Manaus, 17 de maio de 2024
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Cenário

Políticos nascidos fora do AM ganham espaço como nunca: ‘característica da política do estado’

A representatividade política amazonense fica a cargo de políticos vindos de outros estados do país

Políticos nascidos fora do AM ganham espaço como nunca: ‘característica da política do estado’

Foto: Reprodução

MANAUS, AM – Ter voz para representar a sociedade, apresentar propostas para a melhoria da população e, além disso, conhecer os reais problemas da cidade e do povo: esses são os pontos-chave que eleitores buscam na hora do voto. Porém, políticos de outras cidades do Brasil embarcam para o Amazonas na busca de conquistar votos e garantir uma vaga no cenário político do Estado – o que acaba dificultando a representatividade ‘nativa’, ou seja, o voto do eleitor amazonense em políticos amazonenses. Desde o governador Wilson Lima, nascido no Pará, aos vereadores, temos políticos nascidos em todas as regiões do Brasil.

Foto: reprodução

Um exemplo claro disso foram as eleições de 2020, em que os vereadores mais votados, em Manaus, eram de outros estados ou de outros municípios do Amazonas. Foram 13.880 eleitores que garantiram o lugar do vereador João Carlos, natural do Rio de Janeiro, na Câmara Municipal de Manaus (CMM), o tornando o vereador mais votado das eleições.

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Entre os cinco primeiros vereadores mais votados, apenas Joelson Santos representava Manaus na disputa dos cargos públicos, com 12.493 votos. Nas outras posições, aparecem a vereadora Professora Jacqueline (9.208 votos), natural do Ceará; Capitão Carpê (8.538 votos), de Eirunepé, interior do Amazonas; e Amom Mandel (7.537 votos), de Recife (PE).

Os cinco últimos vereadores eleitos com menor quantidade de votos, além de concorrerem com pessoas que não são de Manaus, ainda precisam disputar as últimas cadeiras com “forasteiros”. Os vereadores Peixoto, Elan Alencar e Bessa, todos nascidos em Manaus, enfrentaram os vereadores William Alemão, de Santa Catarina, e Sassá, do Ceará. Vale destacar que os dois políticos de fora ainda ficaram acima dos parlamentares com naturalidade manauara.

Quase metade das cadeiras da CMM são ocupadas por políticos de fora, que, apesar de morarem em Manaus por anos, podem indicar que os manauaras andam avessos à política.

A vereadora Glória Carratte foi nomeada como 1ª secretária da Mesa Diretora. Natural de Rondônia, a parlamentar ocupa a cadeira na CMM desde o ano de 2001, exercendo o sexto mandato. Outro membro da Mesa é o vereador Jaildo Oliveira, de Mossoró (RN), tendo cadeira na Câmara desde 2008, quando obteve mais de sete mil votos para entrar na Casa Legislativa. Além disso, o vereador Amom Mandel também é um dos integrantes da bancada, no cargo de ouvidor.

Confira a lista completa:

Estrangeiros na Aleam

Apesar do alto número de vereadores de fora que foram eleitos, na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), esse número diminui. De 24 deputados estaduais que ocupam as cadeiras, apenas cinco parlamentares não são naturais do Amazonas.

O mais votado entre os políticos de outros estados foi o deputado João Luiz, natural do Rio de Janeiro (RJ). Ele foi eleito com mais de 25 mil votos e foi o 13º deputado que mais recebeu votos dos eleitores amazonenses nas eleições de 2018.

Em seguida, no ranking de parlamentares de fora com mais votos, está o deputado Sinésio Campos, natural de Belém (PA). Ele conquistou o lugar na Aleam após ser eleito com mais de 22 mil votos pelos eleitores amazonenses.

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Os outros três políticos que são de fora do Amazonas são os deputados Abdala Fraxe, de Boa Vista (RR), Dr. Gomes, de Cruzeiro do Sul (AC) e a ex-primeira dama do Amazonas, Nejmi Aziz, natural de Foz do Iguaçu (PR).

A somatória dos votos dos cinco políticos ultrapassa a casa de 88 mil e barra os votos do parlamentar mais votado em todo o Amazonas, a deputada Mayara Pinheiro, que recebeu 50.819 votos nas eleições. O total de votos do deputado Abdala Fraxe não foi incluso na soma.

Confira a lista completa:

Câmara equilibrada

Já na Câmara dos Deputados, os políticos de fora do Amazonas são apenas três, levando em consideração que o Estado elege oito parlamentares. Sem aliança entre os partidos, os deputados federais buscam dar voz ao Amazonas em Brasília, com os colegas amazonenses.

O deputado federal “de fora” que mais recebeu voto, foi José Ricardo, com 197.270 confirmações. Conhecido como “Zé da Kombi” por promover manifestações e prestação de contas de seu mandato em cima do veículo, o petista é natural de Montenegro (RS) e conseguiu ser eleito fora do seu Estado de origem.

