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Cenário

Grandes líderes amazonenses não deixaram dinastia política

A história política do Amazonas é marcada por grandes líderes que deixaram um impacto duradouro, porém, sem sucessores diretos para continuar seus legados.

Grandes líderes amazonenses não deixaram dinastia política

Gilberto Mestrinho, Jefferson Peres e Amazonino deixaram uma legado político grandioso no Amazonas, sem herdeiros políticos - (Fotos: Agência Senado/Assessoria)

Manaus (AM) – A herança política no Amazonas é um fenômeno que permeia a história. Há líderes cujo impacto ecoa além de suas próprias trajetórias, mas que, curiosamente, não deixaram sucessores diretos para dar continuidade ao seu legado político. Figuras como Jefferson Peres e Gilberto Mestrinho se destacam nesse panorama.

Apesar do irmão de Jefferson Peres, Leopoldo Peres, ter sido deputado federal e também senador, além do tio, Leopoldo Peres, deputado federal, a política na família se encerrou com Jefferson Peres.

O político teve três filhos, mas nenhum deles se interessou pela vida pública. Conhecido por sua retidão moral e luta incansável contra a corrupção, Jefferson Peres deixou uma marca indelével na política amazonense. Ele foi vereador de Manaus por dois mandatos e conseguiu um grande feito ao saltar da Câmara Municipal de Manaus (CMM) para o Senado Federal.

Gilberto Mestrinho ainda conseguiu emplacar o filho João Thomé Mestrinho na política. João Thomé foi deputado federal por dois mandatos e chegou a ser suplente de senador, assumindo, inclusive, a vaga do pai, após um afastamento de quatro meses para tratamento de saúde. Entretanto, a dinastia familiar não seguiu.

Mestrinho começou sua carreira política em 1956, como prefeito de Manaus, foi deputado federal e governou o Amazonas por três mandatos: de 1959 a 1963, de 1983 a 1987 e de 1991 a 1995, e foi senador entre 1999 e 2007. Apesar de não deixar uma linhagem biológica na política amazonense, Gilberto Mestrinho deixou vários “filhos adotivos”. O ex-senador foi mentor de grandes nomes como Amazonino Mendes.

Jefferson Peres foi de vereador a senador e deixou um grande legado na política amazonense – (Foto: Divulgação/Agência Senado)

Com a morte de Mestrinho, o bastão de político de influência e poder no Estado passou para Amazonino Mendes. Ele colocou em prática o que aprendeu na “escola política” de Mestrinho, exercendo, por quatro vezes, o posto de governador do Amazonas, três como prefeito de Manaus e um como senador.

Dando continuidade ao legado do mestre, arrebanhou nomes que fazem parte da política no cenário nacional até os dias atuais: Eduardo Braga (MDB), Omar Aziz (PSD), Alfredo Nascimento (PL) e Arthur Virgílio Neto (sem partido).

No entanto, no campo familiar, Amazonino não deixou sucessores. Há algum tempo, chegou até se cogitar o nome do filho dele, o empresário Armando Mendes, para entrar na vida pública, porém não vingou. Este ano, a sobrinha do ex-governador, Mônica Mendes, lançou a pré-candidatura para vereadora, o que pode continuar o legado de Amazonino.

Remanescentes da escola política de Amazonino, Omar Aziz e Eduardo Braga, até então, não tiveram nenhum filho disposto a entrar na política para seguir os passos dos pais, apesar de as esposas de ambos terem envolvimento na política.

A esposa do senador Omar Aziz, Nejmi Aziz, já foi deputada estadual. Já Sandra Braga foi eleita nas eleições de 2010 como primeira suplente do marido ao Senado Federal. Em 2015, assumiu a vaga de senadora, uma vez que Braga foi anunciado como ministro de Minas e Energia no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT).

Gilberto Mestrinho, apesar de não deixar dinastia familiar, deixou vários “filhos” na política – (Foto: Divulgação/Agência Senado)

De acordo com o sociólogo Antônio Luiz, desde os primórdios da colonização, o Amazonas tem sido palco de disputas políticas acirradas, muitas das quais foram moldadas por interesses familiares e econômicos. Famílias tradicionais exerceram um domínio significativo sobre a política local, consolidando suas posições e influência ao longo do tempo.

Por outro lado, a dinastia segue

Em sua avaliação de dinastia política, Antônio Luiz dá como exemplo a família “Pinheiro”, que já perpetua por mais de 20 anos. Adail Pinheiro (Republicanos) começou o reinado na terra do gás sendo eleito prefeito. O mandato foi marcado por escândalos, incluindo denúncias por exploração sexual de menores.

Ele foi preso em 2014, porém, usando a influência, conseguiu eleger os filhos: Adail Filho (Republicanos), também para prefeito e depois como deputado federal; Mayara Pinheiro, também eleita pelo Republicanos, como deputada estadual; o sobrinho, Keitton Pinheiro (UB), como vereador e depois como prefeito da cidade, cargo que ocupa atualmente. Neste ano, Adail Pinheiro pretende voltar ao posto de prefeito se colocando como pré-candidato pelo Republicanos.

O sociólogo também pontua a família Lins, que tem influência na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) com o mandato do deputado estadual George Lins (UB), “herdado” do pai Belarmino Lins, que se aposentou da vida pública.

Outro personagem importante da família é o deputado federal Átila Lins (PSD). Em seguida, temos Fausto Jr. (UB), filho da presidente do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE), Yara Lins, que foi eleito também deputado federal, mas no momento ocupa um cargo de confiança no governo de Wilson Lima (UB). Além disso, a família também conseguiu emplacar uma vereadora em Manaus, Yomara Lins (Podemos).

O que explica a descontinuação da herança política?

Amazonino Mendes, assim como Mestrinho, também foi mentor de vários nomes da política amazonense – (Foto: Divulgação)

Segundo o sociólogo, no caso dos líderes que não deixaram essa dinastia, existem alguns fatores que podem explicar a descontinuidade do legado político aos seus descendentes.

“Alguns fatores são carisma e competência individual. Líderes como Jefferson Peres e Gilberto Mestrinho se destacaram por suas habilidades políticas e carismáticas únicas, que nem sempre são replicadas por seus familiares. Outra questão são as escolhas pessoais; alguns descendentes podem optar por seguir caminhos diferentes dos de seus antecessores, seja por falta de interesse na política ou por outras motivações pessoais”, explica.”

O cientista político Helso Ribeiro observa que, inevitavelmente, o tempo exerce seu efeito sobre todos, e isso se reflete na dinâmica da política. Nomes que antes dominavam a cena política regional, gradualmente, perdem seu apelo.

“Eu diria que Gilberto Mestrinho foi uma grande liderança. Talvez a liderança mais longeva, porque Gilberto Mestrinho vem da década de 50, 70. A vida útil de um político é difícil passar de 20, 30 anos, porém, Gilberto Mestrinho ultrapassou isso. Entretanto, apesar de ter conseguido eleger o filho, com o tempo, Gilberto Mestrinho foi perdendo espaço na política. Acredito que seu filho mais novo também tenha tentado se eleger, mas sem sucesso. O tempo passa para todo mundo, a fila anda. E tem um momento que esse nome já não tem mais aquele apelo. Isso é um fato”, diz.

O especialista pontua que, apesar de não deixarem uma dinastia política familiar, líderes como Jefferson Peres, Gilberto Mestrinho e Amazonino Mendes exerceram uma influência significativa na política amazonense.

Seus legados perduram por meio das políticas que implementaram, das instituições que fortaleceram e dos líderes que influenciaram, deixando viva uma herança política que transcende a linhagem sanguínea.

 

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