqui em Manaus não é diferente, em todo o estado, na Assembleia; eles não querem fazer as coisas direito, não dão exemplo”, frisou Davi.

Para João, esses casos e atitudes semelhantes às de Joana acontecem de modo geral em relação aos políticos. “Não querem trabalhar. Em Brasília mesmo, temos muitos desses que vivem somente viajando, passeando, mas trabalhar, mesmo, nada. Com o trabalhador comum é diferente, já que grande parte precisa trabalhar de domingo a domingo. Penso que é do próprio político essa questão de não trabalhar, não tem nem muito o que opinar, mas é triste realmente essa situação”, frisou o agente de segurança.

Fama

Outros cidadãos veem os casos polêmicos como forma de ganhar espaço na mídia. É o caso do vendedor Kevem Cardoso, de 22 anos, que, ao ser questionado, afirmou que Darc passa a imagem de uma pessoa “autoritária, que quer sair por cima dos outros e quer destaque”.

“Eu a vejo como uma pessoa assim: ‘Ah, vou fazer isso, porque quero ficar bem na mídia’, mas por trás ninguém sabe o que ela está fazendo de verdade. Então, isso é uma falta de comprometimento com o trabalho dela, principalmente, porque ela está manchando o trabalho dela e não só o dela, mas de todos os outros parlamentares”, pontuou.

Qualidade dos representantes

Em uma matéria do Portal AM1, publicada em junho deste ano, o cientista político, antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, disse que a qualidade dos representantes do povo amazonense em todas as esferas do Parlamento é péssima.

Para ele, há exceções, mas Manaus, o Amazonas e o Brasil estão “muito mal representados”.

O sociólogo, analista político e advogado Carlos Santiago falou à reportagem sobre os representantes do povo da cidade de Manaus e do estado, enfatizando que a qualidade dos políticos reflete a vontade do eleitorado e, consequentemente, também a vontade e a qualidade desses eleitores.

“A qualidade da maioria dos representantes no Parlamento Estadual Municipal está muito aquém do que determina a Constituição Estadual, que é de fiscalizar os atos da Administração Pública, fiscalizar os bons investimentos e gastos do dinheiro público e propor leis de qualidade, que beneficiem a maioria da população. Mas essa qualidade duvidosa da maioria que está nos Parlamentos reflete a vontade do eleitorado, reflete também a qualidade do eleitorado e fica até difícil na hora do questionamento”, lembrou.

Carlos disse, ainda, que o caminho para a resolução da questão é somente um: a melhora da qualidade da escolha do eleitorado para que o estado e o município tenham bons legisladores e, de fato, a maioria seja representante dos anseios da coletividade.

Justificativas

No último dia 13, durante a mesma semana da polêmica por conta da presença no evento luxuoso de Wesley Safadão, Joana fez uma publicação em suas redes sociais em que apresentou algumas justificativas sobre a viagem.

A deputada disse que, antes de viajar, deixou tudo organizado. Inclusive, teria deixado as emendas feitas à LDO e havia solicitado o desconto de faltas. A parlamentar disse, ainda, que três dias não diminuem o seu mandato.