Em segundo lugar, o deputado Silas Câmara, natural de Rio Branco (AC), conquistou uma cadeira na Câmara por meio dos 117.181 votos de eleitores amazonenses. Por fim, o político que busca espaço no cenário amazonense, o deputado Capitão Alberto Neto, de Fortaleza (CE), foi eleito com mais de 107 mil votos.

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Vale ressaltar que os deputados José Ricardo e Alberto Neto disputaram as eleições para o cargo de prefeito de Manaus no ano de 2020. Ambos não conseguiram chegar ao segundo turno, porém, o deputado José Ricardo ficou em terceiro lugar, com mais de 139 mil votos, e o Capitão Alberto Neto terminou as eleições em sexto lugar, com mais de 76 mil votos.

Confira a lista completa:

Amazonas ‘derrotado’ no Senado

O cenário não é diferente no Senado Federal. Candidatos amazonenses acabam sendo derrotados pela experiência e visibilidade de políticos antigos que conquistaram espaço no Amazonas. Apesar disso, a figurinha acaba sendo repetida entre os veteranos da política.

Entre os três senados que compõem a bancada do Amazonas no Senado, dois deles não são amazonenses. O senador Eduardo Braga, natural de Belém (PA), teve mais de 600 mil votos para ocupar a cadeira em Brasília. Isso porque a forte campanha do político ocorre há anos no Estado.

Braga já ocupou os cargos de vereador, deputado estadual e federal, vice-prefeito e prefeito de Manaus, administração que assumiu após a renúncia de Amazonino Mendes. Além disso, o parlamentar teve dois mandatos como governador até chegar ao Senado, e assumiu o Ministério das Minas e Energia, em 2014, no mandato da presidente Dilma Rousseff.

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Com uma votação surpreendente com mais de 933 mil votos válidos, o senador Omar Aziz teve o cargo de senador conquistado nas eleições de 2014, com mandato até 2022. Natural de Garça (SP), antes de integrar a bancada no Senado, ocupou os cargos de vereador, deputado estadual e governador do Amazonas.

O único amazonense na bancada é o senador Plínio Valério, nascido em Eirunepé (AM). Diferentes dos outros dois senadores, Plínio iniciou a carreira política em 2013 como vereador de Manaus. Conquistou o passaporte para o Senado em primeiro lugar nas eleições de 2018, com 834.809 votos.

Confira a lista completa:

Eleitorado amazonense

Para o cientista político Carlos Santiago, eleger políticos de fora é característica do povo amazonense, uma vez que o Amazonas é conhecido como um Estado acolhedor. Ele ainda destacou que não é fácil conquistar o eleitor do Amazonas, mas afirmou que a presença de pessoas de fora nas eleições é uma característica política.

“O Amazonas e a cidade Manaus já nasceram recebendo milhares de pessoas de outros lugares. O ciclo da Borracha e a Zona Franca de Manaus ajudaram o povoamento da região. Então, é característica da política do Estado a presença de pessoas nascidas em outros lugares, assim como em outras atividades”, explicou.

Porém, a “culpa” dos parlamentares eleitos que não são do Amazonas é da própria população, que não se interessa e não debate sobre política. O cientista político explica que esse problema acaba afetando na qualidade da política do Estado. “O problema do descrédito com a classe política é geral, nacional e mundial. A superação disso passa pelo voto consciente do eleitor. Sem isso, nada vai melhorar na política”, disse.

A participação da sociedade é importante para definir o futuro da cidade, Estado e país. No entanto, a falta de interesse coletivo acaba dificultando o progresso e, além disso, acabam deixando de lado assuntos que precisam ser debatidos por conta de ideologias, religião ou até mesmo desavenças.

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“O Amazonas já teve vários governadores e prefeitos com boas gestões vindos de outros estados e, também, inúmeros políticos e gestores ruins do próprio estado”, explicou.

Santiago ainda afirmou que a política, tanto no Amazonas, quanto no Brasil, só vai mudar caso mais pessoas se interessem e participem. Uma alternativa para suprir essa escassez de representatividade é a participação dos jovens e ativistas sociais, que a cada dia vêm se empenhando mais para debater sobre assuntos para melhoria dos brasileiros.

“Os jovens e ativistas sociais precisam participar da vida partidária e das eleições, independentemente de ideologias ou de classe social. A política só irá mudar com mais gente participando dela. Quando o jovem não participa das eleições, outros irão decidir por ele. A política é o melhor caminho pra mudar para melhor a cidade e o país”, pontuou.

*Os dados sobre a naturalidade dos parlamentares foram retirados dos sites da Câmara Municipal de Manaus, Assembleia Legislativa do Amazonas, Câmara dos Deputados e Agência Senado.

